A situação pouco usual deve-se a um "acordo estratégico" assinado pela liderança do Partido Liberta Povo Aileba (PLPA) e a Aliança Nacional Democrata (AND), força política liderada por Jorge Teme, que justificou assim, à Lusa, o facto de liderar a lista.

"O PLPA pensa que eu tenho peso político em frente do público, reconhecem ainda a experiência e a minha base de apoio mais forte que é em Oecusse", explicou Teme, em entrevista à Lusa.

"A AND ainda não esta registada, mas formalizamos este acordo estratégico, uma coligação tática, semelhante à que aconteceu em 2007 entre o CNRT e a Frente Mudança (FM) que também ainda não estava registada e dava apoio", referiu.

Trata-se, notou, de "mobilizar e juntar forças políticas", aproveitando a estrutura que o AND começou a montar a partir de 2020, que já chegou a todo o país e que, vinca, dá apoio a todas as ações de campanha do PLPA.

"Este acordo estratégico foi para a eleição de 2023 e dura até 2028, caso consigamos passar a barreira de eleição [4% dos votos válidos]. Se não passarmos a barreira, depois da eleição o acordo termina e nós continuaremos o registo da AND, que quero que seja um partido alternativo para a transição geracional", explicou.

Membro da Fretilin até 2011, quando saiu para se juntar à Frente Mudança (FM), Jorge Teme foi deputado da Assembleia Constituinte (em 2001), e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros no segundo Governo de transição durante a administração transitória da ONU e no primeiro Governo constitucional.

Hoje com 59 anos, diz que cabe à sua geração dar continuidade ao trabalho dos mais velhos, figuras como José Ramos-Horta, Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, assumindo as rédeas do país para o futuro.

"Posso dizer que sou um dos que vai estar aqui para garantir o país, para enfrentar os desafios do envolvimento, para manter as relações com os nossos países amigos e vizinhos, e com Portugal, um país irmão", notou.

Teme, que viveu e estudou na Nova Zelândia na reta final da ocupação indonésia, onde completou um mestrado em Políticas do Desenvolvimento, foi o primeiro embaixador de Timor-Leste na Austrália, entre 2003 e 2005.

Natural de Oecusse, foi nomeado em 2007 secretário de Estado para esta região do país, durante o 4.º Governo constitucional, liderado por Xanana Gusmão, assumindo funções de secretário-geral da FM.

"Estou otimista de passarmos a barreira. Não sei muito sobre o PLPA, sei que nunca passou a barreira, mas na minha experiência, para passar a barreira temos que trabalhar, fazer esforços e ter base de apoio político. Sem base de apoio, sem estrutura não. Creio que a estrutura do AND pode ajudar o PLPA a passar", afirmou.

Os dois partidos têm "um único programa", focado em áreas como infraestruturas básicas, agricultura, educação, defendendo neste último ano um ajuste ao calendário letivo, para o adaptar à região (com exames nacionais a meio do ano em vez do fim do ano).

Mudanças no currículo escolar, "que deve ser mais orientado para a prática, ajudando assim a fortalecer as capacidades dos estudantes", o dirigente defende ainda o reforço do ensino do tétum e do português, "que abre uma janela para o mundo".

O partido aposta no desenvolvimento da "economia criativa", procurando aumentar as opções para melhorar os rendimentos da população, por exemplo, "incentivando os agricultores para que saiam da agricultura de subsistência para uma lucrativa".

"Isto pode incluir selecionar agricultores que merecem ter apoios adicionais e incentivos do Governo, com acompanhamento. Assim como empresas, micro, pequenas e médias, precisam de incentivos do Governo para poder crescer. E acompanhamento para eles poderem compreender melhor como funcionam os mercados, como funciona o comércio e aumentar", disse.

Questionado sobre a situação do país, Teme diz que 20 anos depois da restauração da independência, não se pode negar que tenha havido mudanças, mas vinca que o problema é que não foram viradas "para as prioridades que podem melhorar o rendimento do povo".

"O povo não beneficiou muito, infraestruturas básicas não melhoraram muito. O emprego disponível é muito reduzido porque investimento do governo tem sido em projetos grandes que não têm retorno económico, como os aeroportos de Oecusse e Suai ou a autoestrada de Suai", afirmou.

Por isso, defende, devem ser alocados fundos para o setor produtivo nacional, criando empregos e desenvolvendo o potencial existente.

Esta é a primeira eleição em que o PLPA concorre sozinho, tendo em 2012 coligado com o PDRT, numa aliança que obteve apenas 4.011 votos (0,85%), a 13ª força política entre 21 concorrentes.

Em 2017 fez parte de outra coligação, ainda mais ampla, o BUP (que foi a 11ª mais votada entre 21) com 4.999 votos (0,88%) e nas antecipadas de 2018 integrou a coligação MDN que foi a segunda menos votada entre 8 forças candidatas, com 4.494 votos (0,72%).

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