A derrota algo aviltante na Supertaça frente ao FC Porto não beliscou as ideias de Rúben Amorim, mesmo que uma cambalhota de 3-0 para 4-3 deixe necessariamente as suas marcas. Zeno Debast, amplamente elogiado pelo treinador, foi o cordeiro sacrificial para o arranque do campeonato - entrou Diomande para a posição de central pelo meio -, mas nas alas surgiram novamente Geny e Quenda. E frente a um Rio Ave que se reforçou bem e mudou muito, mas traz estabilidade no banco da época passada, algo que não é de desmerecer no futebol português, o Sporting adaptou-se.
A vitória por 3-1 deu-se por qualidade, consistência e por saber ler as intenções do adversário. O golo sofrido já nos descontos, numa desconcentração que não terá agradado nada a Rúben Amorim, retira alguma clareza a um resultado que se alicerçou na 1.ª parte, mas o campeão nacional em título entrou a ganhar na nova época sem sofrimentos desnecessários, mesmo com esse deslize.
Num jogo em que ambas as equipas tentaram pressionar alto, o Sporting foi sempre mais competente a desembaraçar-se da chateza do adversário. Mesmo que ainda a afinar processos, Kovacevic, guardião contratado ao Rakow, dá mais uma possibilidade de passe desde terrenos mais recuados e os leões iam facilmente quebrando a estratégia do Rio Ave, lançando muita gente para a frente, quebrando linhas atrás de linhas. Ainda nem 10 minutos havia no marcador e já Gyökeres, bem lançado por Quenda (boa exibição nos dois topos do campo), corria desalmadamente desde a direita, fugindo através de uma linha muito subida do Rio Ave, com dificuldades em controlar o espaço atrás de si - e para jogar tão adiantado, é preciso estar muito mais seguro nesse particular. O sueco viu-se isolado e não com uma mas sim duas opções de passe. Optou por aquela que já lhe sai naturalmente: a assitência para Pote, que encostou para o primeiro.
Os momentos de perigo do Sporting iam sucedendo-se e a saída de trás do Rio Ave ia oferecendo outras oportunidades. Jhonatan, aos 26’, encheu-se de confiança para um passe à queima para o seu lateral, mas saiu torto e em direção a Pedro Gonçalves. O médio respondeu educadamente à oferenda, agradecendo com um chapéu perfeito, cruzado, uma maravilha de técnica e oportunidade, para deixar já um primeiro momento de brilho no arranque da temporada. O jogo ficava muito mais fácil para a equipa da casa.
E não ficou muito mais difícil no 2.º tempo. Depois do regresso dos balneários, acabaram boa parte dos descaramentos iniciais por parte do Rio Ave, que decidiu fechar a sua área e tentar a sorte em ataques rápidos. E durante muito tempo o Sporting foi obrigado a rondar o último terço vila-condense sem encontrar grandes vias para a baliza. Foi preciso, então, aproveitar a sorte, o fortuito, como aconteceu naquele remate de meia distância de Trincão, prensado pela defesa do Rio Ave e que foi pingar precisamente onde Gyökeres estava - bem, não vamos ser injustos, o sueco cheirou bem o sítio onde aquela bola ia cair. O remate do goleador nórdico até saiu meio enrolado, mas talvez até tenha sido isso que enganou um desamparado Jhonatan, que não esteve num dos seus dias.
O 3-0 foi um golo meio trapalhão como trapalhão estava o jogo naquele momento e não mudou muito a partir daí. Trincão teve oportunidade de marcar pouco depois e deu de bandeja o que seria o 4-0 para o Sporting a Gyökeres, mas o atacante permitiu a defesa de Jhonatan. Já nos descontos, o grande golo de Clayton (sentou Diomande e contornou Quaresma antes do remate) deixa uma pequena mancha numa exibição quase sempre inteligente do Sporting, que ainda viu Rodrigo Ribeiro enviar uma bola ao poste antes do apito final. O campeão, ainda mal refeito da ferida do último fim de semana, está aí e já com jogadores no ponto. Pote, principalmente, mas também Gyökeres e Trincão, mais desaparecido na 1.ª parte mas um dos melhores na 2.ª.