
Profissionais alertam para escassez crítica de recursos humanos e materiais, colocando em risco a segurança dos doentes e a própria integridade física e mental dos enfermeiros.
A crise na Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve agravou-se nas últimas semanas, com os enfermeiros a denunciarem publicamente a sobrecarga extrema de trabalho e a responsabilizarem diretamente a Administração pela situação insustentável que se vive nos serviços. Estima-se que faltem cerca de 1500 enfermeiros na região, segundo o Regulamento das Dotações Seguras da Ordem dos Enfermeiros.
As consequências da escassez refletem-se diariamente nas unidades de saúde: turnos prolongados sem descanso, serviços com metade do pessoal necessário e rátios alarmantes, como cinco enfermeiros para 40 doentes, a maioria com elevado grau de dependência. “A minha saúde é que se ressente”, desabafa uma profissional, que diz ter sido forçada a seguir dois turnos consecutivos.
Enquanto a média da OCDE aponta para 9 enfermeiros por 1000 habitantes, Portugal tem 7,9, mas a ULS Algarve apresenta apenas 4,8, valor que revela uma fragilidade estrutural que compromete a qualidade e segurança dos cuidados prestados. A situação agrava-se ainda mais nos turnos da tarde e da noite, onde os rácios são “ainda mais preocupantes”.
Além da falta de pessoal, os profissionais denunciam também a escassez de materiais essenciais, o incumprimento de folgas acumuladas e promessas não cumpridas, criando um clima de desmotivação e exaustão generalizada. Muitos enfermeiros ponderam pedir escusa de responsabilidade, passando a responsabilização pela degradação dos serviços para a Administração e o Ministério da Saúde.
A ausência de diálogo é outro ponto crítico: apesar dos reiterados pedidos de reunião, o Presidente do Conselho de Administração da ULS ainda não agendou qualquer encontro com os representantes dos enfermeiros. A situação é agravada por um processo de recrutamento burocrático, que exclui candidaturas espontâneas e afasta jovens recém-licenciados que poderiam reforçar os quadros já este verão.
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) exige medidas urgentes e alerta: se não forem contratados profissionais em número suficiente para as necessidades da população e dos turistas nesta época alta, a única alternativa será o encerramento de camas hospitalares.