
O presidente do Banco Africado de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, instou, recentemente, na cidade da Praia, os líderes do continente a adoptarem políticas e projectos que promovam, cada vez mais, a retenção de talentos, tendo apontado o recém-inaugurado Parque Tecnológico de Cabo Verde como um exemplo a seguir.
“Não podemos sentir orgulho tendo jovens a sair dos nossos países para a Europa e outras geografias. Não acredito que o futuro dos jovens africanos esteja na Europa nem na Ásia. O futuro dos jovens africanos está em África”, apontou Adesina, ao intervir no passado dia 05 deste mês, durante a cerimónia que marcou a abertura formal do TechParkCV, como também é conhecido o Parque Tecnológico de Cabo Verde.
Para o presidente do BAD, África tem uma população mais consumidora do que criadora e pouco qualificada, o que na sua óptica, é também uma causa da imigração. Daí ter defendido a necessidade de se apostar na qualificação da população, sobretudo jovem.
“Temos que manter os talentos aqui para que eles possam desenvolver as suas ideias, criar negócios e impulsionar a economia. Os jovens são o nosso maior activo. Então temos que aproveitar esse activo que temos e tentar transforma-lo também num activo económico”. enfatizou.
Nesta linha de pensamento, considerou o TechparkCV como uma infra-estrutura “muito necessária” que, diz acreditar, “vai transformar o país numa ilha cibernética, num centro e plataforma digital para a África Ocidental”, capaz de atrair negócios de todo o mundo.
“O futuro é brilhante, principalmente para os investidores jovens, isto impulsionado pela transformação muito rápida da economia digital, que gera mais de 8 mil milhões de dólares no PIB africano. Mais de 7 mil milhões de dólares estão previstos para ser gerado até 2050. O sistema de start-ups africano está a aproveitar a economia digital e temos mais de 60 start-ups activas em Cabo Verde”, deu nota.
Dados avançados por Akinwumi Adesina mostram que as start-ups africanas receberam em financiamentos de diversas fontes mais de 5 mil milhões de dólares em 2022, o dobro do valor que foi alcançado no ano anterior, impulsionado por um alcance cada vez maior da internet e também pelo surgimento de novas companhias de telecomunicações.
O objectivo, disse é alcançar 60% de penetração de internet em todo o continente, até 2035. Em Cabo Verde, particularizou, o acesso da população à internet aumentou 37% em 2010, ultrapassando a média na subregião.
“Podemos ver aqui que cerca de 90% da população tem hoje acesso a cobertura da internet e da rede móvel de telefonia. Isto é incrível”, sublinhou.
O BAD tem se destacado como um dos maiores parceiros tecnológicos do arquipélago. Para a construção do Parque Tecnológico da Praia a instituição aprovou um financiamento total de 57 milhões de dólares, para as duas fases do projecto já implementadas. Adesina reconhece, no entanto, que o desafio não se afigurou nada fácil.
“Sei que nem sempre foi fácil. Há pessoas que duvidaram e tentaram questionar a visão de Cabo Verde, um país pequeno, ter um projecto da dimensão deste parque tecnológico. Alguns até afirmaram que seria um ‘elefante branco’. Queriam limitar a nossa visão, mas nós mantivemos a nossa missão”, referiu o convidado especial do acto inaugural do TechParkCV, lembrando que, se quisermos ter sucesso na vida, temos que tapar os nossos ouvidos, fechar os olhos e seguir em frente.
“Hoje, está mais que evidente que estávamos certos, pois o TechPark é um sucesso. Esse é um grande dia para o país. Estamos a celebrar o sucesso.”, regozijou-se o nº1 do BAD.
Na ocasião, Akinwumi Adesina anunciou a aprovação pelo Banco Africano de Desenvolvimento de um novo financiamento para Cabo Verde, desta vez para o Projecto Morabeza, no valor de 4 milhões de euros. O referido projecto, assente em três pilares, tem como objectivo posicionar o país como hub regional para o desenvolvimento empresarial, dentro da sua visão de fazer a transição de uma economia dependente do turismo para outra com foco no digital.
O primeiro pilar do “Morabeza” tem a ver com a criação de políticas para atrair empresas inovadoras e também os nómadas digitais, o segundo passa por desenvolver empresas nacionais de médio porte para aumentar a adopção de tecnologias no país, enquanto o terceiro tem foco na melhoria da coordenação do monitoramento tecnológico.
Adesina condecorado com Medalha de Mérito

Durante a cerimónia que marcou a inauguração formal do polo da Praia do Parque Tecnológico, o Governo de Cabo Verde condecorou o presidente do banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, com a Medalha de Mérito Profissional 1º Grau, uma das mais altas medalhas honorárias nacionais.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, José Ulisses Correia e Silva, ao proceder a entrega da medalha, justificou a condecoração como reconhecimento do “grande trabalho” Adesina realiza e que realizou na liderança do BAD.
“Sabemos que vai partir para outras missões. O seu mandato termina [em Setembro], mas o seu legado fica. E foi por causa disso que o Governo de Cabo Verde, em nome do povo de cabo-verdiano, lhe deu essa condecoração. É o reconhecimento do seu compromisso com o desenvolvimento de África, do seu optimismos, preseverança, da sua capacidade de influenciar alguns líderes que precisam desse encorajamento para mostrar que é possível. É o reconhecimento da sua especial dedicação e compromisso com Cabo Verde, com os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e com o espaço da lusofonia”, ressalto Ulisses Correia.
Segundo o governante cabo-verdiano, as relações entre o arquipélago e o BAD ganharam um grande impulso durante a presidência de Adesina, com a concretização de importantes investimentos que vão desde a Economia Digital, Economia Azul, os portos, energias renováveis, à agricultura.
“Não nos esquecemos que durante os momentos mais difíceis, como aquele que atravessamos na pandemia da Covid [19], o BAD esteve presente, deu uma resposta rápida e entrou com uma componente importante relativamente a questão do apoio à segurança alimentar”, recordou.
A distinção tem, por isso, como propósito enaltecer a “exemplar” liderança, visão inovadora e contributo determinante para o progresso económico e social de Cabo Verde.
“O Governo da República de Cabo Verde profundamente consciente da importância das alianças estratégicas para a consolidação do desenvolvimento sustentável do país, vem dar o público testemunho e solene reconhecimento ao Doutor Akinwumi Adesina, presidente do Grupo Banco Afrocado do Desenvolvimento, pela sua excepcional dedicação, liderança visionária e contributo inestimável para o progresso económico de Cabo Verde”, lê-se no Despacho nº 18/2025, de 30 de Abril, emitido por José Ulisses Correia e Silva, que formaliza a distinção.
No documento, o Executivo cabo-verdiano destaca que, “ao longo de uma década de cooperação frutífera e exemplar”, Adesina tem se destacado como verdadeiro amigo de Cabo Verde e um parceiro incansável nas capacidades nacionais, promovendo, através da instituição que dirige, “com sabedoria e sentido de missão”, iniciativas estruturantes em áreas cruciais para o desenvolvimento do país.
“A sua atenção, a sua actuação, têm sido pautadas por um espírito de solidariedade e compromisso pelo bem comum e notável sensibilidade nas prioridades estratégicas e desafios do desenvolvimento de Cabo Verde”, diz o despacho.
Akinwumi Adesina agradeceu a honra, que prometeu levar consigo para toda vida, assim como o amor e apreço que afirmou ter por Cabo Verde.
Cheguei aqui sem nada, mas vou voltar para casa com está medalha que é o símbolo de uma lembrança deste país que amo e muito. Amo muito visitar esse país. Essa é a minha terceira visita a Cabo Verde, enquanto presidente do BAD e isto é raro. Não acontece com muita frequência um país receber a visita do presidente três vezes”, lembrou em jeito de justificação do apreço que garante ter pelo arquipélago.
O presidente do BAD parabenizou o Governo de Cabo Verde pela ambição que tem em diversificar a economia do país, nesta linha de transformação digital, para não depender apenas do turismo, estratégia que considera ter o potencial de transformar e aumentar o contributo digital no PIB e que, por isso, merecerá o contínuo apoio da instituição que lidera.