TV 7 Dias – A família de sangue tem estado em silêncio desde o funeral de Marco Paulo, mas decidiram quebrá-lo agora e avançar para a Justiça. Porquê?
Pedro da Silva – Esta decisão teve como base a difamação que estava a ocorrer, não só em programas de televisão cor-de-rosa, mas também através das redes sociais. Houve aqui uma ignição, alguém que difundiu uma informação completamente errada de que a família sempre esteve afastada do meu tio e que, principalmente, nos últimos tempos, de que a família não queria saber nada dele. Ao princípio fomos aconselhados a fechar os olhos e a não ligarmos, mas depois isto tomou uma dimensão tão grande, denegriram de tal forma o nome e a honra da nossa família que achámos que tínhamos mesmo de fazer algo. Estamos a falar da difamação de que a família não quis saber de Marco Paulo, o que é completamente mentira. Temos provas disso. Chegou ao ponto, em que uma pessoa mal-informada, dizer que o meu primo [N.R.: No funeral] chorava cada vez que as câmaras apontavam para ele. Era importante saber que se calhar o meu primo estava a ver tio a entrar no carro funerário e dois dias antes o pai, esteve praticamente a morrer, e estava internado no hospital.
Foi por isso que procuraram um advogado?
Procurámos um advogado, o dr. Pedro Proença, por dois motivos. O que nos está a afetar bastante, a honra da nossa família e como é falada. Cada vez que sai uma notícia sobre o nosso tio, há centenas de comentários em que a família não queria saber dele para nada e que agora tocava a campainha de que há dinheiro e por isso a família uniu-se para ir buscar bens que lhe eram indevidos. Não é mesmo verdade, de todo. Nem o afastamento da família, que durante a vida dele sempre o apoiou, esteve presente, de acordo com as nossas possibilidades. Nós tínhamos de trabalhar, tínhamos contas para pagar. É diferente de alguém que podia lá estar a receber um vencimento e que era pago para isso.
Está a falar de Toni, por exemplo, o pai de Marquinho, afilhado de Marco Paulo?
Sim, do Toni e de outras pessoas que estavam ali em redor e que eram pagas para isso. Era o trabalho delas. Embora, com o Toni, houve uma amizade muito grande e sempre foi um braço direito essencial da vida profissional e pessoal do meu tio. Não pomos isso em questão. Agora, outras pessoas que possivelmente mal lá estiveram, dizerem…
Está a referir-se a Maria Violante, a mãe de Marquinho e à entrevista que concedeu à TV 7 Dias?
Sim, a senhora disse que a família nunca quis saber dele e que nas alturas em que ele estava pior é que a família se aproximava. É normal que a família tenha a sua vida, tem contas para pagar, tem trabalhos que tem de cumprir e que vai lá quando for possível. Obviamente, que havendo um sinal de alerta na família de que ele estaria a piorar, havia uma aproximação maior e mais constante. Essa senhora em questão, tanto quanto sei, morou lá durante alguns anos quando casou, até ter tido o divórcio, depois saiu de lá, aproximou-se de facto ultimamente por o meu tio estar num final de vida.
Ela disse que só tinha conhecido o seu pai no funeral de Marco Paulo…
Sim, é verdade. Mas não que o meu pai não tenha lá ido ver o meu tio, a senhora é que não estava lá. São coisas diferentes. Se a senhora esteve tantos anos sem viver lá, não pode dizer que o meu pai não tinha contacto com o meu tio. Mas isso são coisas que de facto nos magoam imenso, estamos bastante tristes não só com toda esta situação que é um choque do falecimento do meu tio, e depois esta difamação desnecessária, em que a senhora diz que é família e que ela é que é família e mais umas pessoas em redor dela. Passou uma imagem extremamente negativa. Imagem essa que depois foi ampliada pela opinião pública.
Fez questão de ver os comentários que vos eram dirigidos?
Sim. Ao contrário do que nos foi recomendado. Inclusive falam de coisas dos meus avós, esquecem-se que os pais do Marco Paulo são os pais do meu pai e do meu tio Ernesto. São pessoas com uma saúde bastante debilitada.
Mas estavam juntos regularmente?
Nós estávamos com o nosso tio quando nos era possível e se combinasse. Todos nós temos a nossa vida, filhos… Mas nunca houve um espaço de meses sem ver o nosso tio, nem eu que estive anos a trabalhar fora e ainda continuo, estive meses sem ver o meu tio. Estamos a falar de visitas pessoais. A nível telefónico, sempre houve um grande contacto com o meu tio.
E, das vezes que estavam com o Marco Paulo havia convívio com o Marquinho, por exemplo?
Há uma disparidade muito grande de idades, eu sou o sobrinho mais novo, vou fazer 52 anos em janeiro e o Marquinho tem outra idade [N.R.: 33]. As nossas férias de verão eram passadas na quinta do meu tio, desde a nossa infância até à fase de adolescência. Momentos em que ele tinha muito trabalho, mas não esqueçamos que os meus avós viveram lá durante muitos anos. Foi na fase em que entrámos na nossa vida adulta que o Marquinho acabou por nascer, ficou na quinta e criou essa relação em que o meu tio gostava dele como se fosse um filho. E isso nem é questão. A relação foi muito boa, mas nós tivemos de seguir a nossa vida, assim como ele também teve de seguir a vida dele, em que foi para a Holanda e também acabou por se afastar.
Havia ou não má relação entre o seu pai, Alfredo, e Marco Paulo?
