
Os atos e homenagens estavam marcados para este sábado, dia em que passam dois anos da morte da ativista brasileira, em várias cidades do país, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo.
O Instituto Marielle Franco anunciou em comunicado que, após consultar os especialistas em saúde e para não aumentar o risco de contaminação, decidiu alterar o cronograma do chamado "Dia de Homenagens a Marielle e Anderson" e cancelar todas as atividades que poderiam reunir muitas pessoas.
"É uma notícia que nos entristece a comunicação, pois sabemos a importância de estarmos juntos hoje para manter viva a memória, a luta e o legado de Marielle [Franco]", acrescentou o instituto, que foi fundado e é liderado pelos membros da família da ativista.
Marielle Franco, negra, bissexual, nascida numa favela e defensora de minorias, foi morta a tiro a 14 de março de 2018, tal como o seu motorista, Anderson Gomes, depois de participar num ato de mulheres negras no centro do Rio de Janeiro.
A ativista era socióloga e trabalhava como vereadora na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro após ser eleita pelo Partido Socialista e da Liberdade (PSOL, esquerda).
A ativista trabalhou pelos direitos dos mais necessitados, especialmente mulheres, jovens negros e população Lésbica, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgénero (LGTBI).
Apesar de as autoridades brasileiras terem prendido dois ex-agentes policiais acusados de serem os autores materiais do crime, organizações de direitos humanos pedem que a polícia também prenda os mandantes do crime, ainda desconhecidos.
Segundo a organização Amnistia Internacional, após 24 meses de investigações lentas e pouco transparentes, até agora a polícia brasileira não esclareceu quem ordenou que Marielle Franco fosse morta nem o motivo do crime.
"Neste momento, a desconfiança continua, a falta de informações continua e há uma grande deceção em relação ao trabalho realizado pelas autoridades até agora", disse a diretora executiva no Brasil da Amnistia Internacional, Jurema Werneck.
O trabalho para esclarecer o crime atravessou fronteiras e conta com o apoio de inúmeros países da Europa, Ásia e América.
Segundo o Instituto Marielle Franco, a decisão de cancelar os atos de tributo levou em consideração que a maioria das pessoas que poderiam ser contaminadas pelo coronavírus no Brasil são mulheres, negras, pobres, que vivem em favelas e que precisariam de recorrer um sistema de saúde pública sem capacidade ou recursos.
"Marielle [Franco] passou a vida lutando para defender precisamente os direitos dessas pessoas. Foi pensando nisso que decidimos cancelar os eventos", concluiu o instituto.
O balanço mais recente, divulgado hoje pelas autoridades brasileiras, indica que há 151 casos confirmados de Covid-19 no Brasil.
O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 5.000 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar a doença como pandemia.
O número de infetados ultrapassou as 134 mil pessoas, com casos registados em mais de 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 112 casos confirmados.
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