
O título de voleibol feminino conquistado na semana passada pelo Benfica, após 50 anos de jejum, foi mais emotivo para Rui Moreira, um treinador que até já se tinha sagrado campeão português, mas não no "clube do coração".
"Não foi o meu primeiro título, mas foi o meu primeiro título no Benfica, e, por si só, já era especial, e foi no meu clube. Acho que quando temos a possibilidade de trabalhar naquilo que gostamos, de nos sentirmos realizados e de atingirmos os objetivos a que nos propomos, e fazê-lo no clube do coração, é sempre especial", disse Rui Moreira, em entrevista à Lusa.
O Benfica conquistou a 8 de maio o 10.º título nacional de voleibol feminino, 50 anos após o último êxito e incluindo um longo período em que a modalidade esteve extinta no clube, ao vencer o Sp. Braga por 3-2, na final do campeonato de 2024/25.
"É um clube que não está habituado a ter um hiato tão grande entre conquistas. Sabemos que vamos ficar ligados à história do clube por sermos as pessoas que representaram a equipa que conquistou o campeonato 50 anos depois. É bom ficar ligado à história de um clube como o Benfica", assinalou.
O técnico, de 39 anos, lembrou "as adversidades" que o clube lisboeta enfrentou na final da prova, onde perdeu os dois primeiros jogos com os bracarenses, ambos por 3-2, conseguindo depois igualar a série com triunfos por 3-1 e 3-0, antes de assegurar a conquista do título na negra (3-2) do quinto e decisivo encontro.
"O jogo poderia ter tido outro desfecho, mas acabou por resumir muito daquilo que foi a nossa época, com muita superação, muita resiliência, muito sacrifício, ultrapassando muitas dificuldades, e este play-off acabou por mostrar tudo aquilo que foi a nossa época, a lutar contra as adversidades", observou.
A derrota na final da Taça Ibérica e a eliminação precoce na Taça de Portugal acabaram por destoar um pouquinho, mas foi uma época muito irregular
Rui Moreira
Treinador
O Benfica teve "o campeonato quase perdido" e só "com muita superação, alma, crença e trabalho coletivo" conseguiu alcançar uma "vitória histórica", mas, apesar de ter concretizado o principal objetivo, Rui Moreira reconheceu que "a época teve muitos altos e baixos".
"A derrota na final da Taça Ibérica e a eliminação precoce na Taça de Portugal acabaram por destoar um pouquinho, mas, novamente, foi uma época muito irregular e, talvez, essa irregularidade e inconsistência tenha feito com que, em alguns momentos, não conseguíssemos estar preparados para passar os problemas que as equipas adversárias nos colocaram", admitiu.
O treinador das águias sabe que a época não foi perfeita, mas permite-lhe exclamar "missão cumprida", em jeito de balanço dos dois anos no cargo, porque conseguiu "conquistar troféus históricos "da forma mais difícil".
"E da forma mais difícil, porquê? Nós temos que criar uma cultura de trabalho, uma cultura de vitória, temos que estar nos momentos de decisão, mas, ao mesmo tempo, temos que formar e desenvolver atletas. No contexto do Benfica, este investimento nas atletas jovens, vou ser muito sincero, acho que é o caminho", explicou.
Um caminho que exige paciência, especialmente quando se aponta a conquistas europeias, até porque ainda existe "um hiato muito grande entre a realidade no campeonato português e a europeia", advertiu
"É possível, mas precisamos de mudar muitas coisas. Não o Benfica, mas o voleibol português em si, precisa de continuar a mudar muita coisa, a crescer e a melhorar em muitos aspetos", defendeu à Lusa o técnico, apesar de assinalar que "o voleibol feminino em Portugal, nos últimos seis anos, deu um salto muito grande".
A aposta de Benfica, FC Porto e Sporting na vertente feminina da modalidade é apontada pelo treinador campeão como a principal razão para esse desenvolvimento e reflete-se na seleção nacional, que conquistou a primeira prova internacional em 2024, ao vencer a Silver League.
"Nós, por investirmos na atleta portuguesa, acabamos por ajudar a seleção, mas estas conquistas e o trabalho que se faz lá durante o período de verão também se reflete na forma como elas chegam bem aos clubes e ajudam-nos a continuar a fazer esse investimento. E acho que, no fim, ganha o voleibol feminino", considerou.