Pelo menos 93 palestinianos foram mortos este domingo pelas forças israelitas quando tentavam recolher ajuda humanitária, segundo um novo balanço da Defesa Civil da Faixa de Gaza. Um anterior balanço dava conta de 73 mortos.

O porta-voz da Defesa Civil, Mahmoud Bassal, disse à agência de notícias francesa AFP que 93 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas na sequência de disparos dos militares israelitas em vários pontos do território.

Segundo Bassal, só na zona de Zikim, a noroeste da cidade de Gaza (norte do enclave palestiniano), morreram 80 pessoas, mas há registos de outros mortos noutros pontos do território.

A ONU e as organizações não-governamentais (ONG) ainda a operar no terreno têm alertado regularmente para o risco de fome na Faixa de Gaza, cercada por Israel após mais de 21 meses de conflito, desencadeado por um ataque do movimento palestiniano Hamas a 07 de outubro de 2023.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) declarou que um dos seus comboios de ajuda alimentar tinha entrado na Faixa de Gaza hoje de manhã e que tinha encontrado "enormes multidões de civis esfomeados sob fogo" na zona de Zikim.

O PAM considerou "totalmente inaceitável" qualquer violência contra estes civis.

Contactado pela AFP, o exército israelita confirmou que foram disparados "tiros de aviso para evitar uma ameaça imediata", face a uma concentração de "milhares" de pessoas, mas negou a versão das autoridades palestinianas de que os militares visaram os civis.

“Estou exausto, o que é que eles querem?”

Hassan Uda, de 50 anos e pai de oito filhos, é um dos mais de 100 palestinianos que ficaram feridos este domingo, enquanto aguardavam a chegada de camiões de farinha na cidade de Beit Lahia, no norte do país.

"Estou exausto, o que é que eles querem? É muito difícil, não sei se estão a lutar contra nós ou contra a resistência (referindo-se às milícias palestinianas)", disse à agência de notícias espanhola EFE, a partir do hospital Al Shifa na cidade de Gaza, um dos poucos que ainda funciona nesta zona do enclave.

"Somos civis desarmados e não temos nada a ver com estes assuntos", afirmou Uda.

"Milhares de pessoas desesperadas juntaram-se para obter farinha", disse à AFP Qassem Abou Khater, que tinha ido a uma distribuição de ajuda.

"Os tanques (israelitas) disparavam aleatoriamente contra nós", relatou o homem de 36 anos, que afirmou ter visto "dezenas de pessoas" morrerem à sua frente.

"A questão era: pego num homem ferido para o salvar, ou num saco de farinha para salvar a minha família? Meu Deus, ao ponto a que chegámos", desabafou.

A Defesa Civil também afirmou ter registado um aumento do número de mortes infantis causadas pela "fome e desnutrição severa", relatando pelo menos três mortes de crianças na última semana.

"As nossas crianças estão a chorar e a gritar por comida. Vão dormir com fome", afirmou Ziad Mousleh, um pai de 45 anos que explicou que já não consegue encontrar comida suficiente para alimentar os seus filhos.

Estes ataques sucedem num contexto em que o exército israelita ordenou a saída da população de Deir al-Balah, no centro do território.

Segundo a AFP, famílias inteiras foram vistas a carregar alguns pertences, ou amontoadas em carroças empurradas por burros, dirigindo-se para sul.

"Atiraram-nos panfletos para sair e não sabemos para onde vamos", disse um dos deslocados, Adi Abou Qinnas, à AFP.

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 58 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.