Depois do anúncio de Donald Trump sobre o acordo comercial fechado entre os Estados Unidos (EUA) e a União Europeia (UE), as reações começam a surgir com muitos países a demonstrarem descontentamento pelo "desequilibrado" entendimento conseguido por Von der Leyen.

O primeiro-ministro, Viktor Orbán, classificou-o como pior do que aquele que foi conseguido pelo Reino Unido em maio, com tarifas de 10% face às de 15% alcançadas agora pela presidente da Comissão Europeia.

Numa transmissão do podcast "Hora dos Guerreiros" feita esta manhã no Facebook, Orbán afirmou que "isto não é um acordo".

"Donald Trump comeu Von der Leyen ao pequeno-almoço, foi isto que aconteceu e que suspeitávamos que aconteceria ", sublinhou.

O líder húngaro foi mais longe, classificando o presidente dos EUA como "um peso pesado quando se trata de negociações" ao passo que Von der Leyen é "um peso-pluma".

A transmissão de Órban sobre o acordo foi moderada pelo porta-voz do partido no poder na Hungria.

França diz que é "desequilibrado" e aliança resigna "povos livres" à "submissão"

O ministro francês do Comércio Externo, Laurent Saint-Martin, disse esta segunda-feira que o acordo é desequilibrado e que o bloco europeu deve afirmar-se como uma potência económica.

"Eu não quero que fiquemos pelo que aconteceu ontem [domingo]", disse o ministro francês à France Inter considerando que o acordo com os Estados Unidos é " desequilibrado ".

Já o primeiro ministro francês, François Bayrou, diz que este “é um dia sombrio em que uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar os seus valores comuns e defender os seus interesses comuns, se resigna à submissão.”

Primeira-ministra italiana diz que "há uma série de elementos que faltam"

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou que o acordo comercial é sustentável, mas frisou que vai ser necessário analisar os detalhes.

Meloni disse, à margem da cimeira das Nações Unidos sobre sistemas alimentares que decorre esta segunda-feira na Etiópia, que o agravamento das relações comerciais entre a Europa e os Estados Unidos teria consequências imprevisíveis e devastadoras.

"Considero que é p ositivo haver um acordo, mas não sei os detalhes pelo que não posso julgar da melhor forma", frisou.

Para a chefe do Governo de Roma é preciso estudar os detalhes do acordo, porque, sublinhou, o documento assinado no domingo é um acordo-quadro que juridicamente não é vinculativo.

" Há uma série de elementos que faltam , assim como não sei a que se refere quando se fala de investimentos sobre a compra de gás", declarou Meloni.

O acordo comercial anunciado este domingo em Turnberry, na Escócia, pelo chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prevê a taxa de 15% sobre produtos europeus.

O acordo visa o compromisso europeu sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares e o investimento de 600 mil milhões adicionais.

Ex-presidente russo diz que acordo é humilhante e "anti-russo"

O ex-presidente da Rússia Dmitri Medvedev considerou o acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos como humilhante para os europeus e "anti-russo", por proibir transações com Moscovo.

Nas críticas à União Europeia, Medvedev referiu-se esta segunda-feira aos funcionários de Bruxelas e à presidente da Comissão Europeia.

"Já é hora de [os cidadãos europeus] invadirem Bruxelas e pendurarem todos os funcionários, incluindo, é claro, a 'velha raivosa' Ursula [Von der Leyen] nas hastes das bandeiras ", declarou, segundo a agência de notícias espanhola EFE.

Medvedev disse, num texto publicado nas redes sociais, que o novo acordo comercial é "completamente humilhante" para os europeus porque, afirmou, beneficia apenas os Estados Unidos, eliminando a proteção do mercado europeu ao retirar as tarifas sobre os produtos norte-americanos.

Por outro lado, o ex-presidente russo elogiou a "firmeza" do líder norte-americano ao promover os interesses económicos dos Estados Unidos, "apesar das contradições" entre as declarações e as ações de Donald Trump.

Dmitri Medvedev, terceiro presidente da Federação Russa (2008-2012), também definiu o acordo como "claramente anti-russo" ao proibir a União Europeia de comprar petróleo e gás à Rússia.

Primeiro-ministro espanhol "sem nenhum entusiasmo"

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez disse valorizar o esforço construtivo da Comissão Europeia para alcançar um acordo com os EUA.

Apesar de "apoiar o acordo comercial", Sánchez garante que o faz "sem nenhum entusiasmo".

O outro lado da moeda: as críticas positivas

O chanceler alemão Friedrich Merz reagiu de forma positiva comparativamente com os demais líderes. Para Merz, "este acordo conseguiu evitar um conflito comercial que teria atingido duramente a economia alemã orientada para a exportação".

"Isto aplica-se em particular à indústria automóvel , onde as atuais tarifas de 27,5% serão reduzidas quase para metade, para 15%", sublicanda focando no lado positivo deste entendimento.

Também o primeiro-ministro da Finlândia, Petteri Orpo, saudou o acordo que "traz a tão necessária previsibilidade à economia global e às empresas finlandesas".

"O trabalho deve continuar para desmantelar as barreiras comerciais. Apenas o comércio transatlântico livre beneficia mais ambos os lados ", declarou Orpo.

Benjamin Dousa, ministro do Comércio sueco, afirma que, apesar de "este acordo não enriquecer ninguém", pode ser "a alternativa menos má".

"O que parece ser positivo para a Suécia, com base numa avaliação inicial, é que o acordo cria alguma previsibilidade ", reflete.

Também Simon Harris, ministro do Comércio da Irlanda, aborda o lado positivo da previsibilidade que o acordo garante.

"Um acordo proporciona uma medida de certeza tão necessária para as empresas irlandesas, europeias e americanas que, juntas, representam a relação comercial mais integrada do mundo", afiança.

Para o ministro irlandês, "é importante que tenhamos mais certeza sobre os fundamentos da relação comercial UE-EUA, que é essencial para o emprego, o crescimento e o investimento".

Com Lusa