
Num depoimento de quase três horas, Soares de Oliveira admitiu esta quinta-feira ter uma relação de amizade com Luís Filipe Vieira e Miguel Moreira, também arguidos no processo, e elogiou a "capacidade negocial" do antigo presidente dos encarnados. O antigo CEO das águias falava na 14.ª sessão do julgamento 'Saco Azul', que decorreu esta manhã, no Campus da Justiça, em Lisboa.
Respondendo ao presidente do coletivo de juízes, Vítor Teixeira de Sousa, Soares de Oliveira afastou a possibilidade do ex-presidente das águias e do antigo diretor financeiro terem lesado os encarnados. "Não acho possível que o Miguel Moreira pudesse enganar o Benfica. É uma pessoa em quem confiava e voltaria a confiar no futuro", disse, destacando, por outro lado, a forma o antecessor de Rui Costa angariava receitas. "Ele meteu muito dinheiro no Benfica, era surpreendente a sua capacidade negocial", frisou.
O agora dirigente do Al-Ittihad Jeddah, que conquistou o campeonato e a taça da Arábia Saudita na época finda, começou por contar o seu passado profissional, ligado à informática e gestão e que "não tinha a ver com o futebol", antes de chegar à Luz, em maio de 2004. "Em 1992, criei a minha empresa, que conheceu expansão significativa. Começou do zero e passados alguns anos já tinha 500 pessoas", recordou. A Cap Gemini, assim se chamava a consultora, seria adquirida por uma multinacional.
Soares de Oliveira adiantou, depois, que "não conhecia Luís Filipe Vieira antes da primeira entrevista" para admissão no Benfica, o que se concretizou em maio de 2004. O que começou por ser uma relação profissional evoluiu para uma amizade. "Normalmente, colocava as relações profissionais acima de tudo. Neste caso, tínhamos experiências diferentes. No entanto, sempre achei que as organizações só atingem o pico com perfis diferentes que se complementam. Ele é um empreendedor, um homem feito de mangas arregaçadas", afirmou, em tribunal.
Mais de duas décadas depois de ter entrado no Benfica, Soares de Oliveira expressou uma certeza. "Tenho uma relação de amizade com Luís Filipe Vieira, que devemos manter enquanto cá estivermos." O mesmo se aplica a Miguel Moreira, que entrou nos encarnados como diretor financeiro antes de progredir no universo encarnado.
Soares de Oliveira, de 65 anos, admitiu que entre Vieira e Moreira "havia uma relação de confiança e estritamente profissional". "No entanto, era absolutamente natural que Vieira entrasse no meu gabinete, que era ao lado do dele, e dissesse 'anda cá Miguel, para discutirmos esta contratação'", disse.
Nas quase três horas de depoimento, o gestor deixou claro que não participou em qualquer esquema de circulação de dinheiro vivo no clube ou 'saco azul', empurrando para Miguel Moreira a responsabilidade do contrato com a Questão Flexível. "Não sei o que foi negociado entre ele e José Bernardes. Ele tinha autonomia", garantiu.
De acordo com a acusação, a Benfica SAD e Benfica Estádio terão transferido 2,2 milhões de euros para a empresa Questão Flexível, pelo pagamento de serviços de consultoria informática alegadamente fictícios, esquema esse que terá sido gizado por Vieira. "Não tenho conhecimento de qualquer discussão entre Luís Filipe Vieira e Miguel Moreira relativamente a algum plano. Mas é absolutamente falso que tenha aderido a algum plano", assegurou Soares de Oliveira, que é acusado de três crimes de fraude fiscal e 19 de falsificação de documento, em coautoria.
Depois da audição uma testemunha na tarde desta quinta-feira, o julgamento do caso 'Saco Azul' continuará dias 16 e 26, sendo retomado em setembro.