
José Mourinho não esteve nas cerimónias fúnebres de Diogo Jota e o irmão, André Silva, mas falou em direto na CMTV sobre a trágica morte dos dois irmãos, não esquecendo a família, a mulher, os pais e especialmente os três filhos.
"Unir a família do futebol, sim. As homenagens que estão a ser feitas ao Diogo e ao irmão vão continuar e perdurar no tempo, especialmente as do Diogo, que atingiu um nível importante a nível de clube e Seleção. Mas não me consigo focar no que ele era como jogador ou naquilo que o irmão poderia vir a ser como jogador. Só penso nas crianças que vão crescer sem pai, na esposa que vai viver sem o amor da sua vida, nos pais que perderam dois filhos... Não consigo pensar de outra maneira. Há jogadores que acabam carreiras por lesões importantes, outros que têm problemas cardíacos e terminam as carreiras mas continuam a viver. Neste caso, Portugal perde um jogador importante, o Liverpool e o futebol mundial também, mas jogadores nascem todos os dias. Mas Diogos e Andrés não. Para mim, esse é o verdadeiro drama. A minha solidariedade não é com o mundo do futebol, é com a família e todos aqueles que são grandes amigos seus, coisa que nunca tive o prazer de ser. Conheci-o pouco, mas conheci muito através da minha estrutura. O mesmo agente, as mesmas pessoas. Sempre ouvi falar do homem, do pai, do marido, do filho, da educação dos pais, do tipo de pessoa que são os pais. O Diogo representa tudo o que gosto num ser humano. A sua bondade, humildade, amizade...".
Bispo do Porto falou de uma pessoa "discreta, dedicada aos outros e com grande capacidade de trabalho". É uma boa forma de o definir?
"Nunca tive o prazer de trabalhar com o Diogo, mas conheço a carreira. Nada lhe foi dado de mão beijada, não nasceu de barriga cheia. Começou num clube pequeno, muito jovem, não teve oportunidades imediatas. Depois saiu, voltou, e jogava agora num dos maiores clubes e numa das maiores seleções do mundo. Vê-se que há muita humildade e talento, mas tem muito ali dos pais, algo muito típico das gentes do norte. Era um miúdo com fantásticos princípios e quero acreditar que o irmão não era diferente. O Liverpool compra o jogador. Mas o homem? O pai? O filho? O marido? Esse é o grande drama da coisa, é algo impossível de explicar".
Quando vemos atletas em ascensão a morrer, isso faz-nos relativizar a vida?
"Sim, infelizmente a história do desporto está cheia de situações dramáticas. No meu tempo no FC Porto aconteceu a situação do Rui Filipe, antigamente a do Zé Beto, entretanto a do Kobe Bryant no basquetebol. Há jovens atletas que partem de maneira inesperada, trágica e que ficam para sempre nas nossas memórias. Ninguém se vai esquecer do Diogo. Eu volto sempre atrás. É o drama de uma família que não merecia, algo com que vão ter de viver. Precisam de sentir o que estão a sentir da parte do mundo, que está a mostrar muito respeito pelos pais. Mas ele já não volta...".