Para o jornal inglês The Guardian não há dúvidas: ontem, o país viveu “o mais grave surto de desordem civil em mais de uma década”. Os manifestantes “vão ter de pagar” pela vaga de confrontos violentos que alastrou no Reino Unido, declarou o governo britânico depois das dezenas de prisões feitas num dia marcado pela ação policial para conter grupos rivais em todo o território.

Do lado das forças policiais, a nota principal é a de que “é provável que surjam mais atos de violência nos próximos dias”.

De acordo com os números oficiais, mais de 90 pessoas foram detidas na sequência da violência que eclodiu sábado, em várias cidades britânicas, durante protestos de extrema-direita.

Os protestos surgiram após um ataque à facada, a 29 de julho, a um centro de lazer em Southport, no qual três crianças foram mortas durante uma aula de dança, sendo uma das meninas de nacionalidade portuguesa. Oito crianças e dois adultos ficaram feridos.

Governo promete “apoio total à polícia”

Em Hull, Liverpool, Bristol, Manchester, Stoke-on-Trent, Blackpool e Belfast, os participantes nas manifestações atiraram garrafas de cerveja, pedras , tijolos e cadeiras aos polícias, incendiaram caixotes de lixo, saquearam lojas e partiram os vidros das janelas de um hotel.

Segundo um porta-voz governamental, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu apoio total à polícia contra os "extremistas" que tentam "semear o ódio", sublinhando que liberdade de expressão e a agitação violenta são duas coisas diferentes.

“A violência criminal e a desordem não têm lugar nas ruas da Grã-Bretanha”, garantiu também a responsável pela pasta do Interior, Yvette Cooper, a par da promessa de apoio total do governo à polícia.

“Qualquer pessoa que se envolva em desordem criminosa e violência nas nossas ruas terá de pagar por isso e dever esperar detenções, processos, sanções e toda a força da lei, incluindo prisão e proibição de viajar. Existem consequências por infringir a lei”, declarou.

O primeiro grande desafio de Starmer



Os confrontos simultâneos em diferentes locais do país representam o primeiro grande desafio ao novo governo de Keir Starmer, pressionado para introduzir medidas de emergência de forma a impedir mais violência.

Na reação aos confrontos, Lord Walney, conselheiro independente do Governo para questões de violência e perturbação política, assumiu ao Observer que poderão ser necessários novos poderes de emergência. “O sistema não está configurado para lidar com essa agitação crescente alimentada pela extrema direita”, declarou.

“Penso que o Ministério do Interior pode querer analisar urgentemente um novo quadro de emergência – talvez de natureza temporária – que permita à polícia usar todos os poderes de detenção para evitar que as pessoas se reúnam quando houve uma intenção clara de alimentar a desordem violenta”, afirmou.

A polícia teve de chamar agentes que estavam de licença para reforçar a sua força de ação.

“Não poderemos atender a todos”

À BBC, Tiffany Lynch, presidente nacional interina da Federação de Polícia da Inglaterra e País de Gales, condenou os recentes tumultos e violência como “um ato de violência abominável e sem sentido contra os nossos policiais, contra os nossos edifícios públicos” por parte de “uma pequena minoria que não representa a comunidade da Grã-Bretanha”. “É absolutamente abominável”, comentou.

"Estamos a ver polícias serem desviados do seu serviços de policiamento diário para irem para lá ( manifestações) essencialmente para protegerem as nossas comunidades”. “Não poderemos atender a todos porque teremos de redirecionar prioridades para o que está a acontecer nas ruas”, declarou numa nota em que deixou claro que outros crimes ficarão por investigar e “a desinformação das redes sociais é uma questão que tem de ser abordada rapidamente”.

“Precisamos que o público apoie a polícia, apoie o apelo para que isto acabe”, afirmou.