A temporada 24/25 no futebol português fica marcada por altos e baixos, refletindo tanto alguns momentos de glória como desafios profundos a serem enfrentados. Entre conquistas inspiradoras e sinais claros de fragilidades estruturais, a Liga Portuguesa deste ano deixou evidente a importância que tem uma gestão sólida, bem estruturada estratégica e sustentável.

Apesar de se esperar o melhor para o futuro, fica agora o dilema sobre o que 2025/26 poderá trazer: consolidação do progresso ou renovadas inquietações.

Os Melhores de 24/25

Sporting

O grande dominador da época 24/25. O bicampeonato nacional 71 anos depois foi um marco para uma época histórica, que incluiu ainda a conquista da Taça de Portugal para sétima dobradinha do seu historial. Um projeto iniciado por Rúben Amorim e continuado por Rui Borges, tornou-se sólido e com um futebol coletivo de imensa qualidade quando está no seu melhor. Os leões não só venceram, como convenceram, tendo dominado em praticamente todos os setores do campo com a maioria dos melhores jogadores do nosso campeonato.

Benfica

Depois de um início algo depressivo ainda sob o comando de Roger Schmidt, a entrada de Bruno Lage acabou por acordar o rendimento encarnado. O clube da Luz venceu a Taça da Liga, chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões, tendo sido o melhor registo europeu entre os clubes nacionais e esteve na luta por todos os títulos internos até ao final. A chegada de reforços como Pavlidis e Aktürkoğlu ofereceu um novo fôlego a uma equipa que renasceu com ambição.

Santa Clara

Talvez uma das maiores surpresas em 24/25. O clube açoriano terminou num meritório quinto lugar, vencendo metade dos jogos do campeonato, somando pontos frente aos “grandes” e exibindo uma das defesas menos batidas da Liga. Um feito notável.

Vitória SC

Apesar de ter falhado o apuramento europeu para 25/26, o Vitória brilhou na Conference League, apenas caindo frente a um dos finalistas da prova. Com Rui Borges e depois Luís Freire, o clube manteve sempre um nível competitivo que lhe valeu elogios generalizados.

Projetos interessantes e sólidos de Famalicão, Estoril-Praia, Casa Pia e Moreirense

Quatro clubes que mostraram consistência e competitividade, com desempenhos relevantes e uma ambição clara. A manter este trajeto, poderão ser sérios candidatos a lugares europeus em breve.

As subidas de divisão de Tondela e Alverca

Ambos regressam ao principal escalão do futebol português depois de uma excelente temporada em 24/25. Espera-se que tragam novos argumentos e competitividade à elite do futebol português.

Novos rostos na liderança da Liga Portugal

A eleição de Reinaldo Teixeira, ex-presidente da AFA, para a liderança da Liga traz alguma esperança. A possibilidade de uma maior capacidade de entendimento, transparência e equilíbrio entre continuidade e inovação pode ser o começo de uma nova era para a organização do futebol profissional em Portugal.

Os Piores do Ano

FC Porto

Uma época 24/25 desastrosa. Os dragões foram anulados nos confrontos diretos com os rivais e falharam em todas as frentes nacionais e europeia. A má gestão desportiva, com escolhas infelizes para o banco e para o plantel, refletiu-se numa quebra de rendimento, identidade e de estratégia. Nem a nova competência financeira da Administração AVB conseguiu evitar o declínio competitivo da equipa de futebol. Jogadores como Pepê perderam protagonismo e outros, como Gonçalo Borges, ficaram muito aquém das expectativas.

Boavista e Farense

Axadrezados e algarvios desceram de divisão com campanhas dececionantes, ficando muito abaixo das expectativas mínimas. Um final amargo para ambos.

Um VAR que varia entre o bem e o mal

Apesar de ser um instrumento fundamental para a justiça no jogo, a utilização do VAR continua a causar polémica. As críticas apontam para a falta de consistência e critérios subjetivos que variam de jogo para jogo e entre competições, minando a confiança dos adeptos.

Conflitos entre direções e dirigentes

Nos últimos sete anos para cá, apesar da entrada em cena de lideranças teoricamente menos polémicas nos três grandes, as relações institucionais voltam a ficar tensas, ao fim e ao cabo. A ausência de entendimento entre dirigentes prejudica o futebol português no seu todo.

Pacenses do histórico ao abismo

O emblema de Paços de Ferreira terminou em lugar de play-off e luta agora com o Belenenses por um lugar na Segunda Liga. Um declínio tristíssimo para um clube com tradição de Primeira Liga.

Os Adeptos e a sua cultura futebolística

Parte significativa das massas adeptas dos clubes portugueses continua a colocar a paixão clubística acima do prazer pelo jogo e da exigência crítica. A discussão futebolística em Portugal continua pobre em qualidade, interesse e profundidade com este tipo de postura.

