
O país acordou confuso, o mundo parava para perceber se tudo isto seria realmente verdade. Desapareciam Diogo Jota e André Silva, irmãos com caminhos diferentes, mas com uma grande paixão, o futebol. Lembro-me de acordar, lavar a cara e seguir para a cozinha para preparar o meu pequeno almoço, como faço sempre. Tenho por hábito agarrar no telemóvel e ver tudo o que se passa no mundo, e foi isso mesmo que fiz naquele dia. Não queria acreditar no que lia, era “demasiado mentira para ser verdade”, não podia ser… porque não fazia sentido.
As redes sociais estavam num turbilhão, anunciavam o falecimento de um dos nossos ídolos e do seu irmão, ambos jovens, com um futuro ainda muito longo pela frente. As causas eram demasiado trágicas para o imaginário de todos nós, porque coisas destas não deveriam acontecer a ninguém, não fazem sentido, como é que alguém, como o Diogo, pode passar do cúmulo da felicidade ao desaparecimento total num par de semanas? Não é justo, não é correto, não é humano… Mas era verdade, tinha mesmo acontecido, num infortúnio como tantos outros que existem na vida, num acontecimento estranho e sem razão, Diogo e André desapareceram entre os nossos dedos.

Escrever este artigo é uma responsabilidade grande, mas também é um grande orgulho, porque tenho a oportunidade de recordar, não dois grandes jogadores de futebol, mas dois grandes homens. Não é tempo para falar de futebol, é tempo para falar da vida e do que ela nos pode dar. Penso particularmente na mulher que Diogo amou com tudo o que tinha e com quem estava quando o futebol era apenas um sonho.
Numa carreira feita a pulso, a Rute esteve sempre lá para si, foi e é a mãe dos seus três filhos, e ainda antes de tudo isto acontecer, o Diogo conseguiu ganhar a sua primeira Premier League, conseguiu vencer a Liga das Nações, como aliás prometeu a todos nós, mas conseguiu a sua maior vitória, fora de campo, deu o nó com a mulher da sua vida. Eu sei que a dor é insuportável, não quero nem imaginar o que é perder dois filhos, o que é perder o amor de vida, o que é perder um pai… Mas sei que, onde quer que o Diogo e o André estejam, eles estão certamente felizes por tudo o que conquistaram, por tudo aquilo que viveram, mas vão deixar saudades, vão deixar um vazio que só o tempo pode consertar.

Não é nada fácil escrever tudo isto, porque este acontecimento abalou um país, abalou o mundo, não só no futebol mas em todo um universo transversal que tem a beleza de se unir quando coisas destas acontecem. O Diogo não era o meu jogador favorito, o André também não, mas eram dois homens que personificam toda a garra, resiliência e confiança que devemos ter para alcançar os grandes patamares da vida. Eles chegaram lá com trabalho, com dedicação, com esforço e sofrimento, e se é injusto tudo o que aconteceu, também é bonito todo este caminho que eles fizeram enquanto seres humanos.
Dizemos adeus a dois jovens, na flor da idade, mas agradecemos por termos tido o prazer de nos cruzar com eles nesta bonita dança que é a vida. O céu ganhou duas estrelinhas, que vão para sempre ser eternas em nós, porque afinal, nós somos o que deixamos nos outros não é? E o Diogo e o André, deixaram uma marca muito grande em todos aqueles que tiveram oportunidade de conhecer a sua história.
Para sempre, Diogo Jota e André Silva, gravados em nós e na história do futebol.