
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) volta a mergulhar num cenário de caos absoluto, com casos dramáticos a expor, cruamente, a falência de uma resposta que devia ser célere e eficaz. Em menos de uma semana, duas mulheres perderam os bebés que carregavam e um homem em estado grave esperou mais de cinco horas por transferência hospitalar, sem helicóptero disponível. A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, continua a recusar qualquer responsabilidade política.
A mais recente tragédia ocorreu no domingo, 6 de julho, na Covilhã. Um homem de 49 anos, vítima de um grave traumatismo craniano após um acidente de trotinete, aguardou durante mais de cinco horas para ser transferido para o Hospital de Coimbra. O caso aconteceu na vila do Paul, e os bombeiros foram rápidos a chegar, levando a vítima para o Hospital da Covilhã. Contudo, o diagnóstico clínico exigia uma transferência urgente para a neurocirurgia em Coimbra — que acabou por ser adiada durante horas por falta de helicóptero do INEM.
Segundo a SIC Notícias, o país dispõe atualmente de apenas um helicóptero de socorro em operação, quando a média de resposta aérea nestes casos não ultrapassaria, em condições normais, uma hora e meia. A inoperacionalidade do sistema de emergência médica aérea agravou o quadro clínico do paciente e lançou mais dúvidas sobre a capacidade de resposta dos meios de socorro.
Este não é um episódio isolado. A semana ficou ainda marcada por dois casos de grávidas que perderam os seus bebés, após peregrinações por diferentes hospitais com urgências obstétricas encerradas. Os casos tornaram-se públicos e geraram forte indignação social, denunciando um padrão de desorganização e falência sistémica na rede hospitalar, agravada pela escassez de profissionais e encerramentos sucessivos de serviços essenciais.
Apesar da crescente pressão política e social, a ministra da Saúde descartou qualquer cenário de demissão, defendendo que “há problemas estruturais em resolução”. No entanto, para muitos profissionais e utentes, o tempo da espera já passou — o que está em causa, dizem, é a vida e a dignidade dos doentes que, nas emergências reais, não podem esperar.
O colapso do INEM e o encerramento de urgências não são fenómenos recentes, mas os acontecimentos dos últimos dias elevaram o tom da revolta pública. Com os serviços em rutura e os cidadãos a pagarem com a própria vida ou com perdas irreparáveis, o sistema nacional de saúde está à beira de um ponto de não retorno.