
No quadro de uma empresa familiar, "uma mãe destituível por votação maioritária dos membros da família é como uma tartaruga com asas, um triângulo com quatro lados, ou um queijo feito de lã". A frase, escrita há uma década por Miguel Tamen num artigo de opinião, provoca a pergunta: Mas então uma família pode sobreviver a um negócio familiar? E a inversa: pode uma empresa sobreviver à família que a gerou e que a gere?
Sobretudo nos momentos em que se dá uma transição de geração, seguir as pegadas dos que nos precedem, quando estes marcaram a ferro o seu percurso não é tarefa fácil. Seja numa empresa familiar ou encontre o negócio de família mais afinidades nas soft skills, a verdade é que uma herança nem sempre é uma sorte. E se muitas vezes ela garante bom chão para novas uvas, há quem tenha de cortar com o passado para o reencontrar noutro estágio de maturidade ou conseguir trazer inovação ao ADN familiar.
Num país em que as empresas familiares representam 70% a 80% do tecido empresarial e, de acordo com as estimativas da Associação de Empresas Familiares, ajudam a criar metade do emprego e dois terços do PIB nacional, seria bom acreditar que uma empresa familiar é garantia de longevidade do negócio. Os números, porém, não são animadores. Apesar de o compromisso familiar trazer mais estabilidade e empenho, traduzindo-se também maioritariamente num maior respeito pelos colaboradores e pela capacidade de os contagiar do espírito de missão associado ao negócio, a continuidade das empresas familiares demasiadas vezes esboroa-se quando a liderança passa de mãos. Um estudo recente da PwC revela que só cerca de um terço delas sobrevive à transição da primeira para a segunda geração e quando vêm os netos essa taxa fica de novo pela metade (cerca de 12%), sendo já muito raras (3%) as que sobrevivem na quarta geração.
"Nenhuma empresa vive só do tempo da formiga." Reveja aqui os contributos de Isabel Capeloa Gil e José Teixeira nas Beyond Profit Talks.
Mas há exceções que confirmam não apenas as hipóteses de sucesso como as virtudes de um negócio de família continuar a crescer, conforme as novas gerações são envolvidas e a ele acrescentam. Em Portugal, o grupo José de Mello (que carrega, desde 1988, o nome do fundador) é um desses excelentes exemplos. Tendo nascido para recuperar o antigo Grupo CUF, criado pelo seu avô (o grande industrial Alfredo da Silva) e desmantelado com o 25 de Abril, José Manuel de Mello reergueu o grupo familiar sobre dois grandes pilares: a Bondalti, que deu continuidade à atividade industrial, e a CUF, nascida do olhar de responsabilidade social do fundador original, que acreditava ser seu dever cuidar da saúde (e da educação, habitação, etc.) dos que com ele trabalhavam.
O que distingue a ação desses grandes grupos familiares que conseguem não só sobreviver à passagem do tempo como solidificar-se, consolidar-se e acrescentar valor, geração após geração? Como se mantém o ADN e se junta inovação sem desvirtuar um rico código genético e os seus princípios basilares? Onde se encontra o equilíbrio entre a boa influência do passado e a necessidade de andar à frente do seu tempo?
"Portugal tem de criar uma cultura que premeie o risco e puna a inércia." reveja aqui a visão de Paula Amorim e Miguel Poiares Maduro, nas Beyond Profit Talks.
Para descobrir as respostas a estas e outras perguntas, o maestro Martim Sousa Tavares conduz mais uma conversa no âmbito das Beyond Profit Talks, da Fundação Santander Portugal, e de que o SAPO é parceiro, em que partilham as suas visões Vasco de Mello, que além de dedicar a sua vida ao negócio de família ajudou a transformá-lo e a consolidá-lo como um grupo incontornável da realidade nacional, e Miguel Tamen, que fez um percurso como ensaísta, professor e diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, após encontrar uma voz segura, fora da veia poética do pai, Pedro Tamen.
"O peso da herança: entre tradição e reinvenção" é o tema da próxima conversa, que está marcada já para a próxima sexta-feira, dia 20 de junho, pelas 13.00, no Auditório Santander, em Lisboa. Para assistir ao vivo, basta inscrever-se aqui.
Veja ou reveja ainda as visões das incríveis duplas que passaram por este palco, nesta série de conversas improváveis que que já se falou de temas como o amor enquanto critério de gestão ou o que define, afinal, o que é o sucesso.