
Onde quer que a vida nos leve, temos sempre que nos preocupar com a melhor forma de, numa viagem a um novo país, nos movimentarmos. Para chegarmos aos pontos que queremos conhecer no sítio a que estamos a apertar a mão pela primeira vez, uma opção popular são os passes de viagens ilimitadas nos transportes públicos que duram 24 horas (ou mais). Em Genebra, há um desses, mas para experimentar chocolate.
A rota de lojas aderentes está definida. À entrada da primeira picamos o cartão e, desde esse momento, temos um dia para ir a tantos estabelecimentos quantos desejarmos, sem repetir nenhum. A gulosice levou a Tribuna Expresso a quatro numa hora. As montras são um arco-íris de sabores e formatos. Os chocolates são vendidos em tabletes, caixas, pacotes ou a granel. Alguns são mesmo doces luxos a julgar pelos preços tabelados pelas ardósias. O pequeno saco entregue aos portadores do Choco Pass traz amostras de vários tipos de chocolate que tentam seduzir a compra dos que não temos a oportunidade de provar.
Apesar dos valores poderem ser tão altos como os níveis de açúcar, as lojas não estão ao abandono, sendo que algumas das pessoas vieram a Genebra, cidade que acolhe o Portugal-Itália, com o Euro como justificação e se entretêm a visitá-las. O fim de 2024 e o início de 2025 assombrou os fabricantes de chocolate, inclusive os detentores de pequenos negócios nesta cidade que faz fronteira com França.
Os dados fornecidos pela plataforma Statista indicam que um quilo de cacau em 2023 custava em média €2,78. Em 2024, segundo previsões da base de dados, o preço subiu para os €5,86 devido às alterações climáticas e ao vírus que afeta as árvores no Oeste Africano, onde se localiza grande parte da produção. Já as tarifas de Trump (31%, neste caso) condicionam a exportação para os Estados Unidos.
Todas as lojas se dizem a mais alguma coisa: antiga, moderna, com a receita mais disruptiva ou com uma fórmula ancestral. Começamos o nosso binge de chocolate por um local que se diz o mais biológico. Esta montra tem até um chocolate com pistácio extraído das encostas do vulcão Etna, na Sicília, o que faz dele um ingrediente raro.
Zayneb, a funcionária da Sweetzerland que nos faz a descrição, confirma o que percepcionamos: “Os preços subiram, mas as pessoas continuam a vir aqui.” Ainda assim, as vendas estagnaram. Em abril de 2025, a federação dos produtores de chocolate, a Chocosuisse, divulgou que, no ano passado, as vendas cresceram apenas 0,6%.
A chocolataria passou a ser um exercício onde as opções tradicionais - leite, negro ou branco - não são necessariamente as mais cativantes, pelo menos sem terem um topping que as distinga. O de maracujá que provamos na Chocolaterie Canonica refresca o fundo da garganta, mas não corresponde ao que imaginam os amigos que nos pedem para lhes levarmos chocolates quando regressamos de uma viagem à Suíça.
A Favarger aposta em atirar-nos para a mão um chocolate cuja receita foi concebida há 100 anos, época em que também a marca foi fundada. Gaba-se de ter inovado ao trabalhar com energia hídrica no processo de fabrico. Nas opções, varia entre as conservadoras e as mais ousadas, tendo até quadros da cidade que se trincam.
É difícil ficar desiludido com qualquer que seja a opção que acabemos por eleger, embora aquele de frutos vermelhos tenha estado quase a pisar uma linha da mesma cor. Após uma derrota pesada contra a Espanha, Portugal não se importaria de ter presenteado a Itália com um chocolate, mas ficou-se pelo empate.
* a Tribuna Expresso está na Suíça e no Europeu feminino a convite do Turismo da Suíça.