A época de ciclismo de 2025 já começou e os aficionados já tiveram oportunidade (por diversas vezes) de assistir a exibições estonteantes e duelos milimétricos e vivenciar emoções até ao último instante das corridas. Chegados ao segundo fim de semana de março e após os setores de sterrato da Strade Bianche, é fundamental fazer um ponto de situação e elencar alguns dos ciclistas em evidência nestes primeiros meses da temporada. Naturalmente, para além destes 10 ou em detrimento de algum dos selecionados, outros poderiam ter sido escolhidos para figurar nesta lista, mas só 10 poderiam ser escolhidos e os que a seguir são elencados são justos merecedores de menção expressa.

Jhonatan Narváez (UAE Team Emirates – XRG)

O explosivo equatoriano surpreendeu tudo e todos quando, no Giro d’Italia do ano passado, conquistou a primeira maglia rosa ao esloveno Tadej Pogacar, batendo-o ao sprint na linha de meta (na altura, ainda competiam por formações distintas- Pogacar na UAE e Narvaéz na INEOS Grenadiers). Com o lema “Se não podes vencê-los, junta-te a eles” em mente, a UAE e Narváez assinaram um contrato de dois anos, que se iniciou da melhor forma para ambos.

No Santos Tour Down Under, o equatoriano evidenciou uma apurada leitura de corrida e toda a sua capacidade explosiva, ao finalizar no pódio das etapas 3 e 4, e mostrou ser o mais forte na mítica subida de Willunga Hill, tendo aí triunfado ao sprint. Com isto, mostrou o porquê de ser uma importante contratação para fortalecer ainda mais a máquina vitoriosa da UAE, tendo juntado à vitória em Willunga Hill a classificação geral final do Santos Tour Down Under, a primeira prova World Tour da temporada.

Uma semana depois, viajou para a América do Sul, onde se sagrou novamente campeão nacional equatoriano. Narváez esteve também em bom plano no fim de semana de abertura das Clássicas do empedrado, tendo sempre figurado como um dos elementos presentes nos “cortes” decisivos das provas.

Jonathan Milan (Lidl – Trek)

O italiano, uma máquina de watts de quase 2 metros, é até ao momento o ciclista mais vitorioso da equipa da Lidl-Trek, já com três vitórias individuais e uma coletiva neste início de temporada, esperando-se ainda muito dele até ao final do ano.

Começou a época em grande forma na Volta a la Comunitat Valenciana, onde venceu o contrarrelógio por equipas da etapa inaugural por larga margem. na companhia de grandes roladores da equipa, como Mathias Vacek, Daan Hoole e Jakob Soderqvist; e ergueu os brancos com bastante “à-vontade” no sprint da etapa final de Valencia.

O italiano seguiu depois para o Médio Oriente, para o território dos sprinters (UAE Tour), onde travou grandes batalhas com os seus grandes rivais velocistas, tendo vencido a chegada dura da etapa 1 e a etapa 4 e sido o mais regular da competição, o que lhe valeu a conquista da camisola verde no final da competição. De destacar ainda a sua presença na Kuurne -Brussel- Kuurne, onde não obteve o resultado pretendido por má colocação no sprint final.

Tadej Pogacar (UAE Team Emirates – XRG)

O melhor ciclista do mundo voltou a mostrar o porquê de ser o melhor ciclista do mundo e isto só com oito dias de competição.

Foi chamado este ano para defender o orgulho dos Emirados na “prova da casa”, o UAE Tour, e facilmente voltou a triunfar num sítio onde já havia sido feliz por duas vezes, em 2021 e em 2022. Pogacar venceu com grande facilidade as duas chegadas em alto de Jebel Jais e de Jebel Hafeet, que lhe garantiram uma vitória confortável na classificação geral, e ainda pôs os contrarrelogistas em sentido no contrarrelógio individual da etapa 2, no qual foi terceiro.

Quinze dias após o “passeio” no deserto foi a Siena defender o seu título na Strade Bianche e tentar uma terceira vitória e foi tão dominador que nem uma queda aparatosa o impediu de subir tranquilamente ao lugar mais alto do pódio.

Atenção ao que o esloveno tem ainda preparado para o que se segue na temporada…

Tim Merlier (Soudal Quick – Step)

Nova época, mesmo Tim Merlier…

O velocista belga voltou a exibir a sua aceleração estonteante e a sua capacidade de sprintar a partir de longe, que lhe valeram quatro vitórias no Médio Oriente neste início de temporada (duas no AlUla Tour e duas no UAE Tour).

É o ciclista mais ganhador da Soudal Quick – Step e, tal como Jonathan Milan, não pôde disputar o triunfo na Kuurne – Brussel – Kuurne por ter sido mal colocado pela equipa no último quilómetro da prova.

