
"É nossa tarefa continuar a trabalhar para que a reconciliação se realize definitivamente. Da Renamo há uma parte que aceita continuar com o diálogo e a outra que não", declarou o antigo chefe de Estado moçambicano, falando à margem de um evento público em Maputo.
Em causa estão os ataques que têm sido registados nas províncias de Manica e Sofala, nos dois dos principais corredores rodoviários do país, a Estrada Nacional 1 (EN1), que liga o Norte ao Sul do país, e a EN6, que liga o porto da cidade da Beira ao Zimbábue e restantes países do interior da África Austral.
Pelo menos 21 pessoas morreram desde agosto como resultado de ataques armados a viaturas nas principais estradas da região e as autoridades têm responsabilizado um grupo de guerrilheiros da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), que são tidos como desertores pelo partido, na medida em que exigem a demissão do atual líder, Ossufo Momade, e renegociação do acordo de paz assinado em agosto.
Para o antigo Presidente moçambicano, é necessário reconhecer os que "ficam de fora" da marcha "para a reconciliação e paz definitiva".
"Todo o povo moçambicano não se deve cansar de trabalhar para que isso aconteça", acrescentou Joaquim Chissano.
As incursões acontecem num reduto da Renamo, onde os guerrilheiros se confrontaram com as forças de defesa e segurança moçambicanas e atingiram alvos civis até ao cessar-fogo de dezembro de 2016.
Oficialmente, o partido afasta-se dos atuais incidentes e diz estar a cumprir as ações de desarmamento que constam do Acordo de Paz e Reconciliação de 06 de agosto deste ano, mas um grupo liderado por Mariano Nhongo (general da Renamo) permanece entrincheirado, reivindicando melhores condições de desmobilização.
Além do centro de Moçambique, as regiões de Cabo Delgado, no norte do país, enfrentam situações de insegurança, com alguns distritos das províncias a serem alvo de ataques armados a viaturas civis, autoridades e aldeias por parte de grupos desconhecidos desde outubro de 2017.
Joaquim Chissano entende que é difícil encontrar a solução para o problema da insegurança em Cabo Delgado, tendo em conta que os grupos ainda não foram identificados.
"A solução é continuarmos na busca até encontrarmos por onde pegar esse assunto para ser resolvido. Caso os que perpetram essas atrocidades sejam moçambicanos, espero que venham à consciência e se forem estrangeiros o mundo pode influir para que haja uma mudança positiva", afirmou o antigo chefe de Estado.
Como resultado dos ataques em Cabo Delgado, pelo menos 300 pessoas morreram e cerca de 60.000 foram afetadas ou obrigadas a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária das Nações Unidas.
Desde junho deste ano, o grupo 'jihadista' Estado Islâmico tem reivindicado alguns dos ataques, mas autoridades e analistas ouvidos pela Lusa têm considerado pouco credível que haja um envolvimento genuíno do grupo terrorista que vá além de algum contacto com elementos no terreno.
Os ataques afetam distritos próximos das áreas de projetos de exploração de gás natural e, em ações concertadas com petrolíferas que ali constroem os maiores megaprojetos de gás natural de África, o Governo tem intensificado a resposta militar com apoio logístico da Rússia, mas os episódios continuam e estão a perturbar as obras na península de Afungi.
EYAC // LFS
Lusa/fim