"Quero fazer a 'Peregrinação', quero filmar o Oriente, quero filmar a viagem portuguesa, mas não é a tragédia marítima. A 'Peregrinação' é a diáspora portuguesa toda efabulada com coisas que não aconteceram e coisas que aconteceram, mas é uma ideia do que é Portugal no mundo inteiro e isso é fascinante", disse Botelho em entrevista à agência Lusa, durante a sua passagem por Macau, para participar no festival Rota das Letras.

Este filme, em que espera começar a trabalhar dentro de cerca de um ano, terá a forma de uma viagem.

"Vou fazer uma ligação com o Japão, com a China, com Macau. Vou fazer no mundo inteiro, trago um barco que se possa transportar, que vá mudando consoante os locais onde está. Não será bem uma reprodução histórica mas com as situações possíveis", explicou.

Com este filme o cineasta quer transmitir o que entende como o "encantamento da 'Peregrinação'", uma "ideia de descoberta, de encontro com os outros, que podem ser animais fabulosos ou pessoas diferentes".

Para Botelho, este filme é também uma forma de regressar, ainda que de modo simbólico, ao tema da guerra colonial, que já abordou em "Um Adeus Português" (1985), quando se assinalam os 40 anos das independências.

"A 'Peregrinação' faz isso. E é uma coisa maravilhosa festejarmos 40 anos de países independentes, mesmo que alguns não sejam tão democráticos quanto as pessoas pensam", comentou.

Ainda antes de começar a trabalhar neste filme, João Botelho vai dedicar-se a outro sobre o escritor brasileiro Oswald de Andrade, um dos protagonistas do modernismo no Brasil, para o qual se vai deslocar em breve a esse país.

Terminado está "A arte da luz tem 20 mil anos", um filme sobre as gravuras de Foz Côa, que lhe causaram uma forte impressão. "É maravilhoso, é se calhar a coisa mais importante em termos de arte em Portugal, pôs em causa toda a minha conceção artística. Tem movimento, tem cinema, e foi feito há 20 mil anos. [As gravuras] têm traços tão bons como os do Picasso", elogiou.

ISG // MAG

Lusa/fim