
Na madrugada de 1 de setembro de 1985, a cerca de 3800 metros de profundidade no Atlântico Norte, imagens desfocadas de um cilindro metálico surgiram nos ecrãs do navio de investigação "Knorr", que vasculhava o fundo do oceano. Eram os primeiros sinais de que, ao fim de mais de sete décadas, os destroços do Titanic tinham finalmente sido encontrados.
O Titanic foi, na época, o maior e mais luxuoso navio de passageiros do mundo, mas afundou-se na viagem que marcou a sua inauguração após colidir com um icebergue, em abril de 1912, provocando mais de 1500 mortos.
A equipa liderada pelo oceanógrafo norte-americano Robert Ballard, do Woods Hole Oceanographic Institution, percebeu rapidamente que se tratava de uma das caldeiras do navio. “Assim que vi a imagem, soube que era o Titanic. A partir daí instalou-se o caos”, recorda Ballard em entrevista à CNN, por ocasião do 40.º aniversário da descoberta.
A expedição, porém, escondia um segredo: o verdadeiro objetivo era localizar e inspecionar dois submarinos nucleares norte-americanos afundados nos anos de 1960. A busca pelo Titanic funcionou como cobertura para uma missão da Marinha dos Estados Unidos em plena Guerra Fria.
A descoberta foi possível graças ao "Argo", um sistema de imagem submarina apoiado pelo Pentágono, que permitiu transmitir vídeo em direto do fundo do mar. A estratégia de Ballard - que convenceu a Marinha a dedicar algum tempo a procurar de facto o Titanic - foi procurar não o casco do navio, mas o campo de destroços deixado pelo naufrágio, que se estendia por quilómetros no fundo oceânico.
O impacto da descoberta foi imediato: a obsessão pública pelo Titanic intensificou-se, alimentou a criação de documentários, museus e até o filme de James Cameron (de 1997, com os então jovens Kate Winslet e Leonardo DiCaprio nos papéis principais), que se tornou um dos maiores sucessos de bilheteira da história.
Em junho de 2023, nova tragédia no memo local: uma expedição turística aos destroços terminou em tragédia quando o submersível Titan implodiu durante a descida ao navio. A bordo seguiam cinco pessoas, incluindo o CEO da OceanGate, Stockton Rush, todas mortas no acidente. A posterior investigação expôs falhas de segurança, provocou críticas à empresa e reacendeu o debate sobre turismo em zonas de risco.
Para a ciência, significou uma revolução. As tecnologias usadas na missão da Marinha abriram portas à exploração profunda do oceano e ajudaram a reescrever capítulos fundamentais, desde a teoria das placas tectónicas até à vida em fontes hidrotermais.
Ballard, hoje com 83 anos, não parou de explorar. Em julho regressou de uma expedição de três semanas no oceano Pacífico, onde cartografou o que restava de algumas batalhas navais da Segunda Guerra Mundial.
“Há sempre algo por descobrir”, garante o oceanógrafo, que já encontrou também o navio Bismarck (batizado em homenagem ao chanceler Otto von Bismarck, um dos responsáveis pela unificação da Alemanha em 1871) e o porta-aviões USS Yorktown e o barco torpedeiro PT-109, ambos da Marinha dos Estados Unidos. Este último fora comandado por John F. Kennedy na Segunda Guerra Mundial e afundado em 1943 - os esforços do futuro Presidente para resgatar a tripulação trouxeram-lhe então grande popularidade entre os americanos.
Quarenta anos após o momento em que o mundo voltou a ver o Titanic, Ballard continua convencido de que os maiores segredos dos oceanos ainda aguardam pela próxima geração de exploradores.
Escrito por Nadja Pereira e editado por João Pedro Barros