
O minuto de silêncio foi proposto pela bancada parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) e gerou críticas de aproveitamento político por parte da maioria que suporta o Governo (Movimento para a Democracia).
"Este trágico acontecimento faz-nos pensar que o Estado tem de assumir a sua impotência social e económica dessa e de todas as famílias que vivem em situação de extrema pobreza", disse a deputada do PAICV Filomena Martins, na declaração política que fez hoje, no segundo dia da primeira sessão parlamentar de 2020.
Na madrugada do primeiro dia do ano, três crianças morreram na sequência de um incêndio numa casa de tambor na zona de Pedra Rolada, na ilha de São Vicente.
O fogo causou ainda ferimentos a mais duas crianças e dois adultos.
O caso está a gerar indignação no país, por causa das condições da casa, feita de chapas, uma de muitas que ainda existem em São Vicente, a segunda ilha mais populosa.
O Ministério Público cabo-verdiano anunciou na terça-feira a abertura de um inquérito à morte das três crianças, indicando que, até agora, estão em causa factos suscetíveis de integrarem crimes de homicídio negligente.
Na sua intervenção, a deputada do PAICV -- que chegou a ser ministra nas pastas da Educação, Ensino Superior e Valorização dos Recursos Humanos no último Governo do partido, que esteve no poder de 2001 a 2016 -- criticou as opções da atual maioria no que toca à habitação.
"[o Estado] Tem de se responsabilizar pela incapacidade dessas famílias em criar, sozinhas, por si próprias, condições para viverem com os mínimos razoáveis de habitabilidade. O Estado de Cabo Verde tem de lhes valer, tem de os socorrer, mediante a concretização de políticas públicas céleres e que a curto prazo reconfigurem o perfil e o contingente da nossa pobreza e que façam valer em cada dia os ideais da nossa independência", afirmou.
Apontou a necessidade de "melhorar as condições de habitabilidade" em Cabo Verde, tendo "exortado o Governo a acelerar essas medidas", acusando o executivo de "falta de clarividência" nas prioridades do país.
"Pessoalmente, penitencio-me por já ter tido responsabilidades governativas neste país e pelas responsabilidades políticas que ainda tenho. Penitencio-me por não ter contribuído, tanto quanto devia ter contribuído, para a celeridade, para a prioridade dessas políticas públicas para os carenciados", reconheceu Filomena Martins, deputada e antiga ministra do PAICV.
Na segunda-feira, o ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires considerou que a diferença social está a aumentar em toda a parte e também em Cabo Verde e pediu políticas sociais para combater a pobreza e as desigualdades sociais no país.
A vereadora para a Área Social da Câmara Municipal de São Vicente, Lídia Lima, disse, em declarações à Televisão de Cabo Verde (TCV), que a ilha tem cerca de duas mil casas de tambor, onde vivem várias famílias em condições precárias e em risco permanente.
Por isso, a autarca defendeu uma política de habituação social mais eficaz para famílias de baixo rendimento, que envolva não só a autarquia, mas também o Governo, as empresas locais, e todo o Estado de Cabo Verde.
No domingo, centenas de pessoas, vestidas de branco, marcharam pelas ruas do Mindelo em homenagem e memória das crianças, dois rapazes e uma menina, com idades entre 4 e 6 anos.
Segundo a Polícia Nacional (PN) em São Vicente, o incêndio terá sido provocado pela explosão de uma garrafa de gás, quando as três crianças e a mãe de dois dos menores - o outro é um primo -, se encontravam na casa.
PVJ (RIPE) // VM
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