Não faz sentido. O último nome que o meu tio disse foi “um beijinho ao Alfredo”. Uns dias antes do meu tio ficar naquela situação eles tinham falado ao telefone. O meu pai é uma pessoa doente, teve um AVC, e isso dá-lhe alguma impossibilidade de estar em condições para conduzir. Chatices e confusões como foi tão divulgado, não. O meu tio não está cá para se defender, mas a família tem uma honra para defender. Somos pessoas de bem, temos um passado digno e agora vermos o nosso nome na lama, um nome que sempre representamos com muito orgulho de sermos família de Marco Paulo. Fomos ao programa de televisão, demos entrevistas. O meu pai e os meus tios não, os meus primos sim.
É verdade que o seu pai não quis ir lá quando o Marco o chamou?
A dona Violante deve saber da vida dela, é só o que respondo quanto a isso. Devia falar do que sabe.
Foram chamados para a leitura do testamento, mas não estarão contemplados nele. Como reagiram?
Que fique bem claro, a família do Marco Paulo não foi a correr atrás de ninguém, nem pedir nada a ninguém. A família do Marco Paulo, uns dias antes da missa do sétimo dia, recebeu uma mensagem escrita de uma doutora a representar o Sr.. António Coelho e o Sr. Marco António a pedir para nos apresentarmos no dia “x” à hora “y”, para a abertura e leitura do testamento. A família do Marco Paulo não foi à procura, nem pedir nada a ninguém. Estávamos a viver um momento de dor e a última coisa que nos passava pela cabeça, ainda para mais tão em cima do momento, era virem falar de testamentos. Ficámos incrédulos, aí sim, ficámos chocados com a rapidez com que fomos chamados a estar presentes na leitura do testamento.
Como reagiram ao perceber que não estavam contemplados?
Não ficámos chocados, aborrecidos ou em guerra com a leitura do testamento. Nós ouvimos a leitura, ficámos surpresos, sim devido à aproximação que nós tínhamos com o nosso tio, sem haver nada de grave, de chatices. Já passou um mês e ainda hoje é algo que nos dói. É o nosso sangue, é a nossa família, vivemos intensamente com ele, momentos bons e menos bons, altos e baixos, nós tínhamos uma relação fantástica, amávamos o nosso tio. Não só tínhamos um orgulho enorme do ponto de vista profissional, mas também pela pessoa. Não era por ser o Marco Paulo.
Suspeitavam que podiam estar fora do testamento?
A relação que sempre tivemos com o nosso tio… havia indícios, ou algo dito, não me quero adiantar muito por aí, que obviamente nós faríamos parte do testamento do nosso tio. Comentámos entre nós, primos, o “tio disse-me isto, e a mim aquilo, e há isto e aquilo que o tio disse que queria que se fizesse e não temos direito a nada?” Ficámos surpreendidos, isso sim, de não termos recebido um parafuso. Na quinta do meu tio, existem coisas que são de gerações de família, desde fotografias, objetos que pertenciam aos meus avós, dos nossos bisavós, um quadro, fotografias, e atenção não me estou a referir a nada de valores monetários, e nem isso os irmãos tiveram direito ou acesso. A nossa estranheza foi essa.
Como foi essa leitura?
Fomos os quatro sobrinhos chamados, sentaram-nos a uma mesa e disseram-nos assim: “então vamos lá aqui à leitura do testamento”. Fomos chamados quase de uma forma obrigatória, não foi um convite, ficámos espantados pelo que referi e o que nos dizem é que “foram cá chamados para vos dizer que não têm direito a nada. Adeus, boa tarde e obrigada”. Saímos confusos e surpresos, mas cada um segue a sua vida. Com o passar do tempo e com as difamações que começaram a surgir, pensámos: “O nosso nome está na lama, não fizemos mal a ninguém, não impugnámos testamento nenhum, nós estamos a seguir a nossa vida e somos enxovalhados?” Fomos falar com um advogado para limpar a honra da nossa família. E ele fez-nos a pergunta que toda a gente fez? “Então e a herança?”. Dissemos que era um assunto que está resolvido e não tivemos direito a nada. E ele questionou se tínhamos feito uma análise do testamento e porque não pedíamos essa análise para esclarecer.
Vão lutar pela herança?
Se de facto a intenção do nosso tio era não nos deixar nada, nós respeitamos, nós temos a plena consciência de que o nosso tio gostava do Marco António como um filho. Agora se de facto os irmãos e sobrinhos têm direito a “x” e o Marco António a “y”e o António Coelho a “v”, tudo bem. Que tudo seja feito com transparência e que seja feita a vontade do nosso tio. Nós queremos que seja feita a vontade do nosso tio, seja para herdar ou não. Nós vamos seguir a nossa vida. Não estamos a contar com nada. Não queremos é que a vontade do nosso tio seja uma e que seja feita outra.
Como está a vossa relação com Marquinho e com o pai?
O meu tio Ernesto ainda está no hospital, e todos nós tínhamos uma relação ótima e isso consistia em telefonemas da parte do Toni e do meu tio Marco. A verdade é que depois do dia do testamento nunca mais houve um telefonema nem para saber sobre o meu pai ou sobre o meu tio. Quem está doente são eles. Mas nós estamos recetivos a falarmos, claro. Depois tendo em conta que houve aquela entrevista dada por Maria Violante em que de abonatório não nos trouxe nada, as pessoas não podem ficar à espera de um telefonema para saber se a senhora está bem ou mal.
Como está o seu tio Ernesto?
Está complicado. Foi transferido há poucos dias para o hospital do Barreiro.
Texto: Ana Lúcia Sousa (ana.lucia.sousa@worldimpalanet.com) Fotos: Arquivo Impala e Reprodução Instagram