
Pedro Chagas Freitas viveu um ano difícil após Benjamim ter sido internado com um problema grave de saúde. Recentemente, o escritor partilhou um desafo em que recordava esse mesmo período.
“Há um ano [28 de maio], o Benjamim foi internado. A infância dele foi interrompida por alarmes, tubos, palavras sussurradas em corredores frios. A minha vida inteira encolheu até caber numa cama de hospital, num monitor com números que tremiam”, começou por referir na legenda de uma série de fotografias antigas desse internamento”, começou por explicar.
“O inferno não são os outros. O inferno é ver o teu filho sem força para sorrir. É medir a esperança em mililitros. É aprender a diferença entre um 95 e um 94 na oximetria. É ver o teu filho tentar rir mas não ter força nos músculos para o fazer. É ver uma agulha falhar uma veia já perfurada vezes demais. É decorar os nomes dos turnos da enfermagem melhor do que os dos teus amigos. É tornares-te especialista em exames que nunca quiseste saber que existiam. É saber de cor a tabela dos valores hepáticos, a escala da dor, a espessura do cateter. É fingir calma quando o médico entra sem sorrir. É engolir o choro quando ele diz ‘estou cansado’, e tu sabes que não é cansaço de brincar. É ser invadido por uma culpa sem nome”, explicou.
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“A palavra ‘transplante’ chegou como chegam os tiros. Vieram os preparativos: autorizações, exames, decisões que ninguém devia tomar com um nó na garganta e outro no estômago. Depois: a espera. Treze horas em que o tempo foi uma suspensão, uma crucificação interna. Um coma emocional”, prosseguiu.
“A alegria – quando chegou – veio suada, exausta, ferida. Chorámos com vergonha e gratidão. Não se celebra um transplante como se celebra uma vitória. Celebra-se como se acariciasse um milagre – com culpa, com reverência, com silêncio”, acrescentou ainda.
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“Hoje, a normalidade é a forma mais discreta da graça. Guardo melhor a minha energia. Sei o quão valiosa é. Não a desperdiço em merda. Se querem pensar mal de mim, pensem. Pensem pior ainda. À frente de mim está o meu filho. À frente de tudo está o meu filho. Não gasto a minha vida a justificar quem sou. Gasto a minha vida com quem amo”, frisou também.
“Não saímos ilesos. Nunca se sai. A dor educa, mas cobra caro. A vida agora pesa mais. Quem flutua sem olhar para baixo nunca conheceu a profundidade. O Benjamim vive. Eu reaprendi a viver com ele. Não em euforia; em espanto. Nem sempre estou feliz. Mas nunca mais deixei de estar grato”, rematou.