
O legado de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República fica marcado pela mudança de estilo, pela popularidade, mas também pelas dissoluções da Assembleia da República.
O legado ficou marcado pela forma próxima como foi estando e estabelecendo uma relação com o povo, mas, ao mesmo tempo, pela banalização com que acabou por tornar a imagem e função do Presidente da República.
Se Marcelo foi gozando de uma elevada popularidade, o mesmo foi perdendo essa confiança pela forma como foi exercendo a sua função, em que muitas vezes se confundia com a de um comentador e pela incapacidade de gerir crises, principalmente as duas últimas que levaram o país para novas eleições.
Os desafios que se colocam ao seu sucessor são muitos e complexos.
Quem vier a seguir terá de ter uma grande capacidade de construir pontes, de dialogar e ter uma maior capacidade para exercer a sua magistratura de influência, algo que com Marcelo Rebelo de Sousa se foi perdendo.
Outro ponto fundamental é a mudança de postura e forma de estar.
O sucessor terá de ter a capacidade de criar um distanciamento com o Governo, sem que isso implique uma relação saudável a nível institucional.
Esse foi um dos pontos em que o atual Presidente falhou, principalmente no relacionamento com o Governo de António Costa.
O resultado das próximas legislativas será também predominante para o mandato de quem vier a suceder a Marcelo no cargo.
Num parlamento cada vez mais fragmentado, o próximo Presidente terá de ter uma grande capacidade de construção de diálogo para que os partidos, principalmente os do arco da governação, consigam entendimentos evitando, assim, crises sucessivas e cenários imprevisíveis e inconstantes.
Considero também fundamental que o próximo Presidente da República traga para a discussão temas como o combate à corrupção, a defesa e o combate à elevada abstenção, o que está associado à falta de confiança e de credibilidade da classe política.
A comunicação será também importante para refazer a imagem e o papel do Presidente da República. No mandato do atual Presidente a comunicação foi perdendo capacidade e eficiência fruto da forma como se quis passar uma imagem populista e desajustada ao cargo e ao que o país exigia.
Considero também fundamental que a classe política discuta as portas giratórias entre a comunicação social e a política. Ou seja, que comentadores usem espaços nos diversos órgãos de comunicação para se autopromover. Isso não é benéfico e retira credibilidade à classe política e aos cargos que possam vir a ser desempenhados.
Em suma, o próximo Presidente da República terá de ser um construtor de pontes, ter a capacidade de se distanciar da ação do governo e trazer credibilidade à imagem e função que o mesmo irá desenvolver.
