Artista multidisciplinar, António-Pedro seguiu os passos da coreógrafa Filipa Francisco na criação de um projeto comunitário, que nasceu em 2011 com bailarinos de dança contemporânea e elementos de ranchos de Torres Novas e que envolveu, nos anos seguintes, outros grupos etnográficos e de folclore do país.

Em 2011, Filipa Francisco contava à agência Lusa que a ideia de 'A viagem' era criar "uma partitura" que fosse suficientemente aberta para que outras danças pudessem ser trabalhadas em cada região.

"Acho que isso vai dar uma riqueza muito grande ao próprio projeto", disse.

Filipa Francisco sonhava há algum tempo com a possibilidade de trabalhar com um grupo de dança tradicional portuguesa, quando viveu essa experiência com um grupo palestiniano em Ramallah.

"As danças são muito diferentes, mas havia um pouco a mesma energia, a energia da comemoração, do estar junto e do dançar junto", afirmou.

Depois de Torres Novas, 'A Viagem' foi sendo construído e apresentado pelo país com a participação de mais de duas dezenas de grupos e ranchos folclóricos maioritariamente portugueses, mas também no Brasil e no País de Gales.

Concebido e dirigido por Filipa Francisco, o espetáculo teve cocriação e banda sonora de António-Pedro, e os dois criadores publicaram em 2024 um livro-disco, que documenta esse diálogo entre o contemporâneo e o tradicional.

António-Pedro, que seguiu esta itinerância pelo país, diz que o documentário não é um 'making of', mas o registo de um encontro.

"Dá-se um encontro que é intensificado pela necessidade de se criar um espetáculo profissional num curto espaço de tempo. Um objeto que passa a ser de ambos os grupos, que criam, num raro momento de suspensão, um novo 'nós'", afirmou o realizador em nota de intenções.

No filme participam, entre outros, o Grupo Folclórico da Região de Arganil, o Grupo Etnográfico do Orfeão do Porto, o Grupo Folclórico e Etnográfico de Recardães (Águeda) e o Rancho Folclórico da Torredeita (Viseu).

'Mississipis' é uma produção entre a Terratreme Filmes e a Companhia Caótica, cofundada por António-Pedro, autor de filmes como 'O homem da bicicleta - Diário de Macau' (1997), 'Ne pas couper - Tramagal' (2017) e 'Nzila Ngola' (2021).