
O primeiro vislumbre de Jeremy Allen White como Bruce Springsteen já chegou e os fãs não ficaram indiferentes. O trailer de 'Deliver Me From Nowhere', cinebiografia centrada na criação do álbum Nebraska, mostra um lado sombrio, íntimo e artístico do eterno "Boss", num momento em que desafiava tanto a indústria musical como a própria fama.
O filme foca-se no ano em que Springsteen decidiu abandonar os grandes palcos e mergulhar num processo criativo solitário, gravando em casa um dos seus álbuns mais minimalistas, um murro no estômago poético para quem esperava uma continuação do sucesso comercial 'Hungry Heart'. Em vez disso, 'Nebraska' tornou-se um clássico sombrio e existencial.
Jeremy Allen White, vencedor de três Emmys pela série 'The Bear', surge irreconhecível: de harmónica na mão e voz rouca afinada, interpreta trechos como a faixa-título 'Nebraska' e o icónico 'Born to Run'.
O ator confessou ter estudado centenas de vídeos de arquivo para captar os maneirismos atléticos de palco de Springsteen e a sua inconfundível cadência vocal.
"Foi uma viagem incrível mergulhar no YouTube e seguir todas as fases da vida dele", contou à revista GQ.
A própria lenda de Nova Jérsia acompanhou de perto as filmagens e deu o seu aval à performance de White, dizendo tratar-se de "um ator fantástico" que canta "muito bem".
A resposta do público tem sido moderadamente entusiasta. Nos comentários ao trailer no YouTube e no Reddit, há quem admita ter começado com ceticismo, mas terminado com entusiasmo.
"Aquela última cena no palco conquistou-me", disse um fã. Outro afirmou: "Não são sósias, mas há qualquer coisa ali. Uma vibração Bruce."
Dirigido por Scott Cooper, conhecido por Crazy Heart, que valeu um Oscar a Jeff Bridges, o filme promete uma abordagem crua e sincera.
Porquê Nebraska?
A escolha de 'Nebraska' como foco do novo filme biográfico de Bruce Springsteen não é acidental, nem óbvia. Lançado em 1982, este sexto álbum de estúdio marcou um ponto de rutura na carreira do cantor — e também um mergulho pessoal na sua visão mais sombria e introspetiva da América.
Na altura da gravação, Springsteen tinha cerca de 33 anos, a mesma idade que Jeremy Allen White tinha, e decidiu isolar-se em Colts Neck, Nova Jérsia, gravando sozinho, com uma guitarra e um gravador de quatro pistas.
Sem produção polida, sem banda, sem grandes refrões. O resultado foi um conjunto de canções que mais parecem pequenos contos sobre solidão, crime, desespero e redenção silenciosa.
Se os seus álbuns anteriores eram hinos para multidões cheios de energia e promessas de liberdade, 'Nebraska' foi o completo oposto. Um gesto radical de contenção artística.
O contraste com a grandiosidade de 'The River' ou o sucesso radiofónico de 'Hungry Heart' é tão extremo que foi comparado, de forma irónica, ao momento em que Bob Dylan “ficou elétrico”.
Escolher 'Nebraska' como pano de fundo para 'Deliver Me From Nowhere' é, assim, optar por contar a história de um artista no seu momento mais frágil, mais honesto e menos comercial. Uma viagem à essência do que significa ser criador num mundo de pressões e expectativas.
A cinematografia evoca a icónica capa de 'Nebraska', e a narrativa acompanha a tensão entre inspiração artística e pressão comercial. Jeremy Strong (da série 'Succession') interpreta o empresário Jon Landau e sintetiza o espírito do filme numa frase do trailer: "Não se trata das paradas. Trata-se de Bruce Springsteen."
Mensagem emocionante de Springsteen para o "pai"
O elenco conta ainda com Stephen Graham no papel do pai de Bruce, Dutch Springsteen. O ator britânico, que protagonizou a série 'Adolescência', revelou ter recebido uma mensagem emocionada do cantor de 75 anos.
"Senti como se tivesse visto o meu pai outra vez. Obrigado por me devolveres essa memória."
Odessa Young assume o papel de Faye, o interesse amoroso de Springsteen, enquanto Paul Walter Hauser interpreta o técnico de guitarra Mike Batlan.
Em outubro nos cinemas
Com estreia marcada para outubro, 'Deliver Me From Nowhere' entra diretamente na corrida aos Óscares, agora sem a concorrência do filme biográfico de Michael Jackson, que foi adiado para 2026.
Após o sucesso de 'A Complete Unknown', sobre Bob Dylan, que arrecadou oito nomeações à estatueta dourada, Hollywood parece estar a viver uma nova era dourada das biografias musicais.