Correlação não equivale a causalidade, o que é uma maneira de dizer que ter feito uma coisa em nada garante que se faça outra, sobretudo no futebol. Portugal conquistou, no domingo, o título de campeão da Europa de futebol em sub-17 pela terceira vez na história, após as vitórias em 2003 e 2016. Ser tão jovem e conseguir logo um feito tão importante quando, na sua maioria, os jogadores ainda nem são profissionais de corpo inteiro, não assegura a nenhum uma carreira de sucesso.

Muitos mais fatores há a ter em conta, desde a fortaleza mental de cada um, os treinadores que apanham, a azar com lesões ou a sorte de estar no lugar certo, com a prontidão certa, para aproveitar uma oportunidade no futebol sénior caso ela surja. Tendo em conta as duas vezes anteriores em que Portugal garantiu o título europeu de sub-17, de entre esse par de fornadas apenas 10 jogadores chegaram à seleção principal de Portugal.

O ‘eterno’ João Moutinho é o expoente máximo deste aproveitamento, com 146 internacionalizações, sendo apenas ultrapassado neste registo pelo capitão Cristiano Ronaldo. O médio, hoje no SC Braga, foi suplente na final de 2003, relegado para o banco por João Coimbra e Márcio Sousa. Nenhum chegou a ser convocado para a seleção A.

Aos 38 anos, o médio prolongou até 30 de junho de 2026 o contrato com os minhotos, sendo o único dos campeões a 17 de maio de 2003, em Viseu, ainda em atividade e um entre a meia dúzia dos comandados por António Violante que chegaram à seleção principal.

Moutinho, autor de sete golos pela seleção principal, juntou ao título de sub-17 o de campeão da Europa absoluto em 2016, juntamente com Vieirinha (25 internacionalizações e um golo), que pôs termo à carreira no mês passado. O então extremo, em adolescente, aproveitado mais tarde como lateral direito nessa epopeia em França, esteve igualmente na conquista da Liga das Nações, em 2019.

De fora destas conquistas ficou Miguel Veloso, que ergueu o troféu após capitanear a defesa da seleção sub-17 e acabou por consolidar-se no meio-campo, ultrapassando a meia centena de jogos pela seleção principal (56 e três golos), numa das seis promoções dos juvenis campeões continentais, juntamente com Paulo Machado (seis internacionalizações), Tiago Gomes e Hélder Barbosa (uma cada).

Sem vestirem a camisola da principal equipa nacional ficaram 12 campeões da Europa de sub-17.

João Moutinho em ação no Europeu de 2008, a primeira grande competição em que esteve com a seleção principal.
João Moutinho em ação no Europeu de 2008, a primeira grande competição em que esteve com a seleção principal. Alex Livesey

Um deles foi Márcio Sousa, o herói da final frente à Espanha, que marcou os dois golos da vitória lusa por 2-1 ao antigo guarda-redes do Sporting Antonio Adán, numa lista que inclui os avançados Carlos Saleiro, Bruno Gama e Manuel Curto, o médio João Coimbra, os defesas Tiago Costa, Vítor Vinha, Paulo Ricardo, João Dias e João Pedro e os guarda-redes Mário Felgueiras e Pedro Freitas.

Dos comandados por Hélio Sousa na segunda conquista lusa em sub-17, em 2016, já emergiram quatro jogadores, três deles praticamente ‘donos’ da titularidade na seleção comandada por Roberto Martínez, que defronta a Alemanha, nas meias-finais da Liga das Nações, em Munique, esta quarta-feira.

O guarda-redes Diogo Costa segurou a titularidade da equipa das ‘quinas’ e já conta 34 internacionalizações, quase tantas como o extremo Rafael Leão, autor de cinco golos nas 39 presenças na seleção principal, enquanto o lateral Diogo Dalot (29 internacionalizações e três golos) também é invariavelmente aposta do selecionador nacional.

O quarto internacional é o médio Gedson Fernandes, que alinha nos turcos do Besiktas, e que foi suplente utilizado em dois jogos particulares em 2018, no empate com a Croácia (1-1) e na vitória na Escócia (3-1), quando alinhava no Benfica.

Desta geração consagrada em Baku, em 21 de maio de 2016, na vitória por 5-4 no desempate através de grandes penalidades, após a igualdade 1-1 – com golo inaugural de Dalot – ainda pode estar viva a esperança de chegar à seleção principal, sobretudo para jogadores como Diogo Leite, Florentino Luís, Thierry Correia e Jota.

Mais remota, mas não impossível, até por todos terem entre 25 e 26 anos atualmente, pode ser a concretização do sonho para os guarda-redes Luís Maximiano e João Virgínia, para os defesas Diogo Queirós, Rúben Vinagre e Luís Silva, para os médios Domingos Quina, João Lameira e Miguel Luís ou para os avançados Mickaël Almeida, Zé Gomes e Mesaque Djú.

Ainda é cedo para fazer previsões

Só o futuro dirá até onde chegarão os terceiros portugueses consagrados campeões da Europa de sub-17, com o inequívoco triunfo frente à França, por 3-0, no domingo, com golos de Anísio Cabral, Duarte Cunha e Gil Neves.

Com o triunfo na memória, é unânime o potencial encontrado nos jogadores orientados por Bino Maçães, com o médio e capitão Rafael Quintas à cabeça, depois de ter sido eleito o melhor jogador do torneio disputado em Tirana.

O central Mauro Furtado, o médio Bernardo Lima e o extremo Stevan Manuel já se estrearam nas competições profissionais nacionais, Romário Cunha foi decisivo no desempate com a Itália, nas meias-finais, enquanto o avançado Tomás Soares foi o melhor marcador luso, com três golos, apesar de ter sido suplente utilizado nos cinco jogos.

O próximo passo rumo a uma possível afirmação para (pelo menos) grande parte destes 20 novos campeões europeus está marcada para novembro, entre 3 e 27 de novembro, no Qatar, onde vão disputar a 20.ª edição do Mundial do escalão, enfrentando, no Grupo B, Japão, Marrocos e Nova Caledónia.

Portugal regressa à competição 22 anos depois, tendo como melhor desempenho o terceiro lugar na estreia, na Escócia, em 1989, com o atual selecionador de sub-17 entre os convocados de Carlos Queiroz, juntamente com Luís Figo, Peixe, Abel Xavier e Capucho.