O escritor e comentador, que serviu como diplomata da China, antes de se naturalizar cidadão australiano, e que é crítico do Partido Comunista Chinês, foi preso por agentes da Segurança do Estado, no ano passado.

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Marise Payne, disse que o seu Governo "se opõe fortemente" à decisão da China de acusar formalmente o romancista de espionagem.

"As crises servem para as nações se unirem. Não é no espírito do respeito e da confiança mútua que a nossa contínua defesa de Yang não seja reconhecida", afirmou Payne, em comunicado.

A Embaixada da China descreveu a declaração de Payne como "deplorável".

"As autoridades chinesas relevantes estão a investigar o caso de acordo com a lei chinesa", afirmou a embaixada, em comunicado. "Pedimos ao lado australiano que respeite a soberania judicial da China e evite interferir no processo legal", apontou

Em Pequim, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang disse que Yang é "suspeito de se envolver em atividades criminosas que colocam em risco a segurança nacional da República Popular da China".

As visitas consulares serão permitidas "depois de a epidemia melhorar", disse Geng.

Payne disse que a China recusou o acesso consular da Austrália a Yang desde 30 de dezembro. A Austrália solicitou então o contacto por telefone ou por escrito, mas foi recusado.

"Este é um tratamento inaceitável para um cidadão australiano", disse Payne.

A saúde precária de Yang torna-o especialmente vulnerável à covid-19. A Austrália pediu que as autoridades chinesas considerem razões humanitárias, disse Payne.

"Lamentamos profundamente que, ao longo de mais de um ano, os nossos pedidos não tenham sido atendidos. Yang não teve acesso a representação legal e foi mantido em condições adversas que prejudicaram a sua saúde física e mental", apontou.

A Austrália pediu a libertação imediata de Yang e que lhe seja dada permissão para deixar a China e viajar para a Austrália com a sua mulher.

"Apelamos repetidamente a que padrões internacionais básicos de justiça e tratamento humano se apliquem", disse Payne.

Alguns analistas apontam que Yang foi detido como retaliação de Pequim por legislação australiana aprovada em 2018 e que proíbe a interferência estrangeira nas políticas e instituições australianas.

A detenção ocorreu também depois de as autoridades chinesas terem detido Michael Kovrig, antigo diplomata do Canadá, e Michael Spavor, empresário que organiza viagens turísticas e eventos desportivos na Coreia do Norte, numa aparente retaliação pela detenção da executiva da Huawei Meng Wanzhou, no Canadá.

Ambos foram acusados também de "ameaçarem a segurança nacional da China".

Yang estava atualmente a residir nos Estados Unidos, com a mulher e a filha, de 14 anos, mas foi detido no aeroporto à chegada à China.

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