Jasper Philipsen (Alpecin – Deceuninck)

O velocista belga parece não estar com a mesma ponta de velocidade de Tim Merlier e Jonathan Milan, mas muita atenção… Porque demonstrou ser uma máquina devoradora de empedrado no fim de semana de abertura das clássicas do empedrado e demonstrou uma leitura de corrida muito acima da média nas duas provas na Bélgica.

O campeão em título da Milano – Sanremo não conseguiu conquistar qualquer das etapas ao sprint do UAE Tour; mas na Omloop Nieuwsblad foi terceiro e mostrou uma capacidade impressionante de seguir com os melhores nas subidas; e triunfou na Kuurne – Brussel – Kuurne após um lead-out magnífico do seu colega de equipa australiano Kaden Groves. As exibições de Philipsen nas Clássicas do empedrado certamente são motivo de preocupação para os adversários…

Soren Waerenskjold (Uno – X Mobility)

O gigante norueguês, justo successor do “Viking” Alexander Kristoff (talvez ainda mais completo), leva já dois triunfos nesta temporada e um deles é de prestígio elevadíssimo.

Tendo iniciado a época em Espanha, nas corridas de um dia de Mallorca, rumou depois à Etoile de Bessèges – Tour du Gard, em França. Aí, venceu com um sprint poderoso a segunda tirada da prova e fez um ensaio geral para a obra de arte materializada quase um mês depois na Omloop Nieuwsblad, onde, para supresa só dos mais desatentos, levou a melhor sobre Paul Magnier e Jasper Philipsen, num sprint até aos últimos metros.

Thomas Pidcock (Q36.5 Pro Cycling Team)

O britânico de Leeds, após desentendimentos com a sua antiga equipa (INEOS Grenadiers), optou por mudar de ares, tendo assinado contrato com uma equipa que lhe promete total liberdade e lhe assegura liderança absoluta onde quer que compita, a Q36.5.

Pidcock certamente pensou que “às vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois passos em frente” e parece que poderá estar a acontecer mesmo isso na sua carreira. Estagnado na formação britânica, chegou à sua nova formação e soma já quatro vitórias desde o final de janeiro. Impôs-se facilmente à concorrência em duas etapas e na classificação geral do AlUla Tour; e venceu uma etapa na Vuelta a Andalucia Ruta Ciclista del Sol, tendo finalizado também a competição no pódio da classificação geral.

Ao iniciar o mês, mostrou capacidade para seguir os melhores na Omloop Nieuwsblad; e seguiu agora rumo a Itália, onde terminou num honroso segundo lugar na Strade Bianche e onde irá prosseguir a sua extensa e intensa campanha de Clássicas.

Christian Scaroni (XDS Astana Team)

O italiano tem-se exibido numa forma extraordinária neste início de temporada, contabilizando já três triunfos.

O ciclista natural de Brescia tem liderado a ofensiva da Astana nesta temporada, tendo iniciado a sua época de 2025 em Espanha (Valencia e Mallorca) e conseguido três pódios e um top 5 em cinco provas aí disputadas. Seguiu posteriormente, em meados de fevereiro, para França, onde dominou no Tour des Alpes-Maritimes, com uma vitória de etapa e a conquista da classificação geral; e onde triunfou também na Classic Var.

Em março, Scaroni tem em Itália os seus objetivos, tendo já terminado no pódio do Trofeu Laigueglia e tendo esperanças de voltar a levantar os braços no seu país (tendo de se ter em conta ainda o boletim médico da Astana pós-Strade Bianche, já que o italiano abandonou devido a queda).

Juan Ayuso (UAE Team Emirates – XRG)

À semelhança do seu chefe de fila esloveno, o jovem espanhol não parece estar para brincadeiras em 2025…

Entrou em competição no dia 1 de março, com um top 10 na Faun-Ardèche Classic; no dia seguinte venceu autoritariamente na Faun Drome Classic, após um solo de 40 km; e três dias depois “picou o ponto” novamente no Trofeo Laigueglia, com uma vitória ao sprint segura diante do homem em forma Christian Scaroni.

Neste estado de forma, atenção a Juan Ayuso no Tirreno-Adriatico e na Catalunya…

António Morgado (UAE Team Emirates – XRG)

António Morgado já tinha mostrado muito boas pernas em 2024, no seu primeiro ano como profissional, mas em 2025 tem-se afirmado verdadeiramente…

Abriu o livro na primeira corrida da época com uma vitória explosiva na Ruta de la Cerámica; terminou no pódio na prova do dia seguinte e no primeiro Troféu em Mallorca; e esteve em evidência nas provas de Portugal, fechando às portas do top 10 na Volta ao Algarve e vencendo com uma enorme astúcia e superlativa capacidade física a Figueira Champions Classic.

Após a participação numa prova do fim de semana de abertura das Clássicas do empedrado e numa corrida de um dia em Itália, está agora alinhado para uma série de Clássicas do empedrado na Bélgica, onde irá colocar-se à prova mais uma vez e tentar tirar partido do seu estilo ofensivo de corrida e da profundidade de plantel da UAE.