Erik ten Hag saiu e Rúben Amorim é a escolha firme do Manchester United. Apenas falta convencer o Sporting para o técnico abraçar a primeira aventura como treinador no estrangeiro, logo num dos maiores clubes do mundo e na aliciante Premier League.

A 14ª posição atual no campeonato, porém, é um dos fortes sinais que a missão nos Red Devils, a acontecer, não vai ser fácil. Desde a era Alex Ferguson, o clube de Old Trafford é cada vez mais um gigante em queda.

Para conhecer mais sobre o desafio que Amorim pode encontrar e como está a ser recebida a sua possível chegada, o zerozero recorreu à sabedoria de Stephen Gillett, jornalista inglês e editor do nosso portal "irmão", PlaymakerStats.

«Em Inglaterra confiam em quem chega da Liga Portuguesa»

Há muito tempo contestado, Erik ten Hag acabou despedido depois de mais uma desilusão interna na visita ao West Ham. Apesar de um cenário não surpreendente, os adeptos dos Red Devils ainda não tinha o foco em apontar novos treinadores ao clube, revela-nos Stephen Gillett.

«Acho que todo o ruído em relação a Ten Hag não permitiu aos adeptos estarem a pensar em novos treinadores. A saída era esperada há muito tempo, só que é uma sensação estranha depois de ter acontecido. O Rúben Amorim é o favorito de várias pessoas para o cargo, mas é natural existir um desconhecimento do grande público sobre os seus feitos no Sporting», começou-nos por explicar.

«Em Inglaterra as pessoas confiam na competência de jogadores e treinadores que chegam da Liga Portuguesa. São muitos os casos no passado e no presente. Obviamente, vão sempre existir vozes contra e questionar a valia do que conseguiu. Nem todos conhecem o que era e passou a ser o Sporting com Amorim», acrescentou.

Sem ser campeão desde 2013 e depois do longo reinado de Alex Ferguson, o Manchester United é um clube mergulhado numa crise de projeto e identidade. Amorim, para o editor do PlaymakerStats, apresenta características que o colocam como um dos melhores candidatos disponíveis para o cargo.

«Não tem existido uma linha contínua desde a saída de Alex Ferguson. Têm tentado de tudo. Os grandes nomes, como Van Gaal e Mourinho. A escolha de Sir Alex, que foi David Moyes. Um homem da casa, como Solskjær. Com Ten Hag a ideia era de um treinador de projeto, de potencial para chegar ao topo.»

«Sinto que o perfil de Amorim é perfeito: muito potencial, mas já uma experiência muito interessante no Sporting. O desafio vai ser enorme», confessou.

«A Ineos quer criar um ambiente de elite»

Desde fevereiro de 2024, Sir Jim Ractliffe - já dono de Lausanne e Nice, além de grandes investimentos em outras modalidades - juntou-se ao grupo de investidores do clube e a Ineos Sports, a sua empresa, passou a gerir o dia-a-dia do futebol.

Uma mudança significativa na hierarquia e que já teve grande influência em escolher Rúben Amorim.

«Todos tiveram tempo, em especial Ten Hag. Esta é também a primeira escolha da Ineos para treinador. Os problemas no United ultrapassam treinadores. A direção antes tinha um pensamento que o estádio podia estar a cair e a academia sem investimento, que um bom técnico resolvia», admitiu-nos Stephen.

Jim Ratcliffe e a Ineos querem devolver sucesso ao clube @Getty /

«A Ineos quer criar um ambiente de elite e que envolve muitos aspetos: investimento em Old Trafford, na área do recrutamento, no staff. Estavam a criar uma base para o Ten Hag, parecia, mas as sensações foram tão más que ele acabou por não usufruir dessas melhorias estruturais. Acredito que Amorim vai ter tempo para trabalhar, até olhando para bons exemplos nos rivais», analisou.

O atual plantel do Manchester United tem qualidade para render mais? Na opinião do jornalista, sim, mesmo com muitas dúvidas em vários elementos.

«É uma mistura entre falta de algum talento e a utilização incorreta dos jogadores [pouca qualidade de jogo]. Tenho alguma simpatia por Ten Hag, acho que o recrutamento não tem sido consistente e há jogadores sem capacidade para a exigência do clube. Dúvidas sobre Højlund, um grande investimento, Casemiro e até onde pode chegar Garnacho

«Ainda assim, há argumentos para fazer melhor com o atual plantel. Tenho curiosidade a relação do Rúben com Rashford e Bruno Fernandes, por exemplo. Acho que são precisas grandes mudanças», analisou.

Apesar da 14ª posição atual na Premier League, Stephen Gillett aponta a chegada a lugares europeus como principal objetivo da temporada para Rúben Amorim, cuja comunicação vai ser testada num cenário de grande exigência.

«Esta época os objetivos passam por chegar à Europa e até ao top-6. Ainda é cedo na época e sinto que isso contribuiu para a saída do Ten Hag. Tudo o resto, como as Taças e a Liga Europa, é um bónus. Ten Hag venceu duas taças e fez muitas vezes referência a isso [risos], no entanto, não existiam dentro do campo sinais de crescimento e otimismo. As sensações num projeto são muito importantes.»

«Metade da batalha vai ser colocar todos a remar na mesma direção. Um teste também à capacidade de comunicação do Rúben, aspeto em que o anterior treinador teve muitas dificuldades. É preciso estabelecer uma cultura», concluiu.

Longe já vão os tempos de sucesso da era Ferguson @Getty /