Duas equipas em momentos crescentes na temporada 2024/25. Tudo faria prever um confronto repleto de emoções até ao último suspiro. O SC Braga, perante os seus adeptos, parecia que ia levar a melhor diante do Estoril Praia, dando sequência ao belo ciclo de vitórias: a quarta consecutiva, para ser preciso. Porém, uma recuperação tardia dos comandados de Cathro deitou por terra as aspirações bracarense (2-2).

Em equipa que vence, não se mexe. Foi esta a ideia com que a equipa técnica liderada por Carvalhal partiu para este jogo. Mesma estrutura, mesmas dinâmicas e, sobretudo, os mesmos intérpretes. O técnico de 59 anos parecia ter encontrado os condimentos necessários para atingir o sucesso. Todavia, os forasteiros originaram uma valente enxaqueca coletiva, já ao cair do pano.

Soprar o balão desde cedo

Dois treinadores, duas semelhanças táticas, pelo menos, no papel. Numa batalha marcada por um 3-4-3 bem vincado, Carlos Carvalhal voltou a não mexer na fórmula que tem dado bons resultados. A água é constituída por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio, já a frente de ataque dos arsenalistas que tem plantado os frutos desejados é formada por três compostos distintos: Ricardo Horta, a explorar zonas interiores, Bruma, a atacar a profundidade, e Amine El Ouazzani, o farol ofensivo.

Já Ian Cathro chamou Yanis Begraoui a ação, de forma a completar o leque de opções mais adiantadas dos canarinhos. O extremo marroquino entrou em campo em detrimento de Hélder Costa, um dos elementos em menor evidência na vitória caseira frente ao FC Famalicão. O camisola '14' contribuiu de forma positiva para a estabilidade do emblema de Cascais com bola, nos minutos inaugurais. No entanto, o respetivo jogador acabou por assistir de perto à esplêndida jogada coletiva bracarense.

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Com uma abordagem cínica (mas eficaz), a turma que atuou de vermelho encontrou o caminho para o fundo das redes, aos 16'. João Moutinho, com uma visão de lince, entregou prontamente a cartola a Ricardo Horta para o mesmo dar início ao seu recital de magia. O internacional luso fez um túnel sobre o adversário direto e, posteriormente, serviu o energético Roger Fernandes. O ala deu uso a uma das suas melhores armas: o cruzamento a régua e esquadro. Bruma, ao segundo poste, fez o mais fácil, cabeceando em direção do alvo. Um golo que devia estar ilustrado nos manuais da eficácia futebolística.

Os visitantes foram claramente abaixo depois do tento concedido, com o Carrossel de Carvalhal a satisfazer o bilhete pago pelos adeptos. Contudo, Jordan Holsgrove continuava a desfilar com a sua fragrância leve, requintada, e não parecia conformado com o rumo dos acontecimentos. Como tal, o médio escocês, com um passe magistral, desmontou a organização bracarense, deixando Fabrício Garcia em zona privilegiada para atirar a contar. A finalização não foi adequada, mas expôs as claras debilidades do jovem Roger no paradigma defensivo.

Os Guerreiros do Minho, apesar do susto, permaneciam mais acutilantes e podiam ter mesmo seguido para o descanso com uma folga maior. Já no período de compensação, Bruma viu, certamente de uma torre mais alta, a desmarcação exímia de El Ouazzani. O esférico, num momento de puro teletransporte, ficou à mercê do ponta de lança. A missão de bater o experiente Joel Robles parecia fácil face à posição, mas um toque a mais na bola deixou os espectadores com as mãos na cabeça.

Quando tudo parecia encaminhado...

No início do segundo tempo, acabariam mesmo por chegar os ventos da tranquilidade. Felix Bacher, de forma imprudente, derrubou El Ouazzani, dentro da grande área. Bruma foi o responsável por voltar a dar uma alegria aos simpatizantes do clube minhoto. Aos 61', o atleta de 30 anos respirou fundo, partiu para bola e... voltou a encher um novo balão, com o rosto a apontar para o céu. Um balão de oxigénio.

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O problema é o que o balão esvaziou, pouco tempo depois. Bright Arrey-Mbi, sem qualquer necessidade, atingiu a cara de Héder Costa dentro da zona proibida. O árbitro Bruno Vieira, depois de consultar o VAR, apontou para a marca dos onze metros. Alejandro Marqués, com frieza, não se deixou intimidar pelos assobios, anotando o quinto golo da presente da campanha.

Os nervos acabariam por se transformar num autêntico pesadelo. Já na reta final da partida, aos 82', Gonçalo Costa tentou a sua sorte numa posição pouco favorável. O remate parecia não seguir com a potência necessária para suscitar qualquer ameaça à baliza defendida por Matheus Magalhães. Todavia, João Ferreira meteu o pé onde não era chamado, acabando por mudar a trajetória da bola. O guardião não teve reflexos suficientes para impedir o tremendo balde de água fria.

Bruma, de cabeça, esteve perto de voltar a colocar a sua equipa na frente, mas a tentativa acabou por ser travada. Um coro de assobios acabou por assombrar a Pedreira, depois do último apito realizado pelo árbitro principal. Com um início atribulado na época, o SC Braga parecia ter resolvido a equação de segundo grau, um problema matemático que parecia não ter uma solução concreta. No entanto, um conjunto de desatenções pode ter provocado uma nova onda de desconfiança. Esperar para ver. Uma coisa é certa: a persistência estorilista é de se louvar!