Portugal tem hoje uma das gerações mais qualificadas da sua História. Os jovens portugueses estão preparados, motivados e conectados ao mundo. Ainda assim, continuamos a enfrentar um paradoxo: temos talento, mas não conseguimos retê-lo. Muitos partem à procura de melhores salários, experiências internacionais ou simplesmente de condições que lhes permitam crescer pessoal e profissionalmente.
O desafio não é apenas atrair talento, mas sobretudo compreendê-lo e valorizá-lo. As expectativas mudaram. A nova geração procura mais do que um emprego – procura propósito, liderança inspiradora e ambientes de trabalho onde possa aprender, evoluir e sentir-se parte de algo. Querem crescer com as empresas, não apenas trabalhar para elas.
Segundo o último Global Talent Barometer, do ManpowerGroup, 47% dos profissionais da Geração Z admitem sair do seu emprego atual nos próximos seis meses. Esta estatística deve ser lida não como uma ameaça, mas como um alerta. Não basta oferecer um salário competitivo. É preciso oferecer uma experiência que faça sentido.
Vivemos tempos de mudança acelerada. O modelo de trabalho que durante décadas serviu bem as organizações está hoje a ser desafiado por novas expectativas, sobretudo de quem está a iniciar a sua carreira. A flexibilidade, a autonomia e a possibilidade de aprender com os outros passaram a ser prioridades. Os jovens valorizam, cada vez mais, a aprendizagem contínua e a autenticidade na liderança. E é aqui que muitas empresas têm oportunidade para se reinventar.
A criação de contextos de trabalho mais colaborativos e intergeracionais é fundamental. O escritório, longe de estar obsoleto, continua a ser um espaço privilegiado para crescer. É ali que se criam referências, se trocam ideias e se aprende pela observação. Sobretudo para quem está a começar, esse ambiente vivo é uma mais-valia que não deve ser descartada.
Portugal tem trunfos únicos. O sol, o mar, a qualidade de vida e uma cultura aberta ao mundo tornam-nos cada vez mais atrativos para o talento internacional. Vemos empresas estrangeiras a instalarem equipas no nosso país porque os seus colaboradores querem viver cá. Isso diz
muito. E mostra que, se soubermos escutar e responder às novas expectativas, podemos transformar o país num verdadeiro hub de talento.
Investimos na educação. Agora, temos de garantir retorno desse investimento. Isso passa, em primeira instância, por salários justos, sim, mas também por criar experiências de trabalho enriquecedoras, com liderança humana e culturas organizacionais vibrantes. O talento não está perdido. Está aqui, à espera de um modelo mais inteligente de trabalho.
Martim de Botton,
CEO do LACS