
A nova digressão mundial de Bad Bunny, anunciada esta semana, inclui datas em vários países da América Latina e da Europa, incluindo Portugal. No entanto, a ausência dos Estados Unidos não passou despercebida e tem gerado bastante especulação, não tendo, até ao momento, sido dada uma explicação oficial.
Benito Ocasio, mais conhecido como Bad Bunny, cresceu em Vega Baja, Porto Rico, filho de um camionista e de uma professora de Inglês. O nome artístico surgiu de uma fotografia da infância em que, vestido de coelho da Páscoa e com expressão zangada, ganhou o apelido de “coelho mau”.
A sua carreira começou a ganhar destaque em 2017, com sucessos como “Pa Ti” e “Sensualidad”, culminando no êxito internacional I Like It, ao lado de Cardi B e J Balvin. Em 2018, chegou ao topo da Billboard Hot 100, consolidando-se como uma das maiores estrelas da música latina. Desde então, álbuns como Un Verano Sin Ti e temas como “Debí Tirar Más Fotos” — com mais de dois mil milhões de streams — confirmaram o seu sucesso global.
Em entrevista à Spinem 2021, o artista afirmou que tem orgulho em poder alcançar o mundo sem abandonar a sua língua, cultura ou estilo musical, embora não descarte cantar em inglês no futuro.
Para compreender a ausência dos Estados Unidos na digressão de Bad Bunny é necessário analisar o histórico de tensões políticas entre os EUA e Porto Rico - um tema que o rapper tem abordado de forma consistente, tanto na sua música como através das redes sociais.
Comentários polémicos e resposta cultural
Durante a campanha presidencial de Donald Trump, o comediante Tony Hinchcliffe referiu-se a Porto Rico como uma “ilha flutuante de lixo”, um comentário que gerou indignação.
Bad Bunny reagiu através da sua conta de Instagram, onde defendeu o povo porto-riquenho, elogiando a sua força e resiliência. “Para aqueles que se esquecem de quem somos, não se preocupem: nós vamos lembrar-vos”, escreveu, reafirmando o orgulho na identidade da ilha.
Mais tarde, partilhou um vídeo da campanha de Kamala Harris, no qual a vice-Presidente criticava Trump pela forma como lidou com os furacões que devastaram a ilha, referindo-se à resposta do Presidente, que chegou a questionar o número real de vítimas causadas pelas passagens dos furacões Maria e Irma, em 2017.
No entanto, esta não foi a primeira vez que o artista se manifestou publicamente sobre questões políticas. Segundo a conceituada Rolling Stone, Bad Bunny comprou outdoors em San Juan para protestar contra Jennifer González-Colón, candidata do Novo Partido Progressista. Apoiada por Donald Trump, González-Colón acabaria por vencer as eleições e tornar-se governadora de Porto Rico.
Intervenção pública
Desde que o furacão Maria destruiu a infraestrutura energética de Porto Rico em 2017, a ilha tem enfrentado cortes frequentes no fornecimento de eletricidade.
Em resposta a essa crise, Bad Bunny publicou na rede social X um excerto da sua música El Apagon (“O Apagão”), numa crítica direta aos apagões recorrentes.
Na véspera de Ano Novo, após mais uma falha no serviço, o artista voltou a manifestar-se no Instagram. “É assim que se passa a véspera de ano novo em Porto Rico, sem eletricidade, normal”, escreveu.
Mais recentemente, em abril, Porto Rico voltou a sofrer um apagão de grandes dimensões, que deixou cerca de 90% da população sem energia. Perante a situação, Bad Bunny expressou novamente a sua frustração nas redes sociais, questionando, no X: “Quando vamos fazer algo?”
Língua e Deportação
A ordem executiva assinada por Donald Trump, que declarou o inglês como idioma oficial de Porto Rico, gerou preocupações quanto ao possível apagamento cultural da ilha. A decisão foi vista como uma ameaça à identidade linguística e afetou diretamente a maioria da população porto-riquenha, cuja língua materna é o espanhol — além de impactar também comunidades latinas nos Estados Unidos.
Durante a atuação no “Tiny Desk”, Bad Bunny optou por falar exclusivamente em espanhol. Quando questionado, respondeu com ironia: “Era suposto estar a falar em inglês?”.
O Presidente norte-americano voltou a prometer deportações em massa e o Congresso já aprovou leis que facilitam a detenção de imigrantes. Em cidades com grandes comunidades latinas, como Newark, cresce o receio de repressão, o que torna a posição do artista ainda mais significativa.
Porto Rico tornou-se território dos Estados Unidos após a Guerra Hispano-Americana em 1898. Em 1917, os porto-riquenhos receberam a cidadania americana, mas sem direito a votar nas eleições presidenciais, a menos que residissem no continente.
Ao longo do tempo, houve vários referendos para determinar a posição política da ilha com propostas para se tornar um Estado independente ou manter a sua posição atual, sem uma decisão definitiva.
No que à música diz respeito, o público português terá a oportunidade ver Bad Bunny ao vivo no Estádio da Luz, em dois concertos agendados para 26 e 27 de maio de 2026.