Que clube tem o site mais acessível em Portugal, em termos de disponibilidade e de facilidade de acesso a informações relevantes sobre a instituição? É uma pergunta difícil, que requer múltiplas variáveis para se ter uma resposta. E é isso que a SIGA (Sport Integrity Global Alliance), a partir de hoje, introduz no mercado. 

A empresa especializada na análise da transparência no desporto lançou o Índice de Transparência no Desporto, que se apresenta como a «primeira ferramenta de aferição independente» desenhada para «avaliar objetiva e externamente os níveis de transparência e boa governação, a todos os níveis, de organizações desportivas».  

O projeto, cofinanciado pela Comissão Europeia, também permite comparar a avaliação feita entre clubes, ligas e federações. E todos os resultados são obtidos a partir de informação disponível publicamente nos sites das organizações.  

A ferramenta está, a partir de hoje, disponível para o público AQUI e A BOLA teve acesso antecipado à mesma para analisar a transparência dos sites desportivos em Portugal, com foco nos clubes de futebol.

FC Porto lidera, sem impressionar 

O Índice de Transparência no Desporto baseia a classificação em «15 indicadores que todas as organizações podem cumprir», aos quais se atribui um ou zero pontos. Portanto, a nota máxima que uma instituição pode ter é 15. Mas os clubes portugueses estão longe disso. 

Esses 15 indicadores distribuem-se por três grandes domínios: Organizacional, Operacional e Financeiro. Assim, o FC Porto é o melhor clube português, com nota 9, seguido do Sporting (8) e do Benfica (7). O Índice analisou as performances dos sites de todos os clubes profissionais no país - que militam, portanto, na Liga ou na Liga 2 - e estes foram os melhores, apesar de as águias já terem uma nota negativa. 

Os três emblemas tiveram as melhores notas no domínio Organizacional, que olha para aspetos como a estrutura de governação, código de conduta, membros e lista de parceiros: FC Porto e Sporting tiveram 5, mais um ponto que o Benfica. No entanto, todos eles só somaram um ponto na disponibilidade de informação relacionada com políticas de igualdade, diversidade e privacidade (domínio Operacional), entre outras. 

No que toca às informações financeiras (divulgação de relatórios de contas e política anticorrupção são dois dos indicadores em análise), o FC Porto tem a nota de 3, mais um ponto do que os dois rivais. 

Escassez de informações financeiras

Olhando para todos os outros clubes profissionais em Portugal, os que ficaram a um ponto da nota, já de si negativa, do Benfica, foram SC Braga, Vitória de Guimarães, Tondela, Casa Pia, Gil Vicente, Rio Ave, Académico de Viseu e Marítimo

Aqui se vê uma tendência dos sites de clubes portugueses, que têm maior transparência no domínio organizacional, mas pecam, no geral, no fornecimento de informação sobre as diferentes políticas que cada organização aplica. Há pouca informação sobre se os clubes portugueses têm políticas de diversidade, de proteção de dados ou de denunciantes.

Mas ainda há clubes como Vitória de Guimarães, Estrela da Amadora, Moreirense ou Boavista que nem pontuam no domínio financeiro ao não disponibilizarem informações relativas às contas do clube, relatórios, política de contratação pública, entre outros aspetos. 

Listando as notas finais dos restantes clubes portugueses: Feirense, Mafra, Santa Clara, Estoril, Alverca, Paços de Ferreira, Famalicão, Leixões, Torreense, União de Leiria – 5; Aves SAD, Boavista, Nacional, Estrela da Amadora, Penafiel, Portimonense – 4; Chaves, Moreirense, Farense, Oliveirense – 3; Vizela – 2. O Felgueiras não teve nota por não ter um site ativo.  

Instituições portuguesas próximas do topo 

Saindo da esfera dos clubes, o Índice de Transparência no Desporto também olhou para múltiplos sites de outras organizações em Portugal e concluiu que duas delas ficam próximas da pontuação perfeita (têm 13 em 15): a Federação Portuguesa de Golfe e a Federação Portuguesa de Ténis, que obtiveram nota máxima nos domínios Organizacional e Financeiro.  

Logo a seguir está a Federação Portuguesa de Futebol, com 12 pontos e nota máxima na parte organizacional. Para termos de comparação com a outra entidade que rege o futebol nacional, a Liga Portugal tem oito pontos, pecando sobretudo na disponibilidade de informações financeiras relevantes, segundo este Índice. 

Também com 12 pontos ficaram as Federações Portuguesas de Ginástica e de Natação. 

«O Índice é um catalisador para uma mudança positiva»

Emanuel Macedo de Medeiros, diretor-executivo da SIGA, afirma que este lançamento «é apenas o início» do que a empresa quer alcançar. «O nosso objetivo é expandir o alcance e o impacto desta ferramenta de avaliação comparativa independente, aumentando progressivamente o número de organizações avaliadas, a profundidade da análise e introduzindo uma capacidade global. Acreditamos que, através desta avaliação objetiva, de dados acessíveis ao público e de intervenções de reforço das capacidades, podemos promover reformas estruturais e reforçar uma cultura de integridade e transparência em toda a indústria do desporto.» 

«O nosso objetivo é dar nome e fama, não nomear e envergonhar. Estamos aqui para reconhecer o mérito, destacar as melhores práticas e encorajar todas as Organizações Desportivas a melhorar continuamente os seus padrões de governação. Acreditamos que todas as Organizações podem atingir a pontuação máxima no Índice em termos de Transparência», aponta também.

«O Índice de Transparência no Desporto», conclui, «é muito mais do que uma métrica - é um catalisador para uma mudança positiva e uma oportunidade concreta para transformar positivamente o desporto.»