Renato Ferreira artigos opinião Vale do Sousa TV
Renato Ferreira
Professor do ensino básico e secundário. Poeta e fotógrafo amador nos tempos livres. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela FLUP e Pós-graduado em Supervisão pedagógica e formação de formadores.

Ou de como o panorama litoral gaiense evoluiu ao longo dos últimos 40 a 50 anos.

Nada melhor do que esta época de calor fresco para falar de férias de verão e das minhas primeiras experiências turísticas.

A Aguda da minha infância, nos anos 70 do século passado, era uma aldeia de pescadores com umas humildes casas térreas que alugavam no Verão aos turistas, enquanto dormiam nos anexos das redes e artefactos de pesca. Desse tempo, apenas o quartel dos bombeiros e o farol perduram. A marginal cresceu, bem como as suas habitações, agora de luxo.

Também Lavadores está irreconhecível: a cura do bacalhau, os milheirais e os campos de cultivo cederam o lugar aos apartamentos com vista para o mar, às largas zonas pedonais, velocipédicas, salpicadas de bares, esplanadas e aparelhos de exercício físico. Ficaram as Pedras Amarelas e algum areal a olhar, incrédulos, para leste.

Outras paragens tiveram sortes diferentes: a Granja, quase inalterada na orla costeira, tem uma piscina sobre o mar que, de um ano para o outro teve a brilhante ideia de escorraçar muitos dos seus clientes. As vivendas características do lugar vão resistindo, com mais ou menos recuperação ou degradação, à erosão humana e natural. Praticamente sobre o areal, um dos meus locais de infância, onde um mergulho no mar antecedia o pequeno-almoço, jaz agonizante à espera de salvação.

Mais a sul, já noutra jurisdição, temos Espinho. Transformada numa cortesã cujo custo é superior ao que tem para oferecer. Fruto da falta de visão e da ambição humana, mas também política (perdoem a pequena provocação), não passa de um amontoado de betão costeiro.

Miramar e o Senhor da Pedra – copyright Renato Ferreira

De regresso à terra dos “gaiatos”, falta referir Francelos, outrora tida por praia “bem” (in, como agora se diz) e que definhou até não ser mais do que um areal de passagem, sem atractivos. A norte, Valadares e a Madalena: N A S: nada a assinalar; a sul, Miramar. Não fosse a capela do Senhor da Pedra, conhecida em todo o mundo, e a sua alameda líquida e comercial, também constituiria apenas mais um apeadeiro na linha do norte, sem direito a menção em nota de rodapé.

O Cabedelo e a Afurada, por fim, anexados pela crescente cidade, dão cartas com o Marés Vivas e a moderna marina que nasceu sobre um pobre porto de pescadores. Uma característica permanece, contudo, inalterada, e isto apesar das alterações climáticas: para quem gostar de um bom mergulho em água fresca, continua a ser uma óptima opção. Esqueçam lá Matosinhos, a Póvoa, Esposende ou o Mindelo. Nada bate a margem sul do Douro.