Fontes de várias forças políticas ouvidas pela Lusa confirmaram a realização de "primeiras rondas" de diálogo sobre uma nova maioria parlamentar formada pelos 21 deputados do CNRT, cinco do Partido Democrático (PD) e cinco do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), bem como os três das forças mais pequenas no parlamento, Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente Mudança (um) e União Democrática Timorense (um).

Esta solução deixaria de fora a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), com a maior bancada no parlamento, mas atualmente na oposição, e o Partido Libertação Popular (PLP), que integra a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), coligação eleitoral, que integrava ainda CNRT e Khunto, vencedora das últimas eleições.

Ainda que tenham concorrido em coligação, os três partidos da AMP dividiram-se no início da legislatura em bancadas partidárias diferentes no Parlamento Nacional.

Esta possível nova coligação poderia obrigar o Presidente de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, a recuar na decisão que mantém desde junho de 2018, quando deu posse ao atual executivo, de não nomear mais de uma dezena de membros indigitados do executivo, quase todos do CNRT.

A decisão do Presidente ajudou, desde o início do mandato do Governo, a criar instabilidade política, prejudicou a relação entre os parceiros da AMP (CNRT, PLP e KHUNTO), agravando-se depois do chumbo da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020, com as abstenções e votos contra de deputados do CNRT.

As mesmas fontes acrescentaram que o cenário para resolver o atual impasse foi discutido em várias reuniões entre dirigentes partidários e em encontros que o ex-Presidente José Ramos-Horta manteve nos últimos dias.

Na quarta-feira, Ramos-Horta esteve reunido durante cerca de duas horas com Xanana Gusmão, e na quinta-feira reuniu-se no Palácio do Governo com o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak. Hoje foi recebido por Lu-Olo, confirmaram à Lusa fontes oficiais do CNRT, do Governo e da Presidência da República.

Sem comentar os encontros mantidos, José Ramos-Horta disse à Lusa que tem estado a envidar esforços para resolver a situação política do país.

"Dentro dos meus limites sim, estou a fazer gestões no espírito da nossa reunião do dia 10, mas sem qualquer missão concreta, com propostas concretas", precisou.

Ramos-Horta referia-se à reunião de segunda-feira, promovida por Lu-Olo com os líderes históricos do país e na qual Xanana Gusmão não participou, afirmando dias antes numa entrevista que a solução "mais justa e democrática" seria eleições antecipadas.

Numa entrevista à televisão timorense GMN Xanana Gusmão deixou críticas a Lu-Olo por continuar a recusar empossar membros do CNRT, escolhidos pelo partido para integrarem o Governo.

Questionado sobre a possibilidade de Lu-Olo recuar na questão das não nomeações, Ramos-Horta disse que o Presidente "além de jurista é, acima de tudo, político e o chefe de Estado" e, como tal, "compreende a dimensão política" do problema.

"Sabe que está a enfrentar uma situação de extrema delicadeza e tenho confiança que haverá um ponto de encontro entre o Presidente e o CNRT", disse.

De fora da equação estará o partido liderado por Taur Matan Ruak, o PLP, a mais recente das forças políticas timorenses.

Fonte do Governo disse à Lusa que o chefe do executivo já empacotou grande parte das suas coisas no gabinete do Palácio do Governo.

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