
A adaptação às dinâmicas de seleção será o grande desafio do recém-chegado treinador Luís Freire no comando dos sub-21 nacionais, perspetiva o ex-futebolista internacional português Ukra, que coincidiu com o sucessor de Rui Jorge no Rio Ave.
"É uma realidade nova, mas a sua mentalidade é de alguém que veio de baixo e sabe o que é necessário para motivar os atletas e qual a resiliência e o sacrifício que teve para chegar ao topo. Obviamente, ter jogadores de qualidade, que pertencem a grandes clubes, têm um potencial enorme e estão a um passo da seleção AA, vai ajudá-lo a pôr em prática as suas ideias da melhor forma possível. Acima de tudo, acredito que a fome de vencer dele fará grande diferença", disse à agência Lusa o ex-avançado, de 37 anos.
Luís Freire foi anunciado na quarta-feira como sucessor de Rui Jorge, que cessou funções cinco meses depois da eleição de Pedro Proença para a presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), deixando para trás um percurso de 14 anos e meio, no qual a seleção nacional disputou cinco Europeus de sub-21 e foi finalista derrotado em 2015 e 2021.
"As ideias vão certamente ser diferentes. Há que dar uma palavra ao trabalho que o Rui Jorge fez. Não conseguiu conquistar o tão desejado título, mas fez grandes trabalhos e acredito que o Luís Freire vá conseguir esse marco histórico", apontou, em alusão a um dos três troféus em falta no palmarés das seleções nacionais, a par dos títulos mundiais de seniores e de sub-17.
Luís Freire, de 39 anos, estava livre desde maio, quando deixou o Vitória de Guimarães ao fim de oito vitórias, seis empates e cinco derrotas em 19 jogos, no sexto lugar da edição 2024/25 da 1.ª Liga, fora da zona de acesso às competições europeias, na sequência de uma passagem pelo Rio Ave (2021-2024), com o qual se sagrou campeão da 2.ª Liga, em 2021/22, na primeira época da segunda passagem de Ukra pelo clube de Vila do Conde.
"As coisas no Vitória de Guimarães não se proporcionaram a nível de qualificação para a Liga Conferência, porque, se assim fosse, tenho a certeza de que ele estaria ali. Costuma-se dizer que nada acontece por acaso e o Luís Freire teve esta oportunidade. É um passo incrível e não estava à espera. Acredito que vai corresponder da melhor forma", reiterou o antigo extremo, com uma internacionalização AA, mais 16 jogos e três golos nos sub-21.
Antes das experiências com Rio Ave e Vitória de Guimarães, Luís Freire comandou o Ericeirense, o Pêro Pinheiro, levando-o aos títulos das duas primeiras divisões distritais da Associação de Futebol de Lisboa, em 2015/16 e 2016/17, o Mafra, com o qual venceu em 2017/18 o Campeonato de Portugal, então terceiro escalão nacional, o Estoril Praia e o Nacional, estreando-se na 1.ª Liga em 2020/21.
"Nunca foi um treinador de ter muitas expectativas. Focou-se sempre muito no presente e por isso é que tem tido sucesso e conseguiu fazer algo muito difícil, que é vir da parte mais baixa da pirâmide e subir a pulso com trabalho, dedicação compromisso e qualidade. Estar num dos cinco principais campeonatos europeus ou chegar a um grande clube português era, se calhar, o grande objetivo dele, mas esta oportunidade é única", avaliou.
Ukra confia que Luís Freire está pronto para as especificidades de uma seleção formada por "jogadores que já competem nas principais Ligas europeias e estão habituados a grandes níveis de exigência", mesmo deixando de acompanhar diariamente a evolução de cada atleta, tal como se acostumou a fazer nas últimas 12 épocas em contexto de clubes.
"Ele é muito ambicioso, obcecado pelo trabalho e dedicado. Tem uma equipa técnica que já o conhece há muitos anos e com a qual trabalha de olhos fechados. É importante que haja essa coesão e transparência, porque o mister é muito chegado aos jogadores e um amigo com quem podemos falar à vontade. Já lançou vários jovens, sabe como falar e o que tem de fazer para poder extrair o melhor de cada um e é muito humilde", salientou.
O antigo avançado de Rio Ave, FC Porto, Sporting de Braga ou Santa Clara, entre outros clubes, espera ver uma seleção de sub-21 "dominadora, que goste de controlar o jogo e de procurar os espaços através da posse e tenha um futebol apoiado, com uma imediata reação à perda da bola, independentemente da tática e das dinâmicas entre jogadores".
"Mostrou isso no Rio Ave, que esteve praticamente três anos a jogar com uma linha três defesas, e no Vitória de Guimarães, no qual se adaptou a uma linha de quatro atrás. Em termos de sistema, foi algo em que o Luís Freire evoluiu no último ano com a troca de clube. Percebeu que é importante ter várias soluções, porque os jogos e as equipas nunca são iguais", terminou o vencedor de um campeonato, uma Taça de Portugal e uma Liga Europa pelo FC Porto, que fechou uma carreira de 17 épocas como profissional em 2024.