Peritos que acompanham a implementação do Plano de Emergência e Transformação da Saúde (PETS) afirmam que não é possível avaliar o impacto da medida de consulta do dia seguinte nos Cuidados de Saúde Primários devido à ausência de dados suficientes.

Num relatório datado de 31 de março e a que a agência Lusa teve acesso, o grupo de especialistas sublinha que a análise comparativa dessa medida é impossível sem o conhecimento dos números totais de urgências hospitalares e de contactos com a Linha SNS24.

A consulta do dia seguinte, uma medida que visa tratar situações agudas de menor complexidade, integra o Eixo 3 do PETS, destinado aos Cuidados Urgentes e Emergentes.

No entanto, os peritos alertam que a única informação disponível é o número de agendamentos realizados através da linha “Ligue antes, Salve Vidas”, uma iniciativa do SNS24 para evitar a sobrecarga nas urgências hospitalares, mesmo assim, esses dados não são suficientes para avaliar a eficácia da medida.

No relatório de março, os peritos lamentam que, apesar de já terem apontado “várias incongruências” nos dados no relatório anterior (de dezembro de 2024), não receberam respostas a várias questões, nomeadamente sobre a inconsistência nos números relativos aos encaminhamentos da Linha SNS24 para urgências e cuidados primários.

Em dezembro, o grupo de trabalho havia questionado a discrepância entre os dados fornecidos e a realidade observada, por exemplo, os peritos alertaram para a contradição de que o SNS24 fosse responsável por 549.805 encaminhamentos para urgências, sendo que cerca de 48% desses contactos são direcionados para o Serviço de Urgência, mas apenas 90% destes acabam por ser efetivados.

Além disso, o grupo de especialistas também levantou questões sobre os dados relativos ao número de episódios de urgência e os casos encaminhados para os Cuidados de Saúde Primários, uma vez que as informações sobre a triagem e avaliação médica não eram disponibilizadas.

Embora o relatório de março reconheça uma “evolução positiva” em relação ao que foi reportado anteriormente, os peritos recomendam o desenvolvimento de novos indicadores que permitam uma avaliação mais precisa da eficácia e do impacto da consulta do dia seguinte nos Cuidados de Saúde Primários.

No que diz respeito a outras medidas do PETS, como a libertação de camas indevidamente ocupadas nos hospitais, o grupo de trabalho também destaca a necessidade de novos indicadores para medir o impacto dessa ação.

Embora se reconheça que foram contratualizadas 1.611 camas, o que representa uma melhoria em relação aos 538 camas indicadas no primeiro relatório, os peritos sugerem que uma análise mais detalhada é necessária para avaliar a eficácia dessa medida em toda a rede hospitalar.

No campo das medidas prioritárias, o grupo de especialistas também lamenta a falta de dados detalhados sobre os programas de vacinação contra o Vírus da Gripe e o Vírus Sincicial Respiratório.

O relatório aponta que, apesar de terem recebido o número total de vacinações, seria fundamental ter acesso à taxa de vacinação, ou seja, ao número de pessoas que realmente receberam as vacinas recomendadas, a monitorização da evolução da vacinação em relação aos anos anteriores também é vista como essencial para uma análise completa da eficácia desta medida de saúde pública.

O grupo de trabalho conclui que, sem dados completos e precisos, as avaliações sobre o impacto das medidas do PETS não podem ser feitas de forma rigorosa, comprometendo a tomada de decisões estratégicas para a melhoria do sistema de saúde.