O PS vai apresentar um requerimento potestativo para forçar uma comissão de inquérito parlamentar à situação da empresa familiar do primeiro-ministro. "O nosso dever é fazer tudo que está ao nosso alcance para proteger o regime e isso implica nós fazermos tudo o que está ao nosso alcance para apurarmos a verdade. O PS apresentará na Assembleia da República um requerimento potestativo para a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito”, anunciou o líder socialista, Pedro Nuno Santos, depois de uma reunião do secretariado do PS.

Pedro Nuno Santos disse também que o PS não abdica de nenhum instrumento parlamentar, remetendo para mais tarde uma decisão sobre a apresentação de uma moção de censura. Primeiro, diz, é preciso tentar saber a "verdade" na comissão de inquérito parlamentar. "O pior que nos pode acontecer neste processo é passar por isto sem saber o que aconteceu", justifica o líder do PS que quer saber o que aconteceu com a empresa criada por Montenegro.

Há uma semana, Pedro Nuno Santos tinha dito que uma comissão de inquérito, que o Chega tinha sugerido, não lhe parecia o "instrumento adequado" para o caso da empresa criada por Luís Montenegro. "O primeiro-ministro terá muitas oportunidades de acabar com o tema de uma vez por todas, esclarecendo quem são os clientes, que serviços foram prestados e qual o preço cobrado para que não reste nenhum tipo de dúvida e suspeição das razões das avenças da empresa", disse a 24 de fevereiro.

“Infelizmente o senhor primeiro-ministro não nos dá alternativa”, defendeu, agora, uma semana depois, considerando que a comissão de inquérito é “a última figura regimental” que o PS tem ao dispor para “assegurar o direito a saber a verdade”. “O senhor primeiro-ministro faz uma declaração ao país não se disponibiliza para responder a questões, mas depois envia cinco ministros para cinco estações de televisão. O senhor primeiro-ministro encerrou qualquer hipótese para de dar mais esclarecimentos e neste momento não há mais nenhum mecanismo político ao nosso alcance para apurar a verdade”, justificou.

"O PS não tem medo de eleições", garantiu Pedro Nuno Santos, anunciando que também já pediu uma audiência ao Presidente da República, com quem já falou. Nessa audiência pretende apresentar a Marcelo "as razões" da decisão do PS em avançar para uma comissão de inquérito.

“Antes desta comunicação tive oportunidade já de pedir ao senhor Presidente da República uma audiência e de conversar com o senhor Presidente sobre as razões desta minha declaração, desta decisão que o PS toma e acaba de anunciar", afirmou. Ou seja, Pedro Nuno falou com Marcelo antes deste anúncio, marcando assim a diferença com o primeiro-ministro que, segundo o PR, não lhe ligou no sábado antes de falar ao país; e o líder socialista pretende ainda ter uma conversa mais formal com o Presidente, numa audiência que aguarda marcação e que só deve ter lugar depois do debate da moção de censura que já foi entregue pelo PCP e deve ser debatida esta semana.

"Infelizmente, um partido político isentou o primeiro-ministro de apresentar uma moção de confiança", lamentou Pedro Nuno sobre a iniciativa do PCP, que será debatida esta semana. "Não queremos contribuir para nenhum processo de vitimização que o primeiro-ministro iniciou já há algum tempo", afirmou ainda o líder socialista, garantindo várias vezes que o PS não quer ser factor de instabilidade, mas sim contribuir para a verdade.

O líder do PS escusa-se a tomar posição sobre as diligências já noticiadas e que estão em curso pela Ordem dos Advogados e pela Procuradoria-geral da República.