
Uma página dourada escrita no Grupo Desportivo de Resende no ano do 96.º aniversário do clube. Uma inédita conquista da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Viseu, com a consequente subida ao Campeonato de Portugal, já depois de ter conquistado a Supertaça distrital, também pela primeira vez.
«A época não foi fácil. No nosso campeonato distrital, há equipas já muito boas, tão boas como algumas do Campeonato de Portugal. Foi a primeira vez que fomos campeões distritais. Ganhámos o campeonato e a Supertaça da AF Viseu. Foi uma das melhores épocas que tivemos até hoje», comentou Horácio Bernardino, presidente do Resende, em conversa com A BOLA, deixando um agradecimento ao município pelo apoio.
«O Grupo Desportivo de Resende tem uma formação com todos os escalões até aos 18 anos. Temos 230 inscritos, entre meninos e meninas», acrescentou, acerca do clube.
O Resende vai participar pela segunda vez no Campeonato de Portugal. Em 2021/2022, os resendenses conseguiram a subida, apesar do segundo lugar na Divisão de Honra, atrás do Mortágua, beneficiando da descida administrativa do Ferreira de Aves.
Patrick Canto, timoneiro do Resende na subida aos nacionais, destacou a «época difícil e desgastante».
«Tivemos muitas dificuldades ao longo da época, mas conseguimos manter sempre o foco, o rigor, a exigência. Fizemos uma época extraordinária. Em virtude da competitividade que tem esta divisão, conseguimos ganhar 24 jogos, empatamos três e perdemos três. Mesmo assim, fomos campeões somente por um ponto, o que diz muito da dificuldade que foi este campeonato», disse o treinador, que não vai orientar a equipa na próxima época no Campeonato de Portugal.
Recorde de pontos
Num campeonato com 30 jornadas, à 27,ª, depois do triunfo em Lamelas, por 1-0, o Resende chegou aos 67 pontos, batendo o recorde de pontos do clube na Divisão de Honra. O melhor registo era de 65 pontos em 2023/2024, num campeonato que teve 34 rondas.
«Os nossos competidores também fizeram grandes épocas e fizeram-nos trabalhar mais, exigir mais de nós. Fizemos uma época incrível a todos os níveis. Foi difícil, mas conseguimos e estamos todos de parabéns», referiu o técnico.
Pressão, nervosismo... que terminou em festa
O Resende entrou para a última jornada a precisar apenas de um ponto para garantir o título e a subida ao quarto escalão. Atrás, no segundo lugar, estava o Castro Daire, que ainda sonhava com o primeiro lugar. Em Castro Daire, a formação da casa fez o seu trabalho e goleou o Carregal do Sal, por 4-0. Na deslocação a Nelas, o Resende empatou (0-0) e acabou a festejar.
Horácio Bernardino, presidente do Resende, explicou como foi vivida a reta final do campeonato.
«Foi pressão aos nossos jogadores, até os próprios diretores e eu próprio... era uma pressão porque nunca lá tínhamos chegado. Era aquela ansiedade que os jogadores tinham para marcar logo de início e passávamos quase 90 minutos e a bola não entrava. Foi a ansiedade, não foi fácil, mas bastou-nos o empate para sermos campeões», afirmou.
Patrick Canto apontou para a dificuldade do calendário na segunda volta.
«Fomos primeiros durante 25 jornadas. Tivemos entre oito ou 10 jornadas em que conseguimos manter uma vantagem pontual apenas de dois pontos. Depois conseguimos chegar aos cinco. Tudo isso cria desgaste, muita ansiedade. Depois, nessa fase final, tínhamos um calendário muito difícil. Na segunda volta fomos jogar fora aos seis primeiros. É uma dificuldade acrescida. Nos últimos cinco jogos, o nosso adversário [Castro Daire] tinha quatro em casa e um fora. Nós tínhamos três fora de casa e com adversários muito bons. No entanto, conseguimos gerir não só a dificuldade do adversário, mas sobretudo a ansiedade e a pressão imposta por nós próprios de estarmos quase a chegar ao fim e querermos muito ser campeões. Mas não é fácil controlar às vezes a ansiedade e a emoção de todos nós, a estrutura, os jogadores, os treinadores, tudo o que envolve o clube», comentou, lembrando a última ronda com o Nelas.
«Chegámos à última jornada com a obrigatoriedade de não perder. Entrámos fortes para tentar resolver, mas não conseguimos marcar, falhámos muitas oportunidades, mas sentimos que tínhamos o jogo controlado. Empatámos, mas o nosso adversário não fez um único remate à baliza. Controlámos o jogo todo e não ganhámos porque é futebol», acrescentou.
A BOLA conversou também com Marcos Pinto, defesa-central que subiu aos nacionais as últimas três equipas que representou: Resende (2024/2025), Cinfães (2023/2024) e Alpendorada (2021/2022).
«Na última semana e jornada, claro que tínhamos alguma ansiedade, normal. Aquele nervosismo miudinho que faz parte da competição. Sabíamos a importância daquele jogo, porque se calhávamos de perdê-lo, o resto que fizemos durante o ano não valeria de nada. Aquele jogo ia definir o campeonato. Já ninguém se lembrava que tínhamos batido o recorde de pontos e ganho a Supertaça, o que ficava era subir de divisão. O mister preparou bem a semana, tentou tirar o máximo de ansiedade e dar confiança à malta. Também tínhamos malta com experiência, que já está habituada a passar por estes momentos. As coisas acabaram por correr bem. A massa adepta que foi de Resende também nos deu ali uma força muito grande. Estávamos a jogar em casa e não queríamos defraudar as expectativas», confessou.
