Vive em Toronto, no Canadá, para onde se mudou não para alavancar o crescimento internacional da Innovative Prison Systems, mas para acompanhar a mulher “num desafio profissional irrecusável”. E Pedro das Neves, o fundador e CEO da consultora IPS - Innovative Prison Systems, di-lo com orgulho. O mesmo com que reafirma que é em Portugal, na sua terra natal, na Covilhã, que faz questão de manter sedeada uma empresa que trabalha em cooperação com Governos e organizações de cerca de 50 países, na humanização e transformação digital dos serviços prisionais. Porquê? Porque “é possível fazer acontecer de Portugal para o mundo inteiro”, vinca.

Sociólogo de formação, Pedro das Neves iniciou a carreira no sector dos recursos humanos, mas despertou cedo para a realidade de todos aqueles que cumprem penas de privação da liberdade. Tinha 16 anos quando visitou, pela primeira vez e como voluntário, uma prisão: "não se esquecem os ruídos das portas, daquelas portas de ferro a abrir e fechar e chaves a rodar nas fechaduras. Como também não se esquecem os cheiros, e sequer se esquece o olhar das pessoas, de esperança, de desesperança e muitas vezes de desespero”. Hoje, move a sua atuação por um princípio de que não abre mão: "as pessoas que estão detidas perdem o direito à liberdade, não à sua dignidade".

Pedro das Neves, CEO da Innovative Prison Systems, durante a gravação do podcast
Pedro das Neves, CEO da Innovative Prison Systems, durante a gravação do podcast Nuno Fox

Como gestor, admite que fez todo um caminho até aprender a delegar, a sua maior dificuldade. E dá conta de um desafio acrescido: a pouca atratividade da área onde atua enquanto empregador. “O sector dos serviços prisionais não é um sector muito atrativo, mas precisa de pessoas muito comprometidas porque quem não se identifica não consegue trabalhar nisto muito tempo”, admite. Na sua equipa tem em Portugal 30 profissionais altamente qualificados, de quem tem “imenso orgulho” pelo compromisso e empenho diários.

Em 2002, já com várias experiências de intervenção na reabilitação profissional de reclusos e na melhoria da gestão de serviços prisionais, criou a IPS. A partir de Portugal conseguiu colocar a consultora no radar das Nações Unidas, da Comissão Europeia e de vários Governos e organizações não governamentais, com a quais trabalha em parceria na modernização dos serviços prisionais e da reabilitação de reclusos.

Pedro das Neves defende a melhoria das condições de detenção e a humanização dos sistemas prisionais como um caminho para a redução da reincidência criminal. “A melhoria das condições de detenção, que nós muitas vezes vemos como quase que um privilégio que estamos a conceder a alguém, é nada mais nada menos do que criar as condições mínimas para que essas pessoas possam depois fazer uma transição mais fácil da prisão para a comunidade”, diz. E vinca que "as prisões onde se aplica o princípio da normalidade, têm melhores resultados do ponto de vista da redução da reincidência, da desistência do crime".

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