
Os grandes bancos internacionais começaram a publicar os seus resultados trimestrais e, por enquanto, vários bateram as expectativas dos analistas. A nível europeu, o HSBC alcançou um lucro de 8,35 mil milhões de euros antes de impostos, superando as expectativas dos analistas que se situava nos 6,86 mil milhões; o Deutsche Bank atingiu um lucro de 1,78 mil milhões, o que compara positivamente com os 1,64 mil milhões estimados pelos analistas. Já o UBS reportou um lucro de 1,7 mil milhões, face a uma expectativa de 1,14 mil milhões para o mesmo período.
Por toda a Europa e não só, os maiores bancos viram o seu lucro trimestral subir, apesar da descida contínua das taxas de referência do Banco Central Europeu e da volatilidade do mercado, causada pela incerteza política e económica vinda do outro lado do Atlântico. Esta incerteza refletiu-se nos bons resultados da banca de investimento no primeiro trimestre do ano.
Observou-se um aumento de 32% na receita vinda do trading no UBS, para um recorde de 2,2 mil milhões de euros. O Société Générale conseguiu incrementar em 11% a receita desta mesma rubrica, totalizando 1,55 mil milhões, tal como o Barclays, que viu esta componente aumentar 16% para 2,37 mil milhões. Também o Deutsche Bank registou um disparo nas receitas da divisão global de banca de investimento.
Em Wall Street, de acordo com as contas do Financial Times, os maiores bancos – JPMorgan Chase, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Bank of America e Citigroup – arrecadaram uma receita de cerca de 32,53 mil milhões de euros em ‘trading’. Mas, apesar de os grandes bancos terem encontrado na incerteza fontes rentáveis, os alarmes já soam e as precauções tomam forma.
Banqueiros cautelosos devido às tarifas
Na apresentação dos resultados trimestrais, os líderes dos bancos norte-americanos deixaram palavras de aviso sobre a “turbulência económica” que as tarifas impostas a 2 de abril irão trazer. Os consumidores e as empresas estão mais cautelosos, adiantam. O HSBC indicou uma perda estimada de mais de 790 milhões de euros em crédito (ECL), fruto do impacto económico no trimestre. Acresce que o banco britânico alerta ainda para a possibilidade de um agravamento da qualidade do crédito.
Recorde-se que, apesar de sediado em Londres, a maioria dos negócios da instituição está na Ásia, onde as tarifas de Donald Trump ameaçam mais os exportadores e os importadores. “Assistimos a uma queda significativa dos volumes ao longo do corredor EUA-China nos setores que não beneficiaram de uma derrogação ou de uma redução das tarifas”, revelou o CEO do HSBC, Georges Elhedery, na apresentação dos resultados em abril. Apesar do tom preocupado, analistas citados pela Reuters destacam a ‘performance’ positiva do mercado asiático.
Por sua vez, e apesar da subida de 39% do lucro, o Deutsche Bank não ignora o impacto futuro das tarifas. O CEO, Christian Sewing, adiantou, numa nota aos colaboradores, que o banco criou “provisões adicionais para cobrir incertezas macroeconómicas maiores causadas pela questão das tarifas”.
A volatilidade do mercado aumentou as oportunidades dos ‘traders’ de lucrar ao mesmo tempo que realçou o risco de perdas, sublinha a Reuters.
O CEO do UBS, Sergio Ermotti, mencionou um cenário económico “particularmente imprevisível”, na apresentação dos resultados do banco, em linha com outros líderes do setor. O CEO do Barclays, Venkat Akrishnan, foi no mesmo sentido e reforçou a necessidade das instituições se protegerem “tal como sempre fizeram com a gestão ativa de risco”.
Com o mercado de ‘trading’ instável, os resultados da banca de investimento podem ser a forma de atenuar fracos resultados da banca comercial, aponta a Reuters. A agência de notícias dá o exemplo do Grupo Santander, onde houve um crescimento de 24% e 13% nas divisões de ‘corporate banking’ e banca de investimento, respetivamente, compensando os resultados medíocres nos mercados mexicano e brasileiro. Também o BNP Paribas revelou um aumento de receitas na área da banca de investimento nos primeiros três meses do ano. Já o Société Générale viu resultados positivos tanto na banca de retalho como em ‘equities trading’.
Para 2025, os bancos da Zona Euro já deram indicações de queda dos lucros, fruto da redução das taxas de juro pelo Banco Central Europeu. Estas já registaram sete cortes no último ano, estando agora nos 2,25%. A nível nacional, à data, só Santander Portugal apresentou resultados relativos ao primeiro trimestre do ano que confirmaram este prognóstico, apresentando uma quebra da margem financeira em quase 20% face ao período homólogo.