Pense na box que tem lá em casa e pense quanto custa produzi-la. Muito pouco. Mas o software que tem dentro e que lhe permite ver todos os canais que queira, isso sim, tem grande valor. E Portugal tem de apostar muito menos na primeira e mais na segunda vertente para conseguir criar riqueza que se veja e fugir aos crescimentos médios de 1% ao ano que marcaram as últimas décadas.

Garantir mais valor acrescentado nos setores que já dominam a economia portuguesa, com o turismo à cabeça, é essencial para fazer o país crescer. Mas se na indústria isso pode ser mais ou menos claro — se exportarmos o produto transformado e aqui garantirmos o fator marca, venderemos bem mais caro do que se estivermos a entregar o produto de melhor qualidade mas sem esse valor distintivo ou apenas o parafuso essencial mas que não é a máquina final — o que significa valor acrescentado no turismo?

Não é subindo preços, certamente, mas sendo mais seletivos, diferenciados na oferta, contar histórias: "É vencer pela emoção. As grandes marcas vendem mais do que produtos, vendem uma experiência, um estatuto, quem compra um Rolex não é para ver as horas", explica João Duque. Para o economista e presidente do ISEG, isso passa por competências de gestão mas também de marketing, além da capacidade de ganhar escala, através por exemplo de associações. "Mas temos de ser todos a fazê-lo."

Numa altura em que a Europa está em crise económica, com os seus maiores motores (Alemanha, França) quase parados, Portugal pode até tirar vantagem. Mas para isso, defende, é necessário que se aplique em criar condições para atrair investimento capaz de gerar diferenciação e riqueza. De resto, temos capacidade de oferecer muito em áreas como a transformação digital ou a sustentabilidade. Mas a chamada ao robustecimento na Defesa europeia pode abrir também muitas portas. E a pressão externa talvez nos obrigue a isso.

De que forma? Numa conversa de 15 minutos, em mais um episódio do podcast Acerto de Contas, do SAPO, o economista João Duque dá pistas e explica a economia por trás das promessas eleitorais. E no final aponta o "pecado capital" e a "subida aos céus" naquilo que são as políticas públicas desenhadas para uma solução.

Em seis episódios, o Acerto de Contas aborda seis temas-chave na campanha às Legislativas 2025 e que vão marcar a governação após as eleições de 18 de maio. Além da habitação, da saúde, da imigração e das contas certas, os salários e os caminhos para fazer crescer o país.

Veja todos os programas aqui no SAPO ou no Spotify e entenda de onde vem e porque custa tanto resolver a crise da Habitação e a da Saúde. Perceba o que está em causa nas políticas de imigração e que razões justificam a entrada de estrangeiros (mas que não pode acontecer sem filtros) e saiba porque parece que só o salário mínimo nacional cresce e temos cada vez mais pessoas a ganhar na fasquia dos mil euros. Será que pagamos demasiados impostos? É verdade que produzimos pouco apesar de termos um horário de trabalho superior ao de outros países? Portugal está mesmo a puxar pelo crescimento da Europa ou simplesmente ainda não parou, num contexto geoeconómico que tende para a paralisação generalizada?

Estas e outras dúvidas são esclarecidas por João Duque, numa conversa descontraída que também toca os caminhos defendidos para cada tema pelos partidos que vão a votos no domingo.