O Benfica assumiu, de forma provisória, a liderança isolada da Primeira Liga de futebol, ao vencer o Estoril Praia por 2-1, na Amoreira, em jogo da 32.ª jornada da prova. Fredrik Aursnes e Nicolás Otamendi fizeram os tentos dos encarnados, Vinicius Zanocelo fez o tento dos canarinhos, que fez tremer as águias na parte final.

No próximo sábado, poderá, assim, haver título na Luz: se o Sporting vencer o seu jogo com o Gil Vicente neste domingo, só tem de ganhar ao Benfica para ser campeão na próxima ronda; já os encarnados terão de bater os leões por dois golos ou mais para fazerem a festa no seu reduto.

Mas, antes do presumivelmente decisivo dérbi de Lisboa, Benfica e Sporting tinham ainda que confirmar o seu favoritismo em mais duas complicadas e importantes partidas. No caso das águias, as contas do título não saíram da capital portuguesa, com a equipa de Bruno Lage a ter pela frente uma curta deslocação à Amoreira, para medir forças com o tranquilo Estoril, de Ian Cathro.

Os encarnados entraram em campo em boa forma, tendo cedido pontos apenas numa das últimas 12 jornadas. No último encontro, o Benfica regressou à Luz depois do empate contra o Arouca (2-2) e tratou de resolver cedo a sua missão, acabando por golear o AVS por seis bolas a zero. Apesar do favoritismo encarnado, os estorilistas entraram em campo a viver uma fase tranquila, depois de terem já confirmado a manutenção na Primeira Liga.

Assim sendo, como seria de esperar, Florentino Luís voltou ao onze de Bruno Lage, mas o técnico setubalense optou por deixar Ángel Di María no banco de suplentes, mantendo Zeki Amdouni no ataque. Com a entrada do médio português, Samuel Dahl baixou para o lado esquerdo da defesa.

Já Ian Cathro ficou-se pelas duas alterações forçadas na sua equipa, com Pedro Carvalho e Jandro Orellana a entrarem para os lugares de Wagner Pina e Jordan Holsgrove. Como seria de esperar, o Benfica entrou com mais bola e a tentar explorar o espaço central concedido por um Estoril muito subido no terreno.

Samuel Dahl e Kerem Akturkoglu (ou um, ou outro) davam largura à esquerda. À direita, o Tomás Araújo ficava-se pelo meio-campo e Zeki Amdouni por zonas mais interiores.

Deste modo, a primeira ocasião da partida surgiu com Fredrik Aursnes a aparecer sozinho dentro da área, mas a permitir a defesa de Joel Robles. No lance seguinte repetiu-se a receita, Nico Otamendi bateu longo em Vangelis Pavlidis, que amorteceu para Kerem Akturkoglu, que por sua vez tocou curto para Orkun Kokçu O médio turco fez um passe a rasgar a defesa para o norueguês que, desta vez, atirou a contar para o golo inaugural, à passagem do minuto sete.

Ora, a proposta de jogo do Estoril é agradável e não foi caso único, no sentido de não ter sido só hoje que a apresentou. A equipa tem praticado este estilo de jogo já há muito tempo e é das formações que mais prazer me dá assistir em Portugal. É uma equipa que quer jogar verdadeiramente “à bola”, quer construir de forma apoiada e desde trás.

No entanto, para infelicidade de Ian Cathro, não tem qualidade individual para garantir que não existem erros graves nem para, caso aconteçam, como aconteceram várias vezes, os suprir e minimizar as suas consequências, até porque me pareceu que, neste 5-3-2, os médios exteriores ficavam, muitas vezes, confusos entre fechar dentro ou cair nos laterais.

Isso foi notório no facto de o Benfica ter recuperado, pelo menos na primeira parte, diversas vezes a bola logo no primeiro terço do Estoril quando os canarinhos tentavam sair a partir de trás.

As águias jogavam com as linhas mais juntas, de modo a anularem a construção estorilista e foram conseguindo esse objetivo, jogando mais na expectativa e no erro do adversário, do que propriamente por iniciativa própria, ainda que existissem momentos, como se viu, por exemplo, no primeiro golo, que essa iniciativa havia e que há, obviamente, quantidade e qualidade para praticar outro tipo de jogo mais “atrativo”, para o espectador comum, se assim se pode dizer.

Nesse primeiro golo, aliás, foi exímia a saída do Benfica perante a pressão do Estoril, o remédio perfeito para a pressão homem a homem que a turma de Ian Cathro exercia. Filme já visto no Dragão ou em Guimarães, e que atesta a capacidade da equipa em lidar com este momento do jogo e/ou com equipas que joguem (ou tentem jogar) com linhas mais subidas e de forma mais arriscada e astuta.

Assim sendo, o que eu quero dizer com isto é que o Benfica, fora de casa, joga, habitualmente, mais no erro do adversário. Por exemplo, não pressiona em pontapé de baliza para ganhar rápido a bola. O objetivo é orientar a equipa adversária a jogar a bola para determinada zona, de modo a juntar os seus médios na pressão para depois, sim, tentar recuperá-la.

E não tem mal nenhum, até porque tem dado imensos frutos até ao momento, mas, na minha opinião, tem uma panóplia de jogadores que permitiriam jogar noutro estilo, como chegou a jogar no início desta “segunda vida” de Bruno Lage no clube da Luz.

E, aos 35 minutos, o Benfica marcara novamente através de uma bola parada. A turma encarnada continua a ser, na minha opinião, a equipa que melhor trabalha a bola parada ofensiva em Portugal. Os números não me deixam mentir: são já 18 golos marcados entre livres e cantos, esta temporada, por parte das águias.

Ainda por cima, Dahl oferece capacidade técnica na execução das bolas paradas, seja pontapés de canto ou livres – já o tinha demonstrado noutros jogos, ainda que não tivessem resultado em golos. Assim, para além de ser um jogador muito inteligente do ponto de vista tático, pode exercer várias funções dentro do jogo, até porque, lá está, apresenta recursos técnicos muito interessantes e variados.

Na mesma linha de raciocínio, Otamendi é um dos reis do jogo aéreo em Portugal e até na Europa. Quer como ofensivamente, quer defensivamente. Como nas “Big 5”, os duelos são, eventualmente, mais recorrentes e mais fortes, não sei se ainda faria a diferença como tem feito em Portugal, mas, de resto, sempre foi um central com essa capacidade e com golo, sendo que esta já é a época mais goleadora da carreira do internacional argentino – leva sete golos, ultrapassando, assim, os seis que marcou ao serviço do Valência, em 2014/15.

Sem novidades para a etapa complementar, os vermelhos e brancos voltaram a entrar com mais intensidade, fortes nas dinâmicas e mais espaço pelo corredor esquerdo, com Pedro Carvalho, por vezes, a falhar na marcação e a conceder espaço a Akturkoglu.

Por outro lado, o Estoril demorou a ter bola e mostrou-se lento e sem critério. Estoril esse, que nesta segunda parte, se “desadaptou” e voltou ao 5-2-3, libertando João Carvalho do meio-campo e soltando-o na frente, como avançado interior esquerdo.

Ainda antes do fecho da hora de jogo, Amdouni caiu no relvado agarrado à coxa direita e teve de ser substituído por Andreas Schjelderup. Já com Tiago Brito no lugar do lesionado Jandro Orellana, Otamendi “borrou a pintura”, vacilou na defesa, perdeu a bola para Yanis Begraoui, que entrou na área e foi derrubado pelo argentino. Na cobrança da grande penalidade, o marroquino atirou muito denunciado para a esquerda e Trubin travou o remate, com Pedro Carvalho a acertar na trave na recarga.

Pouco depois saltaram do banco Rafik Guitane e Alejandro Marqués, e o Estoril melhorou imenso, enquanto o Benfica continuou atordoado, nervoso e sem conseguir controlar a partida, mesmo depois do susto. Adivinhava-se o golo da intranquilidade e acabou por aparecer na reta final da partida, com Guitane a recuperar uma bola perdida e a tirar um grande cruzamento para o segundo poste, onde Vinícius Zanocelo, vindo de trás, saltou mais alto que António Silva e Tomás Araújo, cabeceando colocado para o fundo da baliza de Trubin, aos 78’.

Lage respondeu com as entradas de Leandro Barreiro e Andrea Belotti, com Cathro a manter a equipa balanceada para o ataque com a também entrada de Gonçalo Costa.

A águia teve de sofrer até ao fim (a esse respeito, de notar que Barreiro é um jogador muito interessante para este tipo de jogo, nomeadamente sem bola, uma vez que, com ela, atrapalha-se recorrentemente), mas, desta vez, conseguiu segurar os três pontos antes do dérbi.

Assim, estamos a meio caminho para, no dia 10 de maio, termos um dos dérbis mais importantes e, quiçá, emocionantes da história do futebol português. Venha de lá esse dérbi!