Capacidade de resiliência, grupo e um homem forte na liderança
A BOLA desafiou Patrick Canto a apontar as principais valências e forças do Resende.
«A nossa organização e a capacidade de resiliência. Dizem que as equipas são normalmente a imagem dos treinadores. A nossa equipa técnica trabalha muito, é resiliente e não desiste. Acho que os jogadores conseguiram, dentro do campo, pôr todo esse nosso espírito e sobretudo a organização. Era fundamental uma forte organização defensiva, uma pressão alta, uma reação à perda muito forte», começou por dizer.
«Quando se ganha, há muitas coisas que correram bem. O grupo esteve sempre focado, recetivo às nossas ideias, cumpriu sempre os nossos planos de jogo. Quando os jogadores acreditam no processo, é fundamental para atingirmos o nosso plano de sucesso», completou.
Marcos Pinto destacou o grupo e elogiou o treinador Patrick Canto.
«Muita qualidade no grupo, mas essencialmente homens. O líder, o homem forte, o Patrick... Uma pessoa com personalidade e com um perfil espetacular, que foi o mentor desta subida. E conseguiu-se aliar a pessoas com qualidade. Foi muita ambição e o grupo. Acho que em todo o lado, onde há sucesso tem de haver qualidade. O grupo foi o segredo», atirou.
Faltou a Taça distrital
O Resende conquistou Divisão de Honra, Supertaça, falhando apenas a Taça ao ser eliminado nas meias-finais pelo Oliveira de Frades nas grandes penalidades. Na final, no Fontelo, o Carregal do Sal venceu o Oliveira de Frades, por 1-0.
«Quando vamos a penáltis, seja a equipa que for, é a sorte. E foi a sorte para o lado deles. Cada jogo tem a sua história e tivemos azar», comentou Horácio Bernardino.
Patrick Canto assumiu que o Resende gostaria de ter ido à final e ganhar.
«Fizemos um grande jogo, um dos melhores deste ano. Tivemos o controlo total do jogo, muita posse de bola, encostámos o nosso adversário, de muita valia, atrás. Acabámos por perder nos penáltis. Deixa-nos um amargo de boca, porque fomos superiores e fizemos tudo o que podíamos ter feito. O futebol também é isto. Tínhamos ganho a Supertaça nos penáltis e desta vez perdemos», confessou.
«Desde o princípio que o grande objetivo era o campeonato. Mas sabíamos que, pelo plantel, qualidade e pela grandeza do clube neste contexto, podíamos fazer o triplete. E era o nosso grande objetivo. Fomos os justos vencedores do campeonato, na minha opinião. Agora, o que sentimos quando chegámos ao final é esse amargo de boca. Tínhamos um grupo com sede de vitória. Isto torna-se viciante. Quando mais ganhas, mais queres ganhar. Mas fomos conscientes e percebemos bem que melhor era quase impossível. Fizemos o que ninguém fez em 96 anos de história», atirou Marcos Pinto.
Saída de Patrick Canto e novo ciclo em Resende
O regresso do Resende aos nacionais não será com Patrick Canto no banco. O treinador deixou o comando técnico do clube onde estava desde 2023.
«Conheci gente muito boa, trabalhadora, humilde, com paixão e um amor enorme pelo clube. Fizemos um trabalho excelente. Só no campeonato, para não falar nas taças, fizemos 64 jogos e perdemos oito. Isso diz bem do trabalho que desenvolvemos, da cultura que implementámos no Resende. Um clube que joga para ganhar, que empatar é quase como perder. Estou muito satisfeito por aquilo que fizemos. Acho que o clube também deu um salto, em termos de organização, estruturação e entendimento do que é um plantel e uma equipa», apontou Patrick Canto.
«A minha saída é normal, são coisas que acontecem no futebol. Achei por bem que devíamos seguir caminhos diferentes. Com muita pena minha, porque gostei de estar em Resende. Fui muito feliz. Encerra-se um ciclo. Eu e o presidente tivemos uma despedida com um abraço bastante emocionado, quer da minha parte, quer do presidente. É uma pessoa por quem tenho o máximo respeito. Temos uma relação muito cordial e amiga», acrescentou.
Sai Patrick Canto e entra Daniel Ferreira. O treinador de 44 anos conseguiu a dobradinha no Mirandela em 2024/2025 e foi confirmado como novo treinador do Resende.
Oficializadas foram também algumas saídas, assim como renovações, entre elas a do guarda-redes Kevinn e do avançado Medvedchuk.
«Estamos à procura de novos jogadores com as mesmas características daqueles que foram embora. Tenho de agradecer a todos. Aqueles que jogaram mais vezes, aqueles que jogaram menos, tenho de lhes agradecer a luta e honra que tiveram por vestir esta camisola do Grupo Desportivo de Resende», disse Horácio Bernardino, que perspetivou a próxima época: ««Iremos lutar dentro das nossas possibilidades pela manutenção.»