
O ponto de partida desta "ópera hip hop", como a descreve o seu criador, Isis Hembe, foi o lançamento em 2017 do primeiro satélite de Angola -- o Angosat -- que desapareceu no espaço.
Isis Hembe encarna no filme a personagem Man Ré, um cientista angolano que "vai para o espaço à procura de vida inteligente".
"[Aí] começa a refletir sobre a necessidade de encontrar vida inteligente dentro de nós", contou à Lusa o músico, poeta e ativista.
"As Aventuras do Angosat" começaram por ser uma peça teatral e transformaram-se em cinema através das mãos de Marc Serena, jornalista catalão, autor de documentários premiados como "Tchindas" e "O escritor de um país sem livrarias".
O artista angolano Resem Verkron, que integra o coletivo de arte de rua Verkron e trabalhou e curtas-metragens como "Lola & Mami" sobre a masculinidade tóxica, é correalizador deste filme de 34 minutos, cuja ação decorre nas ruas do Cazenga (Luanda), ao som de batidas urbanas misturadas com quissanje, instrimento musical angolano.
Em declarações à Lusa, Isis Hembe destacou que o filme mostra um mundo onde a diversidade "é tida em conta e é tida como um recurso a ser aproveitado", espelhando Angola que é também composta por várias "culturas, sensibilidades e corpos diferentes", fruto da sua história.
Tal como Isis Hembe, que usa uma cadeira de rodas, a maior parte do elenco do filme é composto por pessoas com diferentes capacidades, como o dançarino urbano Scott Suave, que perdeu um braço e uma perna num acidente, mas continua a dançar.
Hembe teve poliomielite em criança, mas não pode receber o tratamento adequado por causa da guerra civil de Angola, que devastou o país por quase três décadas, entre 1975 e 2002.
Isis Hembe sublinha que a diferença "deve ser tida em conta na construção deste espaço coletivo a que chamamos Angola" e espera que o filme seja também visto como "um projeto político de inclusão da alteridade", a que a sociedade responda de forma positiva.
O filme é falado em várias línguas, incluindo diálogos em língua gestual angolana, principal meio de comunicação de dois dos atores (Celeste Wacalenda e Domingos Malebo), e uma versão da popular canção Umbi-umbi, cantada em Umbundu, a língua autóctone mais falada em Angola.
Após a estreia mundial em 18 de maio, no Maysles Cinema de Harlem, no Festival de Cinema Africano de Nova Iorque, com uma sessão de perguntas e respostas com o próprio Isis Hembe, o filme chegará a Portugal a 07 de junho no FEStin, o festival itinerante de cinema em língua portuguesa que se realiza em Lisboa e exibe produções de nove países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A estreia angolana está marcada para 20 de junho numa sessão gratuita no Cine São Paulo, um dos maiores cinemas da cidade de Luanda.
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