Melhor onze nacional 2024/25

Na junção de todas as competições, a época 24/25 revelou talentos, consolidou nomes e projetou novamente protagonistas no futebol nacional. Num sistema 4x2x3x1, este é o onze ideal do ano (do ponto de vista do autor), reunindo os jogadores mais influentes e consistentes da época, numa junção de afirmação, regularidade, rendimento individual e influência no desempenho das suas equipas.

Guarda-redes

Diogo Costa (FC Porto) – 45 golos sofridos e 19 jogos sem sofrer golos em 43 jogos. O melhor guarda-redes português foi dos poucos elementos positivos dos dragões esta época. Apesar de não ser a única escolha para o lugar, é justa e merecida pelo seu estatuto, fortes desempenhos e regularidade. Um guardião que transmite segurança entre os postes, grandes reflexos e uma presença na área marcada pela sua personalidade.

Alternativas: Gabriel Batista (Santa Clara), Anatoliy Trubin (Benfica), Bruno Varela (Vitória SC), Mistza (Rio Ave) ou Rui Silva (Sporting).

Lateral direito

Gaizka Larrazabal (Casa Pia) – Dois golos e cinco assistências em 35 jogos. O basco voltou a ser um dos jogadores mais relevantes para os casapianos e um dos laterais mais regulares da Liga Portuguesa. Com a ausência de nomes relevantes entre os clubes maiores para o lugar, Larrazabal foi provavelmente a mais regular e determinante para o seu clube. Com uma carreira marcada pela experiência no futebol espanhol, é um lateral direito moderno, versátil e com uma capacidade mista (ofensiva e defensiva) que faz dele uma peça-chave no esquema táctico do Casa Pia.

Alternativas: Wagner Pina (Estoril-Praia), Martim Fernandes (FC Porto) ou Tomás Araújo (Benfica).

Defesa central direito

Nicolás Otamendi (Benfica) – Sete golos e três assistências em 50 jogos. O capitão encarnado continua a ser uma das referências defensivas da nossa Liga. Apesar da idade, mantém uma personalidade imprescindível no setor defensivo do Benfica. Experiente, agressivo, liderança, impacto nas bolas paradas e capacidade de antecipação.

Alternativas: Luís Rocha (Santa Clara) ou Diomande (Sporting).

Defesa central esquerdo

Gonçalo Inácio (Sporting) – Seis golos e três assistências em 42 jogos. Consolidou-se em 24/25 como o membro mais predominante da defesa sportinguista e um dos defesas-centrais mais promissores do futebol europeu. O canhoto que é patrão do setor defensivo verde-e-branco, destaca-se pela sua notável leitura de jogo, posicionamento, habilidade com a bola no pé e uma enorme consistência.

Alternativas: Marcelo (Moreirense) ou Sidney Lima (Santa Clara).

Lateral esquerdo

Álvaro Carreras (Benfica) – Quatro golos e cinco assistências em 50 jogos. Um dos mais determinantes reforços para o Benfica e futebol português nesta temporada. Colmatou a lacuna benfiquista do lado esquerdo da defesa e com um rendimento de topo. É um lateral-esquerdo moderno, veloz, com resistência, uma forte capacidade ofensiva, com precisão na hora de passar ao colega e com uma habilidade de recuperação de bola significativa para a equipa.

Alternativas: Francisco Moura (FC Porto) ou Matheus Pereira (Santa Clara).

Médio defensivo

Morten Hjulmand (Sporting) – Três golos e duas assistências em 47 jogos. O capitão leonino que simboliza aquilo que é o campeão nacional, só pode estar entre os melhores. Internacional dinamarquês, Hjulmand é um mago da organização, leitura do jogo, presença física no meio-campo e uma habilidade na recuperação de bolas. Uma presença indiscutível no onze do ano de 24/25 e um rendimento contínuo que lhe reserva um futuro promissor na Europa do futebol.

Alternativas: Fredrik Aursnes (Benfica) e Alan Varela (FC Porto).

Médio centro

Orkun Kokçu (Benfica) – 12 golos e nove assistências em 51 jogos. O médio centro turco é um elemento fundamental no jogo das águias. Bom a recuperar a bola, iniciar a construção, controlar o ritmo e a rematar, além de assistir. Um dos melhores médios a atuar em Portugal e com um ano muito positivo a nível individual.

Alternativas: Tiago Silva (Vitória SC), Morita (Sporting) ou Rodrigo Zalazar (SC Braga). Menção honrosa a Nico González (FC Porto).

