“Ser empreendedor não é apenas abrir um negócio. É assumir o comando e responsabilidade total das nossas escolhas e do futuro das nossas vidas e famílias.”

Se estivesses a observar a tua carreira de fora, hoje, com olhos de dono, o que será que  mudarias? Será que mudarias a forma como geres o tempo? A forma como te relacionas com os outros? A forma como acrescenta valor?

Porque a verdade é esta: o empreendedorismo começa muito antes de abrires um negócio. Começa com uma pergunta estratégica: “Se esta empresa fosse minha, o que eu faria de diferente?”

Lembro-me bem de quando a fiz pela primeira vez. Eu trabalhava na Kahn Design, uma empresa britânica do ramo automóvel e segmento de Luxo. Eu era director de vendas e marketing para os mercados internacionais de língua portuguesa, espanhola e francesa. Foi nesse momento que percebi que não bastava apenas “cumprir com as minhas funções de liderança”, eu teria que fazer mais, resolver mais e pensar como dono da empresa.

Essa pergunta foi a semente da minha mudança para empreendedor. Seis meses depois criei a minha empresa de consultoria. Foi o momento em que deixei de ser apenas um empregado e comecei a ser um empreendedor.

Mas empreendedorismo não é um estatuto é uma atitude. Durante décadas, em muitos países da lusofonia, o empreendedorismo foi encarado como um “plano B” ou uma resposta à ausência de oportunidades formais. Mas isso está a mudar cada vez mais rápido e de forma ainda mais consciente.

Segundo o relatório do Global Entrepreneurship Monitor, nos países africanos lusófonos como Angola e Moçambique, mais de 50% dos empreendedores começaram por necessidade. No entanto, nos últimos anos, há uma tendência crescente de  empreendedores por oportunidade, inovação e impacto social.

Em Portugal, os dados do INE mostram que as startu-ps tecnológicas já representam cerca de 1,5% do PIB e o ecossistema digital tem crescido a dois dígitos. Em Cabo Verde, a inauguração de infra-estruturas como o Parque Tecnológico sinaliza uma nova era para a juventude empreendedora que cresce por toda a África e o mundo.

Ou seja, hoje, empreender representa liberdade de tempo, liberdade financeira e liberdade de escolha para muitos e, acima de tudo, representa coragem e auto-liderança desde a  visão até à execução.

É isto que muitos profissionais e empreendedores precisam de entender: Podes ser um empreendedor mesmo sem ter um negócio ou uma empresa. Da mesma forma que há muitos empreendedores que ainda lhes faltam esta mentalidade empreendedora.

Empreender não é apenas criar negócios. É adoptar um novo modelo de mentalidade centrado em resolver problemas reais e gerar soluções com impacto nas pessoas e na sociedade.

E daí nasce o novo termo, Intraempreendedor, que significa empreender por dentro. Nos meus programas de mentoria, acompanho empresários, mas também executivos e líderes que não deixaram os seus empregos, mas transformaram a forma como atuam. Tornaram-se líderes sem cargo, influenciaram equipas, inovaram processos e criaram impacto. Este é o perfil do intraempreendedor. Alguém que, mesmo dentro de uma estrutura tradicional, age com mentalidade de dono, focado em criar soluções globais e não apenas para o seu departamento ou função.

Segundo um estudo da Deloitte, mais de 60% das inovações nas grandes empresas surgem de iniciativas internas lideradas por colaboradores com atitude empreendedora.

Recentemente, uma gestora de recursos humanos que acompanhamos no programa Leadershift 360, lançou um projecto interno de retenção de talentos numa multinacional angolana. A iniciativa nasceu da sua frustração com a rotatividade da equipa. Propôs, desenhou e liderou o projecto. Hoje, o programa está implementado em três países e o seu nome foi promovido a diretora regional.

Empreender é resolver, é agir com visão e liderar mesmo que ainda se esteja dentro de uma estrutura por conta de outrem. Para além do intraempreendedor, há mais dois perfis de empreendedores que, com base em centenas de acompanhamentos e estudos de caso reais, identifiquei e que fecham a tríade da nova era que quero partilhar contigo:

  1. O Criador

Inicia do zero. Cria produtos, serviços, empresas. É movido por propósito e visão de longo prazo.

  1. O Conector

Monetiza as suas relações, a sua influência ou a sua imagem. Usa a comunicação e o posicionamento como principal activo.

  1. O Intraempreendedor

Inova dentro de estruturas existentes. Lidera mudanças internas, projectos transformadores e ganha influência pelo exemplo.

O que une estes três perfis é a atitude empreendedora. O que os distingue é o contexto.

Num mundo onde tudo muda rapidamente, depender apenas de um salário é, hoje, o maior risco financeiro que alguém pode correr. Por isso, um dos princípios que mais reforço aos meus mentorados é: “Antes de mudar de vida, aprende a mudar de mentalidade.”

É com essa mudança que surgirão inúmeras oportunidades como:

  • Lançar uma consultoria paralela;
  • Vender um serviço digital;
  • Criar um produto com base no teu conhecimento;
  • Tornar-te referência numa área específica.

Não se trata apenas de ganhar mais dinheiro. Trata-se de ganhar opções. E as opções impulsionam a liberdade.

Não podia despedir-me sem te deixar um pequeno plano de acção, caso queiras começar a tua jornada empreendedora hoje, com três simples passos que podes implementar imediatamente.

1 – Identifica um skill ou uma competência que já tenhas e que outras pessoas valorizam e estariam dispostas a pagar para ter ou saber.

2 – Procura um problema real que essa competência pode resolver no mercado hoje e para que tipo de perfis de pessoas.

3 – Cria uma micro-oferta irresistível e testa com o que já tens a custo financeiro zero mas de tempo e networking.

Lembra-te que a complexidade paralisa e a clareza e o simples escalam.

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Sobre o Autor

Abdel T. Camará é mentor de empreendedores, líderes e executivos na lusofonia, fundador da ALIZ Group, vice-presidente da Comissão executiva da CE-CPLP e presença frequente em palcos internacionais como orador. Abdel é reconhecido como uma das 100 personalidades negras mais influentes da Lusofonia pela Powerlist 100, e co-autor do livro “O Poder da Venda”, sendo também especialista em liderança, vendas e criação de fontes de rendimento. A sua missão é transformar mentalidades em acção e acção em resultados com sucesso.