A partir da temporada 2025-26, tudo o indica, vão ser adversários, mas enquanto estiveram juntos em Alvalade simbolizaram em partes iguais o segredo do Sporting que durante a era Rúben Amorim ganha bastante face àquilo que gasta.
Caso continue ao serviço do Tottenham, Pedro Porro terá no “citizen” Hugo Viana um rival a não ser... que o próximo diretor desportivo dos tetracampeões ingleses ache uma excelente ideia fazer regressar a casa o internacional espanhol.
A veterania de Kyle Walker e os vários afazeres fora das quatro linhas com que se tem deparado o lateral-direito acenderam há largos meses a discussão sobre o nome ideal para render alguém que também conhece como a palma da mão o caminho entre Londres e Manchester.
Durante seis anos, entre 2011 e 2017, Kyle representou os “Spurs” e a experiência na capital só terminou quando Txiqi Begiristáin resolveu pagar, segundo dados do “Transfermarkt”, 52,7 milhões de euros pelo passe do jogador nado e formado em Sheffield. Habituado a gastar rios de dinheiro no reforço da linha defensiva (os centrais Josko Gvardiol e Rúben Dias custaram 160 milhões de euros), o dirigente basco fez de Walker apenas o 15º reforço mais caro de sempre, o que espelha o mundo de contrastes que aguarda Hugo Viana quando abrir as portas do Ethiad.
Recrutado em 2020 sob as condições de um empréstimo assinado entre Sporting e Manchester City, Porro acabou, dois anos depois, por obrigar a uma despesa de 8,7 milhões de euros antes de ser vendido pelos leões por nada menos que 40 milhões. Aliás, quando se olha para as melhores vendas do campeão português, é o craque de Don Benito que aparece a encerrar o top 5, atrás de figuras como Bruno Fernandes (65 milhões pagos pelo Manchester United), Manuel Ugarte (60 milhões via PSG), Matheus Nunes (saiu por 47 milhões para o Wolverhampton) e João Mário (Inter de Milão desembolsou 45 milhões).
Os 32 milhões de euros de lucro proporcionados pela dupla operação-Pedro Porro constituíram uma das bandeiras da gestão liderada por Viana e permitiram aos mercados internacionais confirmar a astúcia e a capacidade de trabalho do homem que Frederico Varandas escolheu para assumir a pasta do futebol. O próprio City, inevitavelmente, terá feito uma reflexão muito particular sobre as especificidades de um negócio que envolveu um futebolista que pertencia ao universo “blue” e que nunca foi potenciado ao máximo durante as cedências a Girona e Valladolid.
Não por acaso, em várias circunstâncias, a ação do financiador da Academia de Alcochete (paga com os 12,5 milhões encaixados quando o canhoto foi transferido para o Newcastle em 2002) mereceu de Amorim rasgados elogios e mesmo quando algumas contratações pareciam duvidosas, o treinador foi o primeiro a manifestar o seu voto de confiança. “Viana habituou-nos a fazer magia”, ouviu-se da boca de Rúben, num reconhecimento, para o exterior, da importância de uma parceria que pode ser retomada na Premier League ainda que debaixo de outros pressupostos.
PEP, PENTA E PORRO
A ser verdade que Pep Guardiola está cansado de ganhar em Manchester e que está interessado, isso sim, na seleção de Inglaterra ou na do Brasil, seria tudo menos surpreendente que a equipa que tenta um histórico penta reunisse a partir do próximo verão duas das maiores estrelas leoninas. A cláusula de rescisão de Rúben para os interessados estrangeiros não passa dos 20 milhões de euros e num projeto de renovação e reestruturação do City assentaria como uma luva a aquisição de um jovem técnico que já esteve associado ao Chelsea e ao Liverpool.
Para o Sporting, independentemente do que acontecer no final desta época, esse cenário seria pouco menos que fantástico. A verificar-se a conquista do bicampeonato e com Amorim a um ano de finalizar contrato (expira em junho de 2026), de certeza que Varandas não desdenharia um encaixe de 20 milhões, considerando, inclusive, a forte possibilidade de outras pérolas da casa receberem luz verde para a travessia da Mancha.
Sem colocar em causa a cotação de atletas que estão habituados a suscitar cobiça, uma coisa é Diomande, Inácio, Quenda ou Hjulmand serem apontados à Premier League e outra, bem distinta, é todos eles figurarem numa eventual lista do míster que os conduziu ao estrelato. Por outro lado, vendas astronómicas à parte, talvez fosse sensato considerar que seria mais confortável para Bernardo Palmeiro, o recém-empossado diretor-geral, iniciar a nova etapa com um treinador também ele novo e sobretudo apostado em cumprir um ciclo duradouro.
Noutra perspetiva, a remodelação da estrutura com um líder no balneário a prazo, por apenas mais 12 meses, e num possível quadro de perda do título, acarretaria riscos imensos e quase deixaria o presidente sportinguista nas águas em que se perdeu Rui Costa quando perdeu o “timing” do despedimento de Roger Schmidt.
Com a transferência de poderes a ser feita numa passadeira de veludo em Alvalade, o Sporting tem imenso a ganhar com a saída de Hugo Viana para o Manchester City, restando saber se o inverso é assim tão verdadeiro como isso. Num clube unicórnio, o competentíssimo Hugo Viana terá consciência de que se continuar a ganhar muitos irão simplesmente dizer que a única magia saiu dos bolsos árabes e se por acaso começar a perder não faltará quem o acuse de ser um Begiristáin em Porro pequeno.