
A “Class of Wonders”, startup portuguesa que, a partir de uma metodologia de gamificação, lançou dois jogos que facilitam a aprendizagem de numeracia e literacia, tem sido decisiva na integração de crianças migrantes ou filhas de pais estrangeiros e que contactam pela primeira vez com a língua portuguesa. Francisco Pires de Miranda, CEO e fundador, fala disso no podcast “O Futuro do Futuro”.
“Os novos alunos que temos, agora do Sul da Ásia, são bons alunos, em regra são da ‘elite’ dos países de origem, e por isso têm grande capacidade de progressão, só não sabem ainda falar português”, realça. “E quando se dá as ferramentas para que progridam, eles brilham nos nossos sistemas públicos e isso fica muito óbvio para as escolas que os acolhem”, adianta.
Estes jogos facilitam algo fundamental para o desenvolvimento: que estes alunos estejam integrados em turmas com alunos portugueses. “Porque tu aprendes é com os teus pares, que são locais”, assinala, sublinhando também o contributo que esta integração dá para a aprendizagem da cultura e língua portuguesas, e também para que os alunos portugueses “conheçam outros hábitos e outras realidades”.
Em entrevista ao podcast “O Futuro do Futuro”, do Expresso, este empreendedor explica que este é mesmo “o mais novo problema premente da escola pública portuguesa”, dado que “já são 14% de alunos migrantes em todo território” e, sublinha, é mesmo em todo o território. “Esta ilusão, que eu também tinha, de que isto acontece nos grandes centros urbanos até é ao contrário”, explica. “Em certos sítios mais rurais, por causa da proveniência de mão de obra para a agricultura, há muitas escolas a ter [alunos estrangeiros]”, detalha.
Alunos estrangeiros têm mantido escolas que estavam a fechar
Francisco realça que é ótimo que isto aconteça, até porque tem mantido e recuperado “escolas que estavam a fechar”. “Estamos com uma saúde demográfica diferente, mas ao mesmo tempo, para o professor, se tivermos o modelo de ensino tradicional, que é mais diretivo, como é que faz? O maior segmento de crescimento entre alunos imigrantes não fala português”, desenvolve.
“Tem de se arranjar modelos que permitam mais autonomia e em que os alunos estejam mais motivados e consigam beneficiar da diferenciação que necessitam. Esta abordagem consegue, de maneira muito mais eficaz, estes alunos”, defende. Os jogos da Class of Wonders permitem essa adaptação e o acompanhamento, com métricas ‘traduzidas’ para as competências essenciais, do desenvolvimento individual de cada estudante à medida que ele avança no jogo.