
O especialista em Inteligência Artificial (IA) Arun Sundararajan elegeu hoje na QSP Summit a transição profissional causada pela nova tecnologia como "o grande desafio", considerando que isso pode fazer a diferença entre uma sociedade estável ou instável politicamente.
"O grande desafio para hoje, para a próxima geração, é como é que treinamos as pessoas para mudar de carreira a meio da carreira. Como é que treinamos pessoas nos seus trintas, com 10 anos de experiência, mas que precisam de uma nova ocupação", disse hoje na abertura do último dia da QSP Summit na Exponor, em Matosinhos.
O professor de Empreendedorismo e Tecnologia na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque considera que este é "um problema de sociedade muito importante", já que no seu entender "muita da polarização política, a instabilidade, foi causada por não se ter sabido gerir bem a transição do mundo da manufatura nos anos 80, 90 e 2000, deixando muitas pessoas a sentir que não têm acesso a oportunidades económicas".
Arun Sundararajan vincou que "muitos países, como os Estados Unidos, Portugal, Espanha, a maior parte dos países da Europa ocidental, a China e a Índia investiram durante muitas décadas e até séculos em educação direcionada para o início de carreira" e em preparar "as pessoas para o seu primeiro trabalho".
"Como é que criamos instituições que os transitem com dignidade?", questionou, em face de não haver "dúvida absolutamente nenhuma que, durante a próxima década, uma percentagem de dois dígitos da força de trabalho vai ter de encontrar uma nova ocupação".
Para o especialista, "a onda de mudanças no trabalho possibilitada pela IA será muito maior, e portanto para qualquer sociedade que esteja a pensar como gerir transições com dignidade será uma questão da sociedade, e talvez uma diferença entre uma estável ou instável".
Outro dos pontos abordados na sua apresentação foi a questão da soberania dos sistemas de IA de cada país, apontando por exemplo que sistemas de projeção de cenários associados à condução autónoma têm consumos de energia muito elevados, e "para muitos países, uma IA com sucesso estará muito ligada à capacidade de gerar energia suficiente para alimentar estas infraestruturas e sistemas massivos"
"Os modelos atuais da IA já estão a pôr pressão no fornecimento de eletricidade de muitos países. Há um estado nos Estados Unidos, Virgínia Ocidental, em que 30% da sua energia já está a ser utilizada para alimentar sistemas de computadores", assinalou.
Assim, ser "autosuficiente em IA ou dependente de outro país vai depender, em parte, deste 'gargalo' da eletricidade", sendo também uma questão de "geopolítica", já que a IA estará presente "em tudo", incluindo no setor da Defesa.
"Os Estados Unidos e a China vão ser largamente autossuficientes na IA. Nos semicondutores ninguém será autossuficiente, mas ao ter os seus próprios modelos, os seus centros de dados ou as suas aplicações, serão países provavelmente soberanos, terão autonomia estratégica", começou por dizer.
Já "os outros países terão que pensar quão independentes quererão ser com a sua IA e quão dependentes querem ser de outros países", sendo algo "particularmente desafiante" para os de média dimensão.
O especialista lembrou ainda que "há centenas de empresas que estão a tentar avançar com a energia nuclear, que de repente se tornou uma área de atuação das 'startups'", sendo também por isso que "a Microsoft comprou uma central nuclear desativada nos Estados Unidos no ano passado".
A QSP Summit arrancou oficialmente na terça-feira no Porto e termina hoje na Exponor, tendo este ano como lema "The New Strategic Drivers" (Os Novos Motores Estratégicos), propondo "reflexão sobre os motores estratégicos que estão a transformar as organizações - da cultura à tecnologia, passando pela estratégia, pessoas, comunicação, educação, performance e até ética".