O arguido no processo judicial que envolve os dois ex dirigentes do Chega de Oliveira do Hospital quebrou hoje o silêncio, para negar os factos de que é acusado pelo Ministério Público e que remontam ao dia 19 de março de 2023, e acusar António José Cardoso de criar “uma narrativa” para se vingar dele. A versão não registou qualquer credibilidade junto do Ministério Público (MP), tendo a Procuradora pedido a condenação do arguido pelos crimes de que é acusado.

Não é verdade”, afirmou esta tarde João Rogério Silva que, apresentando a sua versão dos factos disse que, na manhã daquele dia, saiu primeiro de carrinha em direção a casa do sogro de António Cardoso para o confrontar a ele e à sua família com as mensagens ofensivas que teria recebido do ofendido, situação que não se veio a verificar por ter sido dissuadido por um vizinho daquele, Agostinho Caseiro, que é testemunha no processo. Contou que, naquela manhã, estava “muito chateado”, mas que “não estava nervoso” e, depois de regressar a casa e de ter tomado o pequeno almoço, foi dar a sua caminhada que, segundo disse, lhe faz bem quando percebe que tem os diabetes alterados. Ao juiz disse que não tem “precisão de usar facas de rambo” e que é “um homem de pontes”.

Questionado pela Procuradora do Ministério Público, Rogério contou que decidiu ir a casa do sogro de Cardoso para “falar com as pessoas e confrontá-las”. Garantiu que não foi munido com uma mangueira e uma faca de rambo, contrariando a versão de Caseiro de que terá visto uma mangueira no interior da viatura de Rogério e ao qual terá dito “hoje é ele ou eu”.

Do mesmo modo, o arguido foi contra a versão de Luís Freire que , segundo a Procuradora, terá dito em tribunal que Rogério lhe tinha ligado “aflito” e lhe disse que “tinha feito asneira” e que, mais tarde no café lhe confessou que “estava arrependido”. Hoje, Rogério acusou Freire de o perseguir, referindo mesmo em tribunal que “o Sr. Luís Freire é um bufo, é um chibo, é um charlatão, nunca me dei bem com ele”.

Para a Procuradora do Ministério Público a versão, hoje, apresentada por João Rogério “não colhe qualquer tipo de provimento e credibilidade”. Condenou a atuação do arguido, defendendo que “não é olho por olho, dente por dente que a situação deve ser resolvida”. Para a responsável, Rogério tinha “intenção previa de fazer aquilo que foi efetuado”, pelo que “dúvidas não podem restar do que objetivamente aconteceu”.

Diante de um depoimento [de João Rogério] que “extravasa todo o ódio e raiva”, a advogada de Cardoso disse, hoje, não ter dúvida “nenhuma” de que o arguido “premeditou este ato”. “Até avisou o Sr. Cardoso de que algo se ia passar”, afirmou Isabel Gandarez, reportando-se à mensagem enviada por Rogério a Cardoso a dizer “se és homem, marca a hora e o local”. Na hora das alegações finais, Gandarez considerou que o tribunal não está diante de “uma mera ameaça daquelas de que os tribunais estão cheios”. “Aqui havia o objetivo de atentar de forma grave contra a vida de António José Cardoso e eventualmente matá-lo. A conduta deste senhor é muito grave”, afirmou Gandarez, garantindo que “não há dúvidas de que isso se passou e passou-se naquele momento”. Não deixou de desapreciar o testemunho de José Carlos Alexandrino em tribunal, que “não pode merecer qualquer credibilidade”, concordando com a Procuradora que disse que o mesmo “deixou claro a animosidade com Cardoso”. Solicitou ao juiz a condenação do arguido pela prática dos crimes de que vem acusado, com pena suspensa na sua execução, e com o pagamento de indemnização quer ao arguido, quer à empresa proprietária da viatura que era conduzida por Cardoso.

Do lado da defesa, Rui Monteiro pediu em tribunal a absolvição de João Rogério Silva, defendendo a “apreciação crítica da prova” e rejeitando as “insinuações” por parte da acusação de “manobras e requerimentos dilatórios”. Monteiro referia-se à insistência da defesa na questão da hora em que o auto de notícia foi efetuado pela GNR de Oliveira do Hospital, e que foi desvalorizada em tribunal. Frisou que no caso que está a ser julgado no tribunal “não há prova direta”, porque “ninguém viu a praticar os factos”. Quanto às mensagens enviadas por Rogério, o advogado alerta que “são resposta a algo”. “E as outras [mensagens] onde é que elas andam?”, questionou.

Para a defesa “há que verificar tudo” e até perceber porque é que as testemunhas de Luís Freire e Armindo Fonseca [este último disse ter estado com Cardoso à porta da GNR depois da alegada agressão], só foram indicadas em Dezembro, “mais de seis meses depois”. E se Rogério “abalroou” o carro de Cardoso [versão de Cardoso que foi corroborado por Agostinho Caseiro], Monteiro pergunta onde estão os danos na carrinha do arguido. “Como é que se abalroa um carro e não há danos?”, insistiu o advogado da defesa, que também questionou a capacidade do ofendido que durante a suposta agressão “conseguiu perceber todas as características da mangueira” que relatou em tribunal.

Para Monteiro, Cardoso “criou uma narrativa” com o objetivo de desacreditar publica e politicamente o arguido e prejudicá-lo na sequência de não ter sido aceite pela distrital do CHEGA como coordenador concelhio, que na ocasião optou por nomear João Rogério para o cargo. “Houve despeito, ressentimento e mágoa. Há quem consiga gerir esses sentimentos ou não”, considerou o advogado.

A sessão destinada às alegações finais terminou com João Rogério a dizer ao juiz que “acredita na justiça”. A leitura da sentença ficou marcada para as 10h00 do próximo dia 9 de setembro, já depois das férias judiciais.