Médio ofensivo

Rodrigo Mora (FC Porto) – 10 golos e quatro assistências em 32 jogos. O jovem portista foi uma das surpresas agradáveis do campeonato em 24/25. O motor do jogo ofensivo azul-e-branco, revela-se pelo seu interessante drible, criatividade, uma técnica refinada e mostrou uma enorme capacidade de desequilibrar em espaços mais curtos. Tem um grande futuro pela frente e já se pode tornar na principal figura do FC Porto.

Alternativas: João Carvalho (Estoril-Praia), Alanzinho (Moreirense), Ricardinho (Santa Clara) e Gustavo Sá (Famalicão).

Extremo-direito

Francisco Trincão (Sporting) – 11 golos e 17 assistências em 54 jogos. Este ano, deu um enorme salto no seu estatuto. O extremo sportinguista destaca-se por ser criativo e versátil, ter uma ótima técnica e capacidade de desequilibrar em espaços curtos. 2024/25 foi de reafirmação como uma das peças mais valiosas do Sporting e de toda a Liga Portuguesa.

Alternativas: Di María (Benfica), Bruma (pelo trabalho no SC Braga) ou Geny Catamo (Sporting).

Extremo-esquerdo

Kerem Akturkoglu (Benfica) – 16 golos e 11 assistências em 49 jogos. Um dos jogadores que só de entrar numa equipa, faz mudar a dinâmica do ataque da mesma. Foi o que o internacional turco fez no Benfica na época 24/25. A sua rapidez e criatividade, aliadas à suas excelentes capacidades de drible e finalização, fizeram e fazem dele uma ameaça às defesas adversárias.

Alternativas: Ricardo Horta (SC Braga), Quenda (Sporting), Andreas Schjelderup (Benfica) ou Yanis Begraoui (Estoril-Praia). Menção honrosa: Galeno (FC Porto).

Ponta de lança

Viktor Gyokeres (Sporting) – 54 golos e 13 assistências em 52 jogos. Neste momento, o melhor avançado do futebol português e um dos melhores do futebol europeu. O internacional sueco é um jogador completo, não sendo por acaso, concorrente à Bota de Ouro. O ponta de lança leonino transpira velocidade, técnica, inteligência tática, força e sobretudo, uma enorme capacidade de posicionar-se corretamente e aproveitar as oportunidades de golo.

Alternativas: Vangelis Pavlidis (Benfica), Samu (FC Porto) e Clayton Silva (Rio Ave).

Destaques Individuais da Época 24/25

Melhor Treinador

Rui Borges (Vitória SC e Sporting) – O técnico transmontano protagonizou uma das histórias mais marcantes da época. Começou a temporada no comando do Vitória SC, onde liderou uma excelente campanha nacional e europeia. Posteriormente, assumiu os destinos do Sporting e manteve a equipa no topo, conduzindo os leões à dobradinha (Liga e Taça de Portugal). Uma época completa e de grande mérito, coroada (e bem) com o Prémio BnR de Melhor Treinador.

Alternativas: Vasco Matos (Santa Clara), Hugo Oliveira (Famalicão) ou João Pereira (Casa Pia).

Melhor Jogador

Viktor Gyokeres (Sporting) – A escolha é óbvia e consensual. O jogador do ano 24/25 é o mais decisivo de todos. Viktor Gyökeres foi absolutamente demolidor. Um avançado completo, forte fisicamente, com excelente mobilidade, sentido de baliza e visão coletiva.

Concorrente direto à Bota de Ouro europeia, transformou o ataque do Sporting. O internacional sueco voltou a elevar o nível da Liga. Com uma impressionante marca de 54 golos e 13 assistências em 52 jogos, Gyökeres foi absolutamente decisivo. Mesmo sem estar a 100% em fases da temporada, mostrou sempre uma impressionante capacidade de superação.

Uma vez mais, provou que a sua combinação única de força, velocidade e instinto goleador fez dele não só o melhor avançado da competição, mas um dos jogadores mais impactantes da Europa. Um talento com um rendimento do outro mundo, determinante para o sucesso do Sporting.

Jogador Revelação

Rodrigo Mora (FC Porto) – O jovem médio ofensivo foi um dos poucos destaques positivos de uma temporada instável para o FC Porto. Com 10 golos e quatro assistências, Rodrigo Mora demonstrou criatividade, técnica e uma maturidade surpreendente. Produto da formação portista, promete ser figura de destaque nos anos que se seguem. O seu rendimento e números atraem tubarões lá fora, mas ficando será fundamental na renovação do coletivo azul e branco.

Alternativas: Geovany Quenda (Sporting), Andreas Schjelderup (Benfica).

Enquanto amantes de futebol, aguardemos o melhor para 2025/26. Até lá!