No próximo dia 7 de junho, pelas 18h00, a imponente Sé de Évora será palco de um momento de singular importância no panorama da música sacra e do património organístico nacional: a inauguração do órgão positivo construído em 1756 por Pascoal Caetano Oldovino, integrada no 12.º concerto do Ciclo 2024-2025 do Festival Internacional de Órgão de Évora (FIOE).

Este órgão, até há pouco tempo instalado na igreja paroquial de São Miguel de Machede, ressurgiu graças ao empenho do Cabido da Sé de Évora, que patrocinou a sua recuperação. A origem do instrumento é ainda incerta, mas a sua construção, notavelmente composta por tubos com características renascentistas, aproxima-o da tipologia do órgão monumental da Sé de Évora, obra de Heitor Lobo (1562). A semelhança entre ambos confere ao órgão Oldovino um carácter único em Portugal, agora restaurado e reintegrado no espaço litúrgico e musical da Sé.

A estreia deste instrumento será protagonizada por dois grandes nomes da música antiga: o organista neerlandês Pieter van Dijk, que interpretará obras flamengas do século XVII, e o português João Vaz, que apresentará repertório italiano e ibérico dos séculos XVI e XVII. O concerto culminará com a interpretação conjunta de uma “Sonata a dois órgãos”, da autoria de Giovanni Bernardo Zuchinetti (1730-1891), assinalando simbolicamente o regresso da polifonia organística a dois instrumentos à Sé de Évora, evocando a prática corrente no século XVI, antes da destruição de um dos órgãos no século XX.

Programa do concerto:
Anthoni van Noordt – Fantasia in d

Antonio de Cabezón – Pavana con su glosa

Jan Pieterszoon Sweelinck – Ricercar noni toni

Manuel Rodrigues Coelho – Tento de 4.º tom

Frei Diogo da Conceição – Meio registo de 2.º tom

Abraham van den Kerckhoven – Fantasia in d

Girolamo Frescobaldi – Canzona dopo l’Epistola e Partite sopra la Monica

Frei Domingos de São José – Obra de 5.º tom

Giovanni Bernardo Zuchinetti – Sonata a due organi

Este concerto insere-se num ciclo alargado de 15 concertos, que decorre entre novembro de 2024 e julho de 2025, nas igrejas da Sé, São Francisco e Espírito Santo. Com entrada livre em todos os espetáculos, o FIOE pretende democratizar o acesso à música erudita, valorizando o vasto património organístico da cidade de Évora, restaurado ao longo dos últimos anos.

Sob a direção artística do organista e investigador Rafael dos Reis, o Festival tem vindo a afirmar-se como um referente nacional e internacional, reunindo intérpretes consagrados e novos talentos em concertos a solo e em conjunto com formações vocais e instrumentais.

Paralelamente aos concertos, o FIOE promove ainda conferências, workshops, visitas guiadas e publicações, contribuindo para a valorização e difusão da música sacra e erudita a sul do Tejo.

Este ciclo marca, assim, um novo capítulo na vida cultural e musical de Évora, colocando a cidade no centro da programação organística europeia e reforçando o seu papel na salvaguarda e revitalização de um legado histórico